Quando o Senhor reconduzia os
cativos de Sião, estávamos como sonhando. Em nossa boca só havia expressões de
alegria, e em nossos lábios canto de triunfo. Entre os pagãos se dizia: ‘O
Senhor fez por eles grandes coisas’. Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas;
ficamos exultantes de alegria! Mudai, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes
nos desertos do sul. Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com
alegria” Sl 125 (124).
Durante toda a história dos
reis, Israel e Judá tiveram que lutar contra outros povos para manter a própria
terra. Em 722, porém, os assírios invadiram o reino do Norte e destruíram a
capital, Samaria. Acaba, assim, o reino do Norte, e os hebreus que habitavam o
reino do Norte são deportados para a Assíria.
Em
586, 150 depois, é a vez do reino do Sul. A Babilônia havia se tornado um forte
império e tinha conquistado a Assíria. Em dois duros golpes conquista a capital
do reino do Sul, Jerusalém, e põe fim ao reino. Boa parte da população é levada
para a Babilônia, onde fica por 50 anos. É o tempo conhecido como “exílio”.
Em
539 a Pérsia vence a Babilônia, e o rei persa Ciro permite que o povo judeu
volte à sua terra. Começa então a reconstrução do templo de Jerusalém, e se
renova a esperança de um novo tempo na vida do povo.
A
esperança é uma virtude do Espírito Santo. Ela não decepciona (Cf. Rm 5,5). O
que realmente esperamos? Vida nova em Cristo Jesus, como diz o apóstolo “aquele
que está em Cristo é uma nova criatura, passou-se o que era velho eis que
tudo se fez novo” (2 Cor 5,17). Não será essa a maior obra que
deveríamos esperar? Não somos mais os mesmos quando o Espírito Santo desce
sobre nós, e isso cria uma realidade nova no lugar em que vivemos. Posso dizer
que o lugar que vivemos também vai mudando graças a transformação que o
Espírito Santo vai realizando em nós.
O
exílio criou no povo um sentimento de “vale de lágrimas”, de abandono, solidão
e tristeza. O Edito de Ciro fez a alegria se renovar. O povo da aliança viu que
as lágrimas que semearam produziram uma colheita cheia de alegria. O povo redescobriu um novo sentido para a vida
fazendo uma releitura dos principais acontecimentos da sua história
associando-os a um novo ritmo celebrativo, porque crer, que Deus caminha na
história e nela se dá a conhecer.
Quando falamos de ritmos, nos lembramos logo do tempo. Sabemos que o
tempo é recortado: dias, meses e anos.
Com isso sentimos o ritmo que nos impõe os recomeços. Se você está lendo esse
texto é porque começou ou terminou mais um dia. Cada dia que começa vem
acompanhado de um novo respiro de vida. É um novo milagre que surge em cada
manhã. Não importa se faz sol ou chuva, se é verão ou inverno, abre-se nesse
instante um caminho cheio de possibilidades.
Entre
o começo e o fim do dia existe um intervalo marcado pelas escolhas que fazemos.
Desde as simples as mais complexas, vemos uma seta que aponta sempre para o
fim. Não temos como fugir disso, tudo caminha para o fim. Alguns nessa hora
podem está cantando o samba “deixa a vida me levar, vida leva eu” sem qualquer
preocupação com o amanhã, apenas de olho no hoje. Porém, eu preciso avisar que
apesar de tudo tender para o fim, o importante é como vamos chegar lá.
Estaremos felizes com o que fizemos? que rastro teremos deixado para trás? Quem
vem depois poderá seguir esses rastros?
Quem
sabe algumas pessoas estejam acordando nesse momento a espera de um resultado
de exame, de uma prova ou seleção. Outros estejam se preparando para o
casamento ou iniciando suas tão esperadas férias. De uma forma ou de outra,
como começamos o dia de hoje depende de como terminamos o dia de ontem. Como
vivemos o dia de hoje, vai ser importante para dizer como vamos viver o dia de
amanhã.
Nesse
sentido, dias, meses e anos não são apenas uma fita métrica para indicar que o
tempo está passando. Eles são indicadores de como estamos vivendo. Em um outro
lugar, o salmista reza expressando o seu desejo de aprender “a contar os dias”
(Cf. Sl 90,12). Ele quer a sabedoria de quem aprendeu a viver. A vida passa e
quando nos damos conta, já estamos contando histórias de um tempo que passou.
Nos transformamos em um baú das memorias que guardamos. Assim, vão surgindo
lições que nos ajudam a cruzar o tempo no ritmo da ação de festa.
O mesmo salmista deseja sentir o tempo que passa.
Por isso, podemos dizer que o mais importante não é quanto tempo vivemos, se
20, 40, 60 ou 100 anos, e sim como chegamos. A força da nossa vida vai ser
medida pelo sentido que torna eterno o tempo. Contamos histórias, celebramos
memórias, para transformar o fim em recomeços.
O jovem Filho de Maria viveu pouco, muito pouco,
mas ainda hoje se fala dele. Não são poucos que vivem n’Ele e por Ele. Contasse
sua história em todos os cantos, seguem seu caminho, testemunham sua força. A
forma como ele viveu cruzou o tempo, deu novo sentido ao viver de muitos. Ele
vive!
Sua vida vai ser medida pela forma como você vive.
Por isso, disse no começo, que cada dia se abre como uma nova possibilidade de
fazer e refazer, começar e recomeçar. O dia se fecha como uma chance de
recordar como se chegou até aqui. Nesse momento devemos avaliar. E com isso
sentir o dia. Noite e dia, e tudo então começa de novo. Como você está hoje?
Um comentário:
Enquanto o mundo vai nos "desgastando", nos "sugando", Deus vai nos resgatando, recompondo e renovando sempre.
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