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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Se admire, espante e se encante


Levanto os olhos para vós, que habitais nos céus. Como os olhos dos servos estão fixos nas mãos de seus senhores, como os olhos das servas estão fixos nas mãos de suas senhoras, assim nossos olhos estão voltados para o Senhor, nosso Deus, esperando que ele tenha piedade de nós" Sl 123 (122), 1-2.

“Levantar os olhos” é contemplar. Contemplar é olhar, é vê. É se deslumbrar, extasiar, admirar, encantar, espantar.

Um artista depois que termina sua obra de arte, fica fascinado. Vamos a um lugar e apreciamos suas belezas naturais. Os pais tomam o seu filho recém-nascido nos braços e não param de olhar, cheios de admiração. Ficamos deslumbrados com uma dança, apresentação musical ou teatral e muitas vezes não conseguimos esconder nosso encanto. Ficamos espantados com notícias de violências que acontecem com conhecidos e desconhecidos, homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos. Andamos por tantos lugares e observamos pessoas e objetos em praças, shoppings, fábricas, indústria, comércio. praias, etc. tudo isso é um exercício de contemplação.   

Em todos os lugares encontramos imagens que comunicam alguma mensagem: placas, outdoors, vestuário, propagandas, anúncios, vitrines, monumentos… Os shoppings centers se transformaram nos modernos santuários onde muitos vagueiam atraídos pelas imagens que estão em todo lugar. Cada transeunte passa a ter o seu valor monetário, transformando-se em um potencial consumidor, por isso mesmo, a importância da propaganda. Outra coisa que não podemos deixar de dizer é que a antiga influência grega do culto ao corpo foi redescoberta fazendo com que nos preocupassemos novamente com a aparência. Isso foi potencializado através das redes sociais.

Nesse contexto, a reeducação do nosso olhar, marcada pela contemplação de Cristo, abre os nossos sentidos para que descubramos o que realmente importa. 

Em um dos seus discursos Jesus diz, “quando for elevado ao céu, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Podemos contemplar o mundo a partir do mistério da cruz. Dali o “Divino Mestre” olha para o Pai e diz, “está tudo consumado”. O quadro da nossa salvação havia se desenhado com os pincéis que passaram pelas mãos de pais, profetas, sacerdotes e reis, mas, neste momento derradeiro é o próprio Filho que pinta com as cores vivas do seu sangue que jorra do seu peito transpassado de amor. Sim, “está tudo consumado”, o amor emoldura esse belo quadro. É para esse quadro que devemos olhar. 

Do peito transpassado de Jesus nasceram muitas devoções que perpetuam essa belo quadro. Deus quer nos recordar continuamente o seu amor, por isso, inspirou para os nosso tempos formas de piedade popular que fazem ecoar esse mistério.

Por exemplo, no 1º domingo de Páscoa celebramos a festa da Divina Misericórdia. São João Paulo II em sua Exortação Dives in Misericordia diz que a misericórdia é um dos principais temas da pregação de Jesus: “como de costume, também neste ponto ensina antes de mais «em parábolas», porque exprimem melhor a própria essência das coisas. Basta recordar a parábola do filho pródigo, ou a parábola do bom samaritano, ou ainda, por contraste, a do servo sem compaixão. Numerosas são ainda as passagens do ensinamento de Cristo que manifestam o amor e misericórdia sob um aspecto sempre novo. Basta ter diante dos olhos o bom pastor que vai à busca da ovelha tresmalhada, ou a mulher que varre a casa à procura da dracma perdida. O Evangelista que trata de modo particular estes temas do ensino de Cristo é S. Lucas, cujo Evangelho mereceu ser chamado ‘o Evangelho da misericórdia’”.

Foi São João Paulo II, o papa que canonizou Santa Faustina, e instituiu essa Festa na Igreja. Na canonização da apóstola da misericórdia, o então Papa disse: “Em todo o mundo, o segundo domingo de Páscoa receberá o nome de Domingo da Divina Misericórdia. Um convite para o mundo enfrentar, com confiança na benevolência divina, as dificuldades e as provas que esperam o gênero humano nos anos que virão”.

Dessa devoção aprendemos a rezar: “oh sangue e água que jorrastes do coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós”. Hoje milhares de pessoas espalhados pelo mundo rezam o terço da misericórdia contemplado o quadro da Divina Misericórdia que Deus pediu que Santa Faustina pintasse.

Esse é o caminho para a reeducação do nosso olhar. 


Um comentário:

Maryluce disse...

Que Deus me conceda a graça de me encantar, sempre, com a beleza da cruz.