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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Tarde te amei

 

Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

1. Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.

2. Tu estavas dentro de mim e eu fora… “Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior”. Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo…

3. Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez… “Fizeste-me entrar em mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava”. Em meio à luta, recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse: “Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós, com toda a nossa ciência, nos debatemos em nossa carne”. Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha… Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.

4. Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.

5. Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus… de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus… de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus… a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e me dei conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.

6. Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. “Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo”. Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!

7. E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!…

8. Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Todo dia é dia de recomeço

 

 

Quando o Senhor reconduzia os cativos de Sião, estávamos como sonhando. Em nossa boca só havia expressões de alegria, e em nossos lábios canto de triunfo. Entre os pagãos se dizia: ‘O Senhor fez por eles grandes coisas’. Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas; ficamos exultantes de alegria! Mudai, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes nos desertos do sul. Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria” Sl 125 (124).

 

Durante toda a história dos reis, Israel e Judá tiveram que lutar contra outros povos para manter a própria terra. Em 722, porém, os assírios invadiram o reino do Norte e destruíram a capital, Samaria. Acaba, assim, o reino do Norte, e os hebreus que habitavam o reino do Norte são deportados para a Assíria.

           Em 586, 150 depois, é a vez do reino do Sul. A Babilônia havia se tornado um forte império e tinha conquistado a Assíria. Em dois duros golpes conquista a capital do reino do Sul, Jerusalém, e põe fim ao reino. Boa parte da população é levada para a Babilônia, onde fica por 50 anos. É o tempo conhecido como “exílio”.

           Em 539 a Pérsia vence a Babilônia, e o rei persa Ciro permite que o povo judeu volte à sua terra. Começa então a reconstrução do templo de Jerusalém, e se renova a esperança de um novo tempo na vida do povo.

A esperança é uma virtude do Espírito Santo. Ela não decepciona (Cf. Rm 5,5). O que realmente esperamos? Vida nova em Cristo Jesus, como diz o apóstolo “aquele que está em Cristo é uma nova criatura, passou-se  o que era velho eis que tudo se fez novo” (2 Cor 5,17). Não será essa a maior obra que deveríamos esperar? Não somos mais os mesmos quando o Espírito Santo desce sobre nós, e isso cria uma realidade nova no lugar em que vivemos. Posso dizer que o lugar que vivemos também vai mudando graças a transformação que o Espírito Santo vai realizando em nós.

O exílio criou no povo um sentimento de “vale de lágrimas”, de abandono, solidão e tristeza. O Edito de Ciro fez a alegria se renovar. O povo da aliança viu que as lágrimas que semearam produziram uma colheita cheia de alegria. O povo redescobriu um novo sentido para a vida fazendo uma releitura dos principais acontecimentos da sua história associando-os a um novo ritmo celebrativo, porque crer, que Deus caminha na história e nela se dá a conhecer.

Quando falamos de ritmos, nos lembramos logo do tempo. Sabemos que o tempo é recortado: dias, meses e anos. Com isso sentimos o ritmo que nos impõe os recomeços. Se você está lendo esse texto é porque começou ou terminou mais um dia. Cada dia que começa vem acompanhado de um novo respiro de vida. É um novo milagre que surge em cada manhã. Não importa se faz sol ou chuva, se é verão ou inverno, abre-se nesse instante um caminho cheio de possibilidades.

Entre o começo e o fim do dia existe um intervalo marcado pelas escolhas que fazemos. Desde as simples as mais complexas, vemos uma seta que aponta sempre para o fim. Não temos como fugir disso, tudo caminha para o fim. Alguns nessa hora podem está cantando o samba “deixa a vida me levar, vida leva eu” sem qualquer preocupação com o amanhã, apenas de olho no hoje. Porém, eu preciso avisar que apesar de tudo tender para o fim, o importante é como vamos chegar lá. Estaremos felizes com o que fizemos? que rastro teremos deixado para trás? Quem vem depois poderá seguir esses rastros?

Quem sabe algumas pessoas estejam acordando nesse momento a espera de um resultado de exame, de uma prova ou seleção. Outros estejam se preparando para o casamento ou iniciando suas tão esperadas férias. De uma forma ou de outra, como começamos o dia de hoje depende de como terminamos o dia de ontem. Como vivemos o dia de hoje, vai ser importante para dizer como vamos viver o dia de amanhã.

Nesse sentido, dias, meses e anos não são apenas uma fita métrica para indicar que o tempo está passando. Eles são indicadores de como estamos vivendo. Em um outro lugar, o salmista reza expressando o seu desejo de aprender “a contar os dias” (Cf. Sl 90,12). Ele quer a sabedoria de quem aprendeu a viver. A vida passa e quando nos damos conta, já estamos contando histórias de um tempo que passou. Nos transformamos em um baú das memorias que guardamos. Assim, vão surgindo lições que nos ajudam a cruzar o tempo no ritmo da ação de festa.

O mesmo salmista deseja sentir o tempo que passa. Por isso, podemos dizer que o mais importante não é quanto tempo vivemos, se 20, 40, 60 ou 100 anos, e sim como chegamos. A força da nossa vida vai ser medida pelo sentido que torna eterno o tempo. Contamos histórias, celebramos memórias, para transformar o fim em recomeços.

O jovem Filho de Maria viveu pouco, muito pouco, mas ainda hoje se fala dele. Não são poucos que vivem n’Ele e por Ele. Contasse sua história em todos os cantos, seguem seu caminho, testemunham sua força. A forma como ele viveu cruzou o tempo, deu novo sentido ao viver de muitos. Ele vive!

Sua vida vai ser medida pela forma como você vive. Por isso, disse no começo, que cada dia se abre como uma nova possibilidade de fazer e refazer, começar e recomeçar. O dia se fecha como uma chance de recordar como se chegou até aqui. Nesse momento devemos avaliar. E com isso sentir o dia. Noite e dia, e tudo então começa de novo. Como você está hoje?

 

 

sábado, 22 de agosto de 2020

Aprenda a ser como uma montanha

"Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, eternamente firme. Como Jerusalém está toda cercada de montanhas, assim o Senhor envolve seu povo, agora e sempre” Sl 124 (123), 1-2.


A montanha permanece imóvel diante da eternidade, nada é capaz de lhe abalar. Essa imagem é um convite a adquirirmos raiz, solidez, firmeza diante das adversidades. As adversidades surgirão, tentações, dificuldades, dores  e sofrimentos. É inevitável. Mas se a nossa vida estiver enraizada, nossa  experiência com Deus ficará cada vez mais sólida, e nada vai nos abalar. Jesus, através de uma parábola, fala da importância desse enraizamento: “assim todo aquele que ouve estas minhas palavras e as põe em prática será comparado a um homem sensato que construiu a sua casa, sobre a  rocha .caiu a chuva, vieram as enxurradas , sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu pois estava alicerçada da rocha” ( Mt 724-25). 

Uma forma de criar enraizamento é através da vida em comunidade.  A comunidade é formada pelos que seguem e professam a mesma fé em Cristo Jesus. O seguimento vem do encontro com o Cristo crucificado e ressuscitado. Foi esse encontro que fez o apóstolo Paulo deixar tudo para trás para correr atrás do conhecimento de Cristo, seu bem supremo (Cf. Fl 3,8). Esse encontro nasce da proclamação dos crentes que pregam com ou sem palavras despertando a fé nos que vêem e ouvem. Depois essa fé se torna testemunho no lugar em que vivem, esse “Jesus que chama é o mesmo que envia. Ele chama para estar consigo e para sair em missão. Por isso não se pode separar a vida em comunidade da ação missionária, como se uma só dessas dimensões bastasse” (DGAE 18).

Não podemos abdicar de nosso status missionário. O Espírito Santo continua interpelando as comunidades a permanecer ligada à sua raiz fundante. Do seu jeito próprio, no lugar em que foram enraizadas devemos proclamar que Cristo está vivo. Mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos devemos permanecer com ouvidos bem abertos para escutar o Senhor que diz: “IDE”.

Para responder a esse IDE devemos dizer antes “VINDE”. Por isso vamos aprender a orar como uma montanha. Entrar em comunhão com Deus, conhecer a si mesmo, ou seja, sair do mundo para encontrar-se com Deus e depois voltar a ele para melhor servi-lo. Isso é o esforço diário para viver no “ritmo da montanha”. É a vida oração que cria esse ritmo, assim saímos cotidianamente do mundo, acompanhado de Jesus, e para ele voltamos animados pela força do Espírito Santo que é vida e gera vida.

Esse movimento nos transforma em retirantes, homens e mulheres que se retiram todos os dias para criar firmeza, estabilidade, solidez. A própria imagem da montanha nos convida a permanecer constante e inabalável.

Só ir sem vir em vez de nos aproximar, pode nos afastar de Deus. Sem esse caminho de retirantes seremos vencidos pelo cansaço, pelas distrações e pela dureza. Ao longo do dia, precisamos estar a sós, com Jesus. É dele que vem a firmeza que precisamos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Mostra-me tua glória Senhor!

"Moisés disse: ‘Mostrai-me vossa glória’. E Deus respondeu: ‘Vou fazer passar diante de ti todo o meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o nome de Javé. Dou a minha graça a quem quero, e uso de misericórdia com quem me apraz’”. 


Moisés  queria ver a glória de Deus e é atendido. Enquanto Moisés permanece na brecha da rocha Deus passa e diz: “sou o Deus de piedade e compaixão...”. Contemplar a glória de Deus é a expectativa de todo o povo de Israel que espera ansiosamente que Deus se manifeste na história os libertando de toda opressão, marginalização e injustiça social. Para Simeão esse  sonho se realiza quando ele toma o filho de Maria, Jesus de Nazaré nos braços: “Agora soberano senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra: porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste em face de todos os povos, luz para iluminar as nações, e glória de teu povo Israel” (Lc 2,29-32). 

O Espírito Santo faz a escolha dos “pobres de Javé”, os anawin. Sobre eles Deus quer manifestar a sua glória! Esses reconhecem que dependem do Senhor, que devem confiar sua vida a Ele. Zacarias e Isabel, Maria, Simeão, Ana e João Batista façam parte desse povo, que vão até Deus de mãos vazias e voltam de lá enriquecidos pelos dons que recebem do próprio Deus. 

O Espírito Santo se manifesta na vida desses “pobres de Javé”, porque eles não guardam no coração nada que os separe de Deus, sua maior riqueza é a próprio Deus. Essa é uma condição para contemplar a glória de Deus. 

Hoje em dia quando falamos de glória associamos a status, prestígio, fama. Muitas vezes tenho tanta consideração por mim mesmo que quero fazer uma estátua para a glória do meu nome. Dessa forma, ajunto tesouros que a ladrão rouba ou que o tempo estraga (Cf. Mt 6,19s) ou o que ainda é pior, ficamos cheios das riquezas que nosso orgulho quis guardar. Dessa forma, teremos dificuldades de caminhar até Deus. 

A mãe de todos os anawin, a cheia de graça, é nosso maior exemplo. Como resposta ao anjo, Maria responde, “eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra”. Como parte dos “pobres de Javé” Maria canta no Magnificat "saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos”. 

O Senhor não se revela por meio dos mecanismos de poder, isso pode ser comprovado através da encarnação do Filho que se deu na condição de pobreza crescendo na simplicidade da vila de Nazaré, “Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por vós para vós enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8,9).

           



quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Vencendo as provações

 "Se o Senhor não tivesse estado conosco, sim, diga-o Israel, se o Senhor não tivesse estado conosco, os homens que se insurgiram contra nós teriam então nos devorado vivos. Quando seu furor se desencadeou contra nós, as águas nos teriam submergido. Uma torrente teria passado sobre nós. Então, nos teriam recoberto as ondas intumescidas. Bendito seja o Senhor, que não nos entregou como presa aos seus dentes. Nossa alma escapou como um pássaro, dos laços do caçador. Rompeu-se a armadilha, e nos achamos livres. Nosso socorro está no nome do Senhor, criador do céu e da terra" Sl 124 (123).

Este salmo é de ação de graças pela superação das provações, que são descritas sob imagens  tradicionais: feras,  inundações  e ciladas.

Quando decidimos fazer o caminho na direção de Deus devemos nos preparar para a provação. De forma bem simples podemos dizer que toda a provação é uma “prova”. Quando somos submetidos a uma prova devemos nos preparar. A preparação por vezes é muito exigente, requer sacrifícios. Quantos sacrifícios temos que fazer ao longo da vida? Estamos dispostos a fazer sacrifícios? 

Em nosso cotidiano, ouvimos muitas vezes o uso da palavra sacrifício. Por exemplo, muitos pais gastam horas do seu dia trabalhando por seus filhos. Os filhos, por sua vez, gastam horas do seu dia estudando. Tanto os pais quanto os filhos, sacrificam-se pelo que consideram importantes. Existem pessoas que renunciam a um bem ou direito seu por algo que consideram mais valioso. Pode ser uma privação, seja voluntária seja involuntária, por uma coisa digna de apreço e estima. Muitos gastam fortunas por sua saúde, fazem dietas por sua qualidade de vida.

Quantos atletas se privam, voluntariamente, para alcançar um melhor resultado. São Paulo usa essa imagem para falar das exigências de anunciar o Evangelho: "Nas corridas de um estádio, todos correm, mas bem sabeis que um só recebe o prêmio. Correi, pois, de tal maneira que o consigais. Todos os atletas se impõem a si muitas privações; e o fazem para alcançar uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma coroa incorruptível. Assim, eu corro, mas não sem rumo certo. Dou golpes, mas não no ar".

Com isso devemos nos perguntar: quanto sacrifício estou fazendo para continuar seguindo a Deus pelo caminho? A verdade é que sabemos que não é fácil seguir a Deus. Muitas dificuldades vão surgir pelo caminho, mas sabemos que a vida é feita de sacrifícios, por isso, devemos nos preparar. Devemos invocar o Espírito Santo e pedir o dom da fortaleza para sermos capazes de "encarar" os desafios, dificuldades e lutas que vamos enfrentar. Assim começa nossa preparação!

O Espírito Santo faz crescer em nós o dom da fortaleza para suportarmos as provações. Esse é dom dos corajosos, que enfrentam as dificuldades do dia-a-dia de forma sobrenatural. É um impulso do Espírito Santo que nos permite agir de forma heroica na busca da santidade. 

Toda criança cresce alimentando seus sonhos com super-heróis que lutam contra o mal: Homem-Aranha, Super-Man, Thor, Homem de Ferro...é imensa a lista desses personagens que ocupam nossa imaginação. As vezes, pensamos que seria bom termos super poderes para lutar contra os nosso inimigos, colocar os criminosos na cadeia, enfrentar os muitos desafios que se levantam cotidianamente. Mas não é disso que estamos falando quando pensamos em virtudes heroicas. Estamos na verdade, pensando nos santos e santos, mártires, homens e mulheres que se agigantaram diante dos muitos desafios que se levantaram. Se encheram do Espírito Santo é enfrentaram com força o mal. O que seria dos jovens de Turim, se São João Bosco não tivesse doado sua vida por eles? O que seria daquela criança no Campo de Concentração se São Maximiliano Kolbe não tivesse sido fuzilado no lugar de seu pai? Uma multidão de homens e mulheres, ontem e hoje não se edificam com seu exemplo? Esses são nossos heróis. 

Existe um heroísmo que nem sempre percebemos e que é vivido no dia a dia. É o heroísmo dos pais e mães, dos educadores, trabalhadores e trabalhadoras. Daqueles que às vezes precisam suporta os vícios daqueles que amam, que perdoam uma traição, que lutam por aqueles que são explorados, marginalizados e excluídos. Nossos heróis da vida real!

Pode nos ajudar aquilo que São Tiago nos diz: "Meus irmãos, tende  por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que  a vossa fé,  bem provada, leva a perseverança; mas é preciso que a perseverança produza uma obra perfeita, a fim de serdes perfeitos e íntegros sem nenhuma deficiência (...)  Bem aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque uma vez provado receberá a coroa da vida, que o senhor prometeu aos que o amam “(Tg 1,2-4.12).


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Sigo cantando...

            

 "Sobe até Deus". Não esqueça de olhar para as setas, se não você pode se perder no caminho. Leia o que está em cada placa para não ser enganado, iludido e se desviar do caminho.

Começo meu caminho. Passo pela primeira placa e paro para construir um altar: ali adoro a Deus! Preciso destruir os altares que construí através da idolatria, deixando para trás os “outro deuses”, tudo que se coloca no lugar do verdadeiro Deus. Olhando para a placa vejo a pergunta: você crê? Prontamente eu respondo, “Eu creio Senhor!”. Se sou capaz de responder a essa pergunta posso continuar caminhando, seguindo as setas. Cada passo que se segue devo respirar. O respiro dos que creem é chamado oração. A oração nos traz sempre para o altar construído no começo da caminhada. e ali vamos nos encontrando com Deus em cada palavra ou gesto: rosto no chão ou elevado para o alto, de mãos postas e joelhos dobrados, no silêncio ou através de palavras repetidas. De pé, sentado, com braços abaixados ou erguidos. Com música, dança, silêncio ou vibração. A oração é sempre encontro. 

Sigo pelo caminho. Encontro uma segunda seta e nela vejo uma pergunta: qual o seu nome? respondo sem muito trabalho. Com simplicidade escrevo meu nome na placa. De repente vejo que o nome de Deus por toda a placa. Repito esse nome, faço isso muitas vezes. Daí percebo que esse nome não deve sair da minha boca e que não posso  usá-lo em vão. 

Vi que muitos já tinham passado por essa placa. Eles escreveram muitas vezes na placa: cuidado com a mentira! O proveito que se tira da mentira causa sempre um prejuízo. Por exemplo, quando se faz um juramento falso “se invoca Deus como testemunha de uma mentira” (CIC 2151). Dessa forma, se passa a questionar os que invocam a Deus, é até mesmo o próprio Deus. O que atesta a força de um testemunho  não é a verdade?  O próprio Senhor disse, “eu sou a verdade ” (Jo 14,6). Por isso, a verdade é uma pessoa, é Cristo Jesus, Senhor e Salvador, daí quando nosso testemunho é verdadeiro demonstramos a estreita relação entre palavra humana e palavra divina.

Para não falsificar a verdade devemos ter humildade. Aprendi cedo que a humildade é a verdade. Por isso mesmo devemos encontrar a verdade sobre Deus, nós mesmos e o nosso próximo.

Quando me pergunto sobre a verdade a respeito do ser humano me vem à cabeça o que o salmista diz: “Que é o homem – digo-me então –, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo. Rebanhos e gados, e até os animais bravios, pássaros do céu e peixes do mar, tudo o que se move nas águas do oceano” (Sl 8).

Quando me pergunto sobre a verdade a respeito do meu próximo me vem a cabeça a Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-32). A pergunta que se faz ao Divino Mestre é essa, “quem é o meu próximo?”. A parábola não só diz quem é o próximo mais ilustra como devemos agir com o nosso próximo.

É qual a verdade sobre Deus? São João nos diz de forma bem simples: “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Essa é a grande verdade que cura toda mentira.

Cheio de alegria contínuo caminhando. O cansaço chega. Leio o que está escrito na terceira placa e vejo o convite: descanse para renovar suas forças. Depois siga! De repente me dou conta, “é domingo” momento de fazer memória do mistério pascal de Cristo. 

“O repouso assume, assim, um típico valor sagrado: o fiel é convidado a repousar não só como Deus repousou, mas a repousar no Senhor, devolvendo-Lhe toda a criação, no louvor, na ação de graças, na intimidade filial e na amizade esponsal” (DD 16). Me convenço que preciso repousar. Enquanto faço isso recordo o eterno primeiro dia da semana. Minha alegria se transforma em canção: 

Vida ou morte

ou vida de morte?

Parto de dor,

vida sem amor, campo sem flor.

Em vez da abundância das águas, a seca da nascente.

Vento frio, escuridão ao meio dia.

Jovens sem esperança, crianças sem brincar.

Ausência de lar, paz,

cor e calor.

Vida ou morte

ou morte de vida?

Espera-se um novo dia, onde a vida escondida

se torne conhecida.

Onde se abrirão os olhos dos cegos,

o ouvido dos surdos,

a boca dos mudos.

Com mãos fortalecidas e joelhos revigorados

soltaremos de cima dos telhados

o grito de vitória na madrugada

daquele eterno primeiro dia da semana.

É hora de continuar o caminho. 


terça-feira, 18 de agosto de 2020

Siga as setas!


"O Senhor disse a Moisés: “Sobe para mim ao monte. Ficarás ali para que eu te dê as tábuas de pedra, a lei e as ordenações que escrevi para sua instrução. Moisés levantou-se com Josué, seu auxiliar, e subiu ao monte de Deus. E disse aos anciãos: Esperai-nos aqui até que voltemos.Tendes convosco Aarão e Hur. Se alguém tiver um litígio, se dirigirá a eles. Moisés subiu ao monte. A nuvem cobriu o monte e a glória do Senhor repousou sobre o monte Sinai, que ficou envolvido na nuvem durante seis dias. No sétimo dia, o Senhor chamou Moisés do seio da nuvem. Aos olhos dos israelitas a glória do Senhor tinha o aspecto de um fogo consumidor sobre o cume do monte. Moisés penetrou na nuvem e subiu a montanha. Ficou ali quarenta dias e quarenta noites”.

Esse texto se desenvolve com traços das grandes teofanias, ou seja, como manifestação da presença divina. Moisés sobe para encontrar-se com Deus e dessa vez, Deus quer dá ao povo suas instruções “os mandamentos”.

    Os mandamentos são orientações para o bem do povo, um código, uma norma de conduta que favorecem o aperfeiçoamento da relação do povo com Deus e o próximo. A atitude fundamental é a da observância desses mandamentos.

         Uma vez Jesus foi perguntado sobre o que deveria ser feito para herdar a vida eterna, o que prontamente ele responde dizendo: observem os mandamentos (Cf. Mc 10, 17-18). Em outra ocasião, Jesus respondendo a uma pergunta do escriba sobre qual seria o primeiro mandamento ele diz: “O primeiro é: ouve ó Israel, o senhor nosso Deus é o único senhor, e amarás o senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força. O segundo é este: amarás o teu   próximo como a ti mesmo” (Mc 12,29-31). Durante o discurso da montanha ele diz às multidões que  não veio para abolir a lei e os mandamentos, mas sim  levá-los  ao pleno cumprimento (Cf. Mt 5,20).    

  A experiência dos mandamentos é a experiência de um povo que decidiu se encontrar com Deus e permanecer na sua presença cumprindo suas “instruções”. Muitas vezes temos dificuldade de manusear algum objeto e recorremos ao manual de instrução, procuramos na internet para assim usar corretamente aquele objeto. Quando temos dúvida quanto aos direitos e deveres vamos a nossa Constituição para saber como devemos nos comportar diante de tal situação. Assim, Deus não poderia deixar o seu povo caminhando sem suas “instruções”. Daí se quisermos ser o “povo de Deus”, agir corretamente no mundo como povo que pertence a Deus devemos obedecer o que ele nos pede em seus mandamentos. 

Os mandamentos revelam a pedagogia de um Deus que caminha com seu povo, que o educa através dos acontecimentos da vida. Esse povo faz o caminho da libertação. O eixo fundamental de todo o Antigo Testamento é a experiência do Êxodo. Eles começam a caminhar pelo deserto e são muitos os desafios para que cheguem a ser reconhecido como um povo, consagrado para amar só a Iahweh: “Eu serei o seu Deus e vós sereis o meu povo”. A saída do Egito foi só o começo da libertação. Você já se perguntou como foi esse caminho pelo deserto para tantas famílias que saíram do Egito?

         Esse caminho foi feito de alegrias e tristezas, dores, sofrimentos, conquistas, fracassos, decepções, sonhos, derrotas e vitórias. Esse é o caminho de todos nós, seja no deserto de ontem seja no deserto de hoje. 

Nem um caminho se faz sem que se tenha uma indicação, seta ou orientação para se chegar. Para o povo que caminhou ontem e que caminha hoje essa indicação vem dos mandamentos. As dez palavras da lei deviam ser postas em prática por todos, crianças, jovens e adultos. É um imperativo categórico, ou seja, uma ordem que se impõe ao povo para que ele seja o povo da aliança. 

Se você está caminhando veja as setas, elas vão lhe dizer se você está caminhando na direção certa. Siga os mandamentos!


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Se admire, espante e se encante


Levanto os olhos para vós, que habitais nos céus. Como os olhos dos servos estão fixos nas mãos de seus senhores, como os olhos das servas estão fixos nas mãos de suas senhoras, assim nossos olhos estão voltados para o Senhor, nosso Deus, esperando que ele tenha piedade de nós" Sl 123 (122), 1-2.

“Levantar os olhos” é contemplar. Contemplar é olhar, é vê. É se deslumbrar, extasiar, admirar, encantar, espantar.

Um artista depois que termina sua obra de arte, fica fascinado. Vamos a um lugar e apreciamos suas belezas naturais. Os pais tomam o seu filho recém-nascido nos braços e não param de olhar, cheios de admiração. Ficamos deslumbrados com uma dança, apresentação musical ou teatral e muitas vezes não conseguimos esconder nosso encanto. Ficamos espantados com notícias de violências que acontecem com conhecidos e desconhecidos, homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos. Andamos por tantos lugares e observamos pessoas e objetos em praças, shoppings, fábricas, indústria, comércio. praias, etc. tudo isso é um exercício de contemplação.   

Em todos os lugares encontramos imagens que comunicam alguma mensagem: placas, outdoors, vestuário, propagandas, anúncios, vitrines, monumentos… Os shoppings centers se transformaram nos modernos santuários onde muitos vagueiam atraídos pelas imagens que estão em todo lugar. Cada transeunte passa a ter o seu valor monetário, transformando-se em um potencial consumidor, por isso mesmo, a importância da propaganda. Outra coisa que não podemos deixar de dizer é que a antiga influência grega do culto ao corpo foi redescoberta fazendo com que nos preocupassemos novamente com a aparência. Isso foi potencializado através das redes sociais.

Nesse contexto, a reeducação do nosso olhar, marcada pela contemplação de Cristo, abre os nossos sentidos para que descubramos o que realmente importa. 

Em um dos seus discursos Jesus diz, “quando for elevado ao céu, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Podemos contemplar o mundo a partir do mistério da cruz. Dali o “Divino Mestre” olha para o Pai e diz, “está tudo consumado”. O quadro da nossa salvação havia se desenhado com os pincéis que passaram pelas mãos de pais, profetas, sacerdotes e reis, mas, neste momento derradeiro é o próprio Filho que pinta com as cores vivas do seu sangue que jorra do seu peito transpassado de amor. Sim, “está tudo consumado”, o amor emoldura esse belo quadro. É para esse quadro que devemos olhar. 

Do peito transpassado de Jesus nasceram muitas devoções que perpetuam essa belo quadro. Deus quer nos recordar continuamente o seu amor, por isso, inspirou para os nosso tempos formas de piedade popular que fazem ecoar esse mistério.

Por exemplo, no 1º domingo de Páscoa celebramos a festa da Divina Misericórdia. São João Paulo II em sua Exortação Dives in Misericordia diz que a misericórdia é um dos principais temas da pregação de Jesus: “como de costume, também neste ponto ensina antes de mais «em parábolas», porque exprimem melhor a própria essência das coisas. Basta recordar a parábola do filho pródigo, ou a parábola do bom samaritano, ou ainda, por contraste, a do servo sem compaixão. Numerosas são ainda as passagens do ensinamento de Cristo que manifestam o amor e misericórdia sob um aspecto sempre novo. Basta ter diante dos olhos o bom pastor que vai à busca da ovelha tresmalhada, ou a mulher que varre a casa à procura da dracma perdida. O Evangelista que trata de modo particular estes temas do ensino de Cristo é S. Lucas, cujo Evangelho mereceu ser chamado ‘o Evangelho da misericórdia’”.

Foi São João Paulo II, o papa que canonizou Santa Faustina, e instituiu essa Festa na Igreja. Na canonização da apóstola da misericórdia, o então Papa disse: “Em todo o mundo, o segundo domingo de Páscoa receberá o nome de Domingo da Divina Misericórdia. Um convite para o mundo enfrentar, com confiança na benevolência divina, as dificuldades e as provas que esperam o gênero humano nos anos que virão”.

Dessa devoção aprendemos a rezar: “oh sangue e água que jorrastes do coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós”. Hoje milhares de pessoas espalhados pelo mundo rezam o terço da misericórdia contemplado o quadro da Divina Misericórdia que Deus pediu que Santa Faustina pintasse.

Esse é o caminho para a reeducação do nosso olhar. 


domingo, 16 de agosto de 2020

Deixe-se surpreender por Deus

 

“Agora se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, serás para mim a porção escolhida entre todos os povos (...) vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Cf. Ex 19,1-8).

“Então Moisés subiu ao encontro de Deus “(19,1-3). Na experiência da Bíblia, subir a montanha é subir até Deus, encontrar-se com ele. O que podemos esperar desse encontro? Quando nos dispomos a fazer esse caminho para encontrar a Deus sabemos que teremos muitas surpresas. É uma realidade desconhecida que vai se tornando conhecida, porque a alma vai se “dilatando” ao conhecimento de Deus. 

O povo que marchava pelo deserto passou por muitos desafios como fome, sede, disputas e medos. Ele sempre foi surpreendido pela presença de Deus que caminhava ao seu lado. A imagem da coluna de nuvem e de fogo (Cf. Ex 13,21) demonstra essa certeza. O povo não caminha sozinho, Deus caminha a sua frente!  

A esse povo Deus faz uma proposta: vocês serão para mim a porção escolhida entre todos os povos. Que surpresa! Esse povo que fugiu da escravidão queria apenas um lugar para se estabelecer. Só que agora eles aceitam levar consigo esse sinal de ser o povo que Deus escolheu. Isso vai se transformar na marca registrada de Israel. 

São Pedro chamava as novas comunidades a se reconhecer como esse novo povo, essa nova nação escolhida, “mas vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para sua luz maravilhosa “ (Pe 2,9).     

São Paulo se reconheceu como parte desse novo povo. O fariseu foi surpreendido pelo Cristo ressuscitado quando estava no caminho de Damasco. Ele passou de perseguidor a perseguido, sofreu pela escolha que fez, e não deixava de reconhecer que tudo o que fazia era por causa do Cristo que o amou e por ele se entregou (Cf. Gl 2,20). Diante do conhecimento de Cristo Jesus, ele “perdeu tudo” a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele (Cf. Fl 3,8-9). E depois disso? Uma aventura de fé! Novas descobertas, desafios, sonhos, alegrias, tristezas, conflitos, perseguições...e acima de tudo, o amor renovado a cada dia. 

Vale a pena fazer esse encontro? O que ganhamos com isso? Quero responder com esse simples diálogo ilustrativo: 

Ir ao encontro de Cristo, segui-lo pelo caminho? Não entendo...0 que ganho com isso?

Alguém então grita do meio da multidão:

- Pergunte a Pedro e ele responderá: 

Deixei meu barco e foi em outro mar pescar, com Ele andei, D’ele não me afastei.

Ir ao encontro de Cristo, segui-lo pelo caminho? Não entendo. 

Alguém que apresenta um programa de televisão diz:

- Pergunte a João e ele responderá:

Deixei a casa do meu pai, às redes a consertar, é o seu amor que me fez caminhar.

Ir ao encontro de Cristo, segui-lo pelo caminho? Não entendo. 

Um velho comerciante diz com sorriso no rosto:

- Pergunte a Paulo e ele responderá:

Do cavalo eu cai quando os cristãos persegui, fiquei cego por um zelo sem flor, foi sua luz que me salvou.

Ir ao encontro de Cristo, segui-lo pelo caminho? Não entendo. 

Um coro com voz portentosa diz:

Pergunte a Inácio e Perpétua, Cosme e Damião, Francisco e Domingos, Teresa e João... E todos eles te responderão: foi o seu amor, foi o seu amor!

Posso dizer a você que vale a pena esse encontro. Em julho de 1995 fiz esse encontro. Minha vida não foi mais a mesma. Eu era um jovem feliz. Gostava de festas, esporte, uma boa roda de conversa...vivia o momento presente sem muitos planos. Queria aproveitar ao máximo o que a vida me proporcionava. Aí eu esbarrei com força em Deus. Ele foi mais forte. De repente uma alegria diferente me tomava e o que me restava era me render ao que estava acontecendo. O amor de Deus ganhava cada vez mais força e agora sim, eu tinha planos: testemunhar o que havia acontecido comigo. 

Fui surpreendido por esse encontro! .Se deixe surpreender por Deus!


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

O sacrifício da oração


"Amalec veio atacar Israel em Rafidim. Moisés disse a Josué: ‘Escolhe-nos homens e vai combater Amalec. Amanhã estarei no alto da colina com a vara de Deus na mão’. Josué obedeceu a Moisés e foi combater Amalec, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiam ao alto da colina. E, quando Moisés tinha a mão levantada, Israel vencia, mas logo que a abaixava, Amalec triunfava. Mas como se fatigassem os braços de Moisés, puseram-lhe uma pedra por baixo e ele assentou-se nela, enquanto Aarão e Hur lhe sustentavam as mãos de cada lado: suas mãos puderam assim conservar-se levantadas até o pôr do sol, e Josué derrotou Amalec e seu povo a fio da espada. O Senhor disse a Moisés: ‘Escreve isto para lembrar, e dize a Josué que eu apagarei a memória de Amalec de debaixo do céu’. Moisés construiu um altar que chamou de ‘O Senhor é minha bandeira’. Já que a mão – disse ele – foi levantada contra o trono do Senhor, o Senhor está em guerra perpétua contra Amalec” (Ex 17,8-16).  

Aquele que sobe para a ali se encontra com Deus, permanecer com ele, torna-se parte do mundo que o cerca. Ao contrário do que alguns imaginam, estar em oração é encontrar-se no centro das dores do mundo, combater suplicando com mãos erguidas pela vitória da vida sobre a morte, da luz sobre as trevas, do amor sobre o ódio “não era no meu arco que eu tinha confiança, nem era minha espada que me trazia vitória; eras tu que nos salvava de nossos opressores e envergonhava aquele que nos odiavam (Sl44,7-8).

Aprendemos uma grande lição que não pode ser jamais desprezada: “É ele que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com submissão. É embora fosse filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento; e levado a perfeição, se tornou para todos que lhe obedecem, princípio de salvação eterna” (Hb 5,7-9). 

Cristo é o nosso grande mediador, Ele intercedeu por nós, tomando os nossos pecados e nos salvando da condenação eterna. Não podíamos fazer nada quanto a isso, então o Pai em seu grande amor envia o seu Filho único, que através do seu sacrifício nos redime pelo poder do seu sangue derramado na cruz. Damos graças em todo o tempo porque Cristo nossa Páscoa foi imolado; Ele, o verdadeiro cordeiro que tira o pecado do mundo. Tudo o que oferecemos ao Pai o fazemos por meio de Cristo Jesus, Nosso Senhor.

Uma vez fui fazer uma entrevista de emprego. Tinha alguns amigos naquele lugar. Quando eles souberam que eu ia fazer a entrevista, foram até na diretora daquela empresa e intercederam em meu favor. Eles queriam que eu ficasse com a vaga porque sabiam da minha capacidade. Quando alguém intercede isso faz uma grande diferença. Esse exemplo demonstra a importância da oração de intercessão. Apresentamos a Cristo não só os nossos pedidos mais os dos outros. 

Por que devemos rezar uns pelos outros? Devemos fazer isso porque somos seres de conexões. Cremos que existe uma conexão entre a Igreja gloriosa (céu), a padecente (purgatório) e militante (terra). Por isso, rezamos pedindo a intercessão dos santos (que pertencem a Igreja gloriosa) e da Virgem Maria, porque confiamos que eles nos auxiliam para que as graças necessárias sejam dispensadas sobre nós. Cremos que cada jejum, esmola ou penitência, e acima de tudo, a celebração eucarística, podem alcançar as almas do purgatório, colaborando na “passagem” delas de uma Igreja para a outra (da padecente para a gloriosa). Se cremos nisso, não deveríamos crer na conexão que existe entre nós que vivemos na Igreja militante?

Rezamos uns pelos outros porque sabemos que nossas orações, súplicas e pedidos podem mudar a direção das coisas. Por que o autor sagrado fala que quando Moisés baixava os braços o povo perdia e quando ele levantava os braços o povo vencia? Porque a oração pode mudar o rumo das coisas, nossa oração traz o céu a terra e a terra ao céu, fazendo com que a conexão que existe se estreite cada vez mais. Nossa luta é vencida pelo poder da oração. Mas, não podemos esquecer que não vencemos sozinhos. Por isso a oração do Pai Nosso, é uma oração que nos leva na direção de Deus e do próximo. Como podemos então esquecer de orar pelas necessidades uns dos outros? Se queres crescer na tua vida espiritual lembra-te que existe muitos que precisam do teu sacrifício de oração. 


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Vigiai e orai

 

Para os montes levanto os meus olhos: de onde virá meu socorro?  O meu socorro virá do Senhor, criador do céu e da terra (...) não há de dormir, nem adormecer  o guarda de Israel” Sl 121 (120), 1-2.4.

Quando nós decidimos subir, devemos ter claro aquilo que a própria palavra nos alerta: “sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar” (1 Pe 5,8). Isso nos leva a crer que existe uma força contrária, uma parte adversa que se levanta contra nós quando decidimos encontrar com o senhor no cume do monte, quando queremos estabelecer com Ele uma relação de intimidade. Na luta da vida muitos se levantam como adversário, como alguém que se opõe, diverge, discorda. Às vezes achamos que o mundo todo luta contra nós! Às vezes nos esquecemos que antes mesmos que nascêssemos uma luta já acontecia, uma duríssima luta pela salvação das almas! O nosso adversário, o diabo, quer nossa perdição, daí descobrimos  que nossa luta é “ contra todas as realidades de trevas que habitam este mundo” ( Cf. Ef 6. 11- 12), que se levanta contra o projeto de DEUS , anunciado por Jesus e levado a plenitude pelo Espírito Santo.

Nessa grande luta temos que nos esforçar. O diabo quer a nossa perdição, nossa condenação, e para isso ele nos rodeia, persegue, tenta. Devemos “resistir-lhe firme na fé”, nos revestir da força do alto para sermos vencedores. Sabendo disso, Jesus aconselha os seus discípulos a permanecer em oração para não serem vencidos porque é a oração que nos fortalece no combate de cada dia, contra o nosso “adversário”. Nas idas e vindas dessa caminhada, podemos nos cansar, desanimar e até mesmo querer desistir, as forças podem nos faltar, mas devemos saber “que aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças” (Is 40,30-31).

Quando Jesus foi ao Monte das Oliveiras, os seus discípulos estavam cansados. Essa era uma hora de muita angústia, e justamente nessa hora, eles dormem. Ele alerta os seus discípulos: “vigiai e orai”. Podemos dizer de outro modo: “não durmam, não cochilem”, para não vacilar! A sentinela (ou vigia) ocupava um lugar importante na organização de uma cidade no antigo Israel, pois ele avisava se houvesse algum perigo eminente. Imagine o inimigo se aproximando e a sentinela dormindo? Corremos constantemente perigos, por isso devemos ter cuidado para prevenir qualquer mal que nos sobrevenha, principalmente aqueles que querem “perder a alma”. Muitos alertas são dados para que não sejamos vítimas de uma ação maléfica. Se não houvesse perigo, não havia a necessidade de vigiar! 

Quando criança tinha um rival, um inimigo. Era um garoto que não gostava de mim. Quando saia de casa, temia encontrá-lo pelo caminho. Sempre que isso acontecia, chegava em casa chorando porque ele era mais forte que eu. Um amigo, vendo esse meu infortúnio, disse uma vez: “quando ele se aproximar de você, eu vou segura-lo e você parte pra cima dele”. Sei que isso foi uma covardia, mas uso esse exemplo para que você compreenda o que o Senhor quis dizer sobre “o mais forte” (Cf. Mc 3,22-27). 

João Batista era constantemente questionado se ele era o messias. Um dia batizando no rio Jordão ele disse mais uma vez que não era o messias e ainda acrescentou: “depois de mim vem outro mais poderoso (forte) do que eu...” (Mc 1,7). Logo depois de escolher os discípulos, Jesus se dirigiu a uma casa e uma multidão o cercou sem que ele sequer pudesse comer (Cf. Mc 3,20). Quando os escribas viram isso disseram entre si: “ele é o príncipe dos demônios!”. Jesus conta então uma pequena parábola que ilustra que um reino dividido contra si mesmo não subsiste “se Satanás se levantar contra si mesmo, está dividido e não poderá continuar, mas desaparecerá”. É então que ele fala do mais forte: “Ninguém pode entrar na casa de um homem forte e roubar-lhes os bens, se antes não o prender”. 

Jesus, é o mais forte, creio que você já compreendeu isso. Portanto, é unido a Cristo que vamos vencer, é para ele que se volta os nossos olhos. Diante de tantas ameaças, é ao Senhor que recorremos usando os meios que estão a nossa disposição. A oração, sem dúvida, é quem nos faz forte para resistirmos, “sede submisso a Deus. Resisti ao Demônio, e ele fugirá para longe de vós” (Tg 4,7). Oremos com confiança:

“Levanta-se Senhor e sejam dispersos os seus inimigos! Fujam diante dele aqueles que O odeiam (Cf. Sl 67,2)...Expulsa todos os inimigos que me atacam (Cf. Dt 28,7)”.