Quero entrar nessa "nuvem de testemunhas"

 

            “Foi ela (a fé) que fez a glória dos nossos antepassados” (Hb 11,2)

Do ponto de vista bíblico, toda a experiência de subida e descida é um caminho que se faz na direção de Deus e do próximo. Desse modo a Carta aos Hebreus nos propõe um itinerário a partir do conhecimento que “uma nuvem de testemunhas” fez de Deus ao longo da sua vida. De Abel a Raab, “sem contar a história de Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas” (Hb 11,32), todos deram um valioso testemunho e sua caminhada deixaram rastros por onde podemos ir. Eles abriram trilhas que nos ajudam a começar nossa trajetória.

No Missal Romano, na Oração Eucarística I, rezamos para permanecer em comunhão com aqueles que estão na Assembleia dos eleitos, na glória junto de Deus, a quem Deus conheceu a fidelidade. Eles aumentam o coro dessa “nuvem de testemunhas”: Pedro e Paulo, André...Lino, Cleto, Clemente, Cipriano, Águeda e Luzia... e tantos outros santos e santas cujo os passos podemos seguir, pois nos levam seguramente “ao autor e consumador de nossa fé, Jesus” (Hb 12,1b). Eles ouviram ressoar no coração a voz que chama sem cessar e responderam “sim, eis-me aqui” (Is 6,8), sentiram-se “seduzidos” (Jr 20,7) por um amor “mais forte do que a morte (...) que nem mesmo as águas torrenciais poderão apagar ou afogar” (Cf. Ct 8,6-7).

Responder ao chamado de Deus é fácil? Claro que não! Cada pessoa que responde ao chamado de Deus precisa aprender a lidar com as dificuldades que inevitavelmente surgem ao longo da caminhada, por isso essa mesma voz nos diz repetidamente: “não tenhas medo... eu estou contigo” (Jr 1, 8.19), “não temas, pois estou contigo” (Is 41,10), “isto é uma ordem: se firme e corajoso, não te atemorizes, não tenhais medo, porque o Senhor está contigo” (Js 1,9). Quando as dúvidas, as perseguições, as contrariedades nos cercam devemos confiar plenamente naquele que nos chamou a continuar decididamente.

Esses homens e mulheres, santos e santos são um exemplo para nós que queremos fazer esse caminho na direção de Deus. Eles nos provaram que a quem Deus se confia, jamais ficará decepcionado, jamais se sentirá sozinho ou abandonado.

Uma trilha é um caminho feito pelos pés de quem muito passou por aquele lugar, de idas e vindas, repetidas, incansáveis e exaustivas, mas que foram ao longo do tempo se tornando mais fáceis por já se conhecer o lugar. Somos peregrinos, nossa vida é andar, às vezes com calma ou apressadamente, as vezes sabendo por onde ir e, outras vezes não, cheios de coragem ou medo. Uma vida que o salmista diz que “é semelhante ao sopro da brisa...como a sombra que passa” (Sl 143,4), e que por isso busca um sentido para essa peregrinação terrestre. Seria fama, prestígio, poder? Status, riquezas ou prazer? A verdade que o homem precisa descobrir é que só Deus pode satisfazer esse seu desejo de sentido, porque “O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso” (CIC 27).

Por ter descoberto esse sentido, caminho sabendo o que me espera ao final desse peregrinar. Por isso, continue com alegria sua caminhada com um pouco de poesia nos lábios:

“Fui formado no ventre de minha mãe, dela sai inacabado, pois o divino mistério do criador quis que eu viesse a ser, o eu das entranhas do amor gerador, dos encontros e desencontros, olhares, cheiros, amores... Das histórias construídas sobre as conquistas e vitórias, fracassos e derrotas de uma pessoa a caminho do lugar desconhecido onde serei o que sou, sem medo do que me tornei”.