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quinta-feira, 30 de maio de 2019

Uma pequena introdução a Bíblia - parte IV


Novo Testamento

“A palavra de Deus, que é virtude de Deus para a salvação de todos os crentes (cfr. Rom. 1,16), apresenta-se e manifesta o seu poder dum modo eminente nos escritos do Novo Testamento. Com efeito, quando chegou à plenitude dos tempos (cfr. Gál. 4,4), o Verbo fez-se carne e habitou entre nós cheio de graça e verdade (cfr. Jo. 1,14). Cristo estabeleceu o reino de Deus na terra, manifestou com obras e palavras o Pai e a Si mesmo, e levou a cabo a Sua obra com a Sua morte, ressurreição, e gloriosa ascensão, e com o envio do Espírito Santo. Sendo levantado da terra, atrai todos a si (cfr. Jo. 12,32 gr.), Ele que é o único que tem palavras de vida eterna (cfr. Jo. 6,68). Este mistério, porém, não foi descoberto a outras gerações como foi agora revelado aos seus santos Apóstolos e aos profetas no Espírito Santo (cfr. Ef. 3, 46 gr.) para que pregassem o Evangelho, e despertassem a fé em Jesus Cristo e Senhor, e congregassem a Igreja. Os escritos do Novo Testamento são um testemunho perene e divino de todas estas coisas” (DV 17).

A história do Novo Testamento gira em torno da pessoa de Jesus de Nazaré. Ele é uma figura de importância singular em toda a história. Os judeus nesse período estão sob a dominação do império romano.
             Novo Testamento é uma expressão que vem do latim: indica os livros da Bíblia escritos depois de Cristo e contrapõe-se ao Antigo Testamento, ou seja, aos livros da Bíblia escritos antes de Cristo. Para designar os dois “Testamentos”, melhor seria a expressão “Antiga Aliança” e “Nova Aliança”. De fato, a idéia teológica de aliança é fundamental na dinâmica interna da Bíblia, como Palavra de Deus para todos os crentes, e percorre-a do primeiro ao último livro. O Antigo Testamento resume-a nesta expressão: «Vós sereis o meu povo e Eu serei o vosso Deus.» (Lv 26,12; Jr 7,23; Ez 37,27). Mas esta Aliança era provisória, apontava para a Nova Aliança (Jr 31,31-34) que foi selada com o sangue de Jesus Cristo (Mt 26,27; Mc 14,24; Lc 22,20), ou aquilo que chamamos Novo Testamento.

A formação do Novo Testamento

Escritos entre os séc. I-II d.C., no contexto da civilização greco-romana, os livros do Novo Testamento foram escritos na língua “comum” desse povo (o grego, koiné) e tem como centro a mensagem de Jesus. Por isso, os Evangelhos são o eixo fundamental de todo o Novo Testamento.
Jesus anunciou a Boa Nova de forma oral, em aramaico, a língua falada então na Palestina. Os seus discípulos também se preocuparam mais com o anúncio oral dessa boa nova, que passa a ter na paixão, morte e ressurreição de Jesus o conteúdo principal dessa mensagem. Por isso mesmo o Cristianismo, não é uma “Religião do Livro”, mas da relação viva com uma pessoa, Jesus Cristo. Depois de terem ouvido a mensagem oral, durante a “primeira geração” cristã, é que os discípulos da “segunda geração” registraram por escrito as palavras e os fatos da vida de Jesus para imprimir nos cristãos maior fidelidade à mensagem e os conduzir à fé e à salvação em Cristo (Lc 1,1-4; Jo 20,30-31). Os Evangelhos não são unicamente a “História de Jesus”; são sobretudo, a narração escrita das palavras e dos fatos de Jesus de Nazaré, mas já iluminados pelo Cristo ressuscitado, presente na sua Igreja ao longo de muitos anos.
A Constituição Dei Verbum (n.° 19) diz que os Evangelhos não são História escrita à maneira do nosso tempo. Os evangelistas fazem uma História em função da fé, da teologia: resumem, interpretam, explicam e redigem fatos da vida de Jesus para apresentar uma determinada idéia teológica a uma determinada classe de ouvintes.

Um pouco de história


A dominação romana acontece a partir de 63 a.C -135 d.C. Em 63 a.C Roma, através do general Pompeu chega ao Oriente Médio. É o começo duma influência que não cessou senão com as invasões partas e árabes no séc. VII. Assim a Palestina passa a fazer parte do Império Romano. Herodes, o Grande (40-4 a.C) obtém de Roma o título de rei. É no seu reinado por volta do ano 6 a.C que Jesus nasceu. O nascimento de Jesus sucedeu durante o governo do imperador romano Augusto: “Naquele tempo foi publicado um edito de César Augusto ordenando o recenseamento de todo império”. (Lc 2,1), e a época do seu julgamento o procurador romano era Pôncio Pilatos.
Morto Herodes, seu reino é dividido em três partes e confiado aos seus filhos. A Galiléia e a Pérsia fica sob o reinado de Herodes Antipas (4 a.C - 39d.C). Arquelau, que reina sobre a Judéia e Samaria, não demora a se fazer odiar; é exilado na Gália. É então substituído por funcionários romanos, os procuradores, dos quais o mais conhecido é Pôncio Pilatos ( 26-36 d.C).

Politicamente, as autoridades da Palestina reis ou procuradores romanos dependem do Imperador de Roma. A partir de 66 d.C., começou a revolta contra o poder romano, que foi severamente punida com a destruição de Jerusalém e do Templo, inaugurado poucos anos antes. Com a destruição do Templo, desaparece a classe politicamente mais forte, a classe sacerdotal ou dos Saduceus. Na fuga geral, também a pequena comunidade cristã de Jerusalém, segundo algumas tradições, se refugiou em Péla, na Decápole e noutros locais próximos. A partir de 70 d.C. desaparecem todos os principados da Palestina e o território é governado por administração direta de Roma.

Economicamente, a Palestina, pequeno território junto do deserto, contava pouco na economia do Império. Interessa, no entanto, saber como nela se vivia para compreender a linguagem utilizada por Jesus nos Evangelhos, sobretudo nas parábolas. Trata-se de um território de agricultura mediterrânica (trigo, cevada, figueira, oliveira, videira) e de pastoreio de gado miúdo (ovelhas e cabras). O comércio também ocupa um lugar de importância na vida quotidiana do povo.

Religiosamente, fervilhavam pelo império muitas religiões e cultos pagãos, que gozavam de uma relativa liberdade de culto e de proselitismo. Na Palestina, o templo de Jerusalém concentrava as principais instituições judaicas. Era o centro religioso, o lugar de Deus, do sacerdócio, das festas nacionais; mas também onde as pessoas ligadas ao culto exerciam o poder político. Todo o varão judeu adulto pagava uma didracma por ano de imposto ao Templo. Isso transformava o Templo no centro econômico do povo de Deus.
O primeiro Templo tinha sido construído por Salomão no séc. X e destruído pelos Babilônios em 587 a.C.. O segundo, mais modesto, foi construído em 515, depois do exílio. Um terceiro Templo foi construído por Herodes, o Grande; inaugurado no ano 60 d.C, foi destruído pelos Romanos no ano 70. Em forma de cubo de uns cinqüenta metros e rodeado de vários átrios e portas, era uma obra digna da admiração de qualquer visitante (ver Mt 24,1; Mc 13,1; Jo 2,20). No tempo de Jesus estava na fase de acabamento.

A Sinagoga era a instituição religiosa mais importante depois do Templo, aonde todo o bom judeu acudia cada sábado. O próprio Jesus freqüentava a Sinagoga (Lc 4,16-38). Era o lugar onde se proclamava e comentava a Palavra de Deus e se fazia a oração da comunidade; também servia de escola e centro de cultura. Teve especial importância sobretudo na Diáspora. Era chefiada pelos Doutores da Lei e fariseus; e, como não havia sacrifícios, os sacerdotes não tinham nela importância maior.
Os grupos religiosos de então:

Os Fariseus. Pessoas da classe média e baixa eram especialmente devotos e cumpridores de todas as normas da Lei de Moisés. A sua origem, sendo embora duvidosa, deve remontar à revolução de Judas Macabeu (séc. II a.C.: 1 Mac 2,42). Considerando Deus como o único Rei de Israel, opunham-se ao poder político instalado: os Romanos e a dinastia de Herodes. Como dominavam na Sinagoga, mediante a sua pregação, levavam o povo a pensar do mesmo modo. Por isso, constituíam o grupo mais numeroso de todos. Jesus denunciou muitas vezes a sua rigidez legalista, que não respeitava o mais importante, o amor, e juntava muitas outras tradições a chamada Lei oral ou “tradição dos antigos” às prescrições escritas na Bíblia. Admitiam como canônicos todos os livros da atual Bíblia Hebraica, ou seja, a Lei, os Profetas e outros Escritos (os do AT que estão nas Bíblias católicas, exceto os Dêuterocanônicos). Sendo rígidos na observância da Lei, eram progressistas nas idéias religiosas, pois admitiam, ao contrário dos Saduceus, a ressurreição final e a existência de anjos. Destruído o Templo, no ano 70, com ele desapareceu também a sua organização cultual: os sacerdotes e os sacrifícios. Restava a Lei, a Palavra de Deus que estava na mão dos Fariseus da Sinagoga. E foi a Sinagoga que perpetuou o judaísmo até aos nossos dias.

Os Doutores da Lei ou Escribas. Eram o grupo mais ligado ao dos Fariseus. O Novo Testamento se refere freqüentemente a estes rabinos copistas que se tornaram também intérpretes da Lei. Eram os “teólogos” do farisaísmo, embora também houvesse Doutores da Lei entre os Saduceus.

Os Saduceus (nome que deriva do Sumo Sacerdote Sadoc) existiam, como partido político, desde o séc. II a.C.. Eram a classe mais ligada ao Templo, por constituírem a classe sacerdotal. Além do sacerdócio, detinham ainda grande parte do poder político, pois, ao contrário dos fariseus, presidiam o Sinédrio, por meio do Sumo Sacerdote. Politicamente abertos à autoridade romana, eram conservadores em matéria de religião, pois, ao contrário dos fariseus, admitiam como canônicos apenas os cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco) e negavam a existência dos anjos e a ressurreição. Esta classe sacerdotal, no exercício das suas funções, era assistida pelos Levitas, que tinham especial missão no canto litúrgico e nos sacrifícios.

Os Samaritanos. Como o nome indica, eram os habitantes da Samaria, descendentes da população mista israelita e pagã que ocupou aquele território depois do exílio dos Samaritanos para Nínive (711 a.C.). Como livros canônicos, só admitiam o Pentateuco (tal como os Saduceus) e tinham um templo no monte Garizim (2 Rs 17,24-28; Esd 4,1-4). Por este motivo, os Judeus (habitantes da Judéia, ao sul) rejeitavam-nos, como se fossem pagãos (Lc 10,25-37; Jo 4,19-22).

Os Zelotas. Como o próprio nome indica, zelavam pela independência nacional de Israel contra o poder político estrangeiro. Mas a sua luta era violenta, provocando sucessivos confrontos e atentados contra o exército ocupante.

Os Herodianos. Eram os partidários da dinastia de Herodes, o Grande, que governou os diversos territórios da Palestina a partir do ano 37 a.C. sob a suprema autoridade dos Imperadores de Roma (ver Lc 13,31-32).

Livros do Novo Testamento

O Novo Testamento possui 27 livros, agrupados da seguinte forma: Quatro Evangelhos e Atos dos Apóstolos, Cartas de Paulo, Carta aos Hebreus, Cartas Católicas (Tiago, 1 e 2 de Pedro, 1, 2 e 3 de João, Judas) e Apocalipse de João. 
A ordem acima referida é temática e pouco tem a ver com a cronologia. De fato, o escrito mais antigo do Novo Testamento é a Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses; e o Evangelho de João foi um dos últimos escritos a aparecer. Tais coleções, portanto, estão organizadas segundo a temática e o gênero literário.

“O alimento espiritual alimenta a alma tornando o corpo vigoroso para todo tipo de luta. A Palavra de Deus é esse alimento. Portanto, toma e come!”

Bibliografia:
Curso de iniciação bíblica - Instituto Religioso Nova Jerusalém
A Bíblia nas suas origens e hoje – Johan Konings. Editora Vozes, 1998.


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