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quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Todo dia é dia de recomeço

 

 

Quando o Senhor reconduzia os cativos de Sião, estávamos como sonhando. Em nossa boca só havia expressões de alegria, e em nossos lábios canto de triunfo. Entre os pagãos se dizia: ‘O Senhor fez por eles grandes coisas’. Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas; ficamos exultantes de alegria! Mudai, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes nos desertos do sul. Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria” Sl 125 (124).

 

Durante toda a história dos reis, Israel e Judá tiveram que lutar contra outros povos para manter a própria terra. Em 722, porém, os assírios invadiram o reino do Norte e destruíram a capital, Samaria. Acaba, assim, o reino do Norte, e os hebreus que habitavam o reino do Norte são deportados para a Assíria.

           Em 586, 150 depois, é a vez do reino do Sul. A Babilônia havia se tornado um forte império e tinha conquistado a Assíria. Em dois duros golpes conquista a capital do reino do Sul, Jerusalém, e põe fim ao reino. Boa parte da população é levada para a Babilônia, onde fica por 50 anos. É o tempo conhecido como “exílio”.

           Em 539 a Pérsia vence a Babilônia, e o rei persa Ciro permite que o povo judeu volte à sua terra. Começa então a reconstrução do templo de Jerusalém, e se renova a esperança de um novo tempo na vida do povo.

A esperança é uma virtude do Espírito Santo. Ela não decepciona (Cf. Rm 5,5). O que realmente esperamos? Vida nova em Cristo Jesus, como diz o apóstolo “aquele que está em Cristo é uma nova criatura, passou-se  o que era velho eis que tudo se fez novo” (2 Cor 5,17). Não será essa a maior obra que deveríamos esperar? Não somos mais os mesmos quando o Espírito Santo desce sobre nós, e isso cria uma realidade nova no lugar em que vivemos. Posso dizer que o lugar que vivemos também vai mudando graças a transformação que o Espírito Santo vai realizando em nós.

O exílio criou no povo um sentimento de “vale de lágrimas”, de abandono, solidão e tristeza. O Edito de Ciro fez a alegria se renovar. O povo da aliança viu que as lágrimas que semearam produziram uma colheita cheia de alegria. O povo redescobriu um novo sentido para a vida fazendo uma releitura dos principais acontecimentos da sua história associando-os a um novo ritmo celebrativo, porque crer, que Deus caminha na história e nela se dá a conhecer.

Quando falamos de ritmos, nos lembramos logo do tempo. Sabemos que o tempo é recortado: dias, meses e anos. Com isso sentimos o ritmo que nos impõe os recomeços. Se você está lendo esse texto é porque começou ou terminou mais um dia. Cada dia que começa vem acompanhado de um novo respiro de vida. É um novo milagre que surge em cada manhã. Não importa se faz sol ou chuva, se é verão ou inverno, abre-se nesse instante um caminho cheio de possibilidades.

Entre o começo e o fim do dia existe um intervalo marcado pelas escolhas que fazemos. Desde as simples as mais complexas, vemos uma seta que aponta sempre para o fim. Não temos como fugir disso, tudo caminha para o fim. Alguns nessa hora podem está cantando o samba “deixa a vida me levar, vida leva eu” sem qualquer preocupação com o amanhã, apenas de olho no hoje. Porém, eu preciso avisar que apesar de tudo tender para o fim, o importante é como vamos chegar lá. Estaremos felizes com o que fizemos? que rastro teremos deixado para trás? Quem vem depois poderá seguir esses rastros?

Quem sabe algumas pessoas estejam acordando nesse momento a espera de um resultado de exame, de uma prova ou seleção. Outros estejam se preparando para o casamento ou iniciando suas tão esperadas férias. De uma forma ou de outra, como começamos o dia de hoje depende de como terminamos o dia de ontem. Como vivemos o dia de hoje, vai ser importante para dizer como vamos viver o dia de amanhã.

Nesse sentido, dias, meses e anos não são apenas uma fita métrica para indicar que o tempo está passando. Eles são indicadores de como estamos vivendo. Em um outro lugar, o salmista reza expressando o seu desejo de aprender “a contar os dias” (Cf. Sl 90,12). Ele quer a sabedoria de quem aprendeu a viver. A vida passa e quando nos damos conta, já estamos contando histórias de um tempo que passou. Nos transformamos em um baú das memorias que guardamos. Assim, vão surgindo lições que nos ajudam a cruzar o tempo no ritmo da ação de festa.

O mesmo salmista deseja sentir o tempo que passa. Por isso, podemos dizer que o mais importante não é quanto tempo vivemos, se 20, 40, 60 ou 100 anos, e sim como chegamos. A força da nossa vida vai ser medida pelo sentido que torna eterno o tempo. Contamos histórias, celebramos memórias, para transformar o fim em recomeços.

O jovem Filho de Maria viveu pouco, muito pouco, mas ainda hoje se fala dele. Não são poucos que vivem n’Ele e por Ele. Contasse sua história em todos os cantos, seguem seu caminho, testemunham sua força. A forma como ele viveu cruzou o tempo, deu novo sentido ao viver de muitos. Ele vive!

Sua vida vai ser medida pela forma como você vive. Por isso, disse no começo, que cada dia se abre como uma nova possibilidade de fazer e refazer, começar e recomeçar. O dia se fecha como uma chance de recordar como se chegou até aqui. Nesse momento devemos avaliar. E com isso sentir o dia. Noite e dia, e tudo então começa de novo. Como você está hoje?

 

 

Um comentário:

Maryluce disse...

Enquanto o mundo vai nos "desgastando", nos "sugando", Deus vai nos resgatando, recompondo e renovando sempre.