Novo
Testamento
“A
palavra de Deus, que é virtude de Deus para a salvação de todos os crentes
(cfr. Rom. 1,16), apresenta-se e manifesta o seu poder dum modo eminente nos
escritos do Novo Testamento. Com efeito, quando chegou à plenitude dos tempos
(cfr. Gál. 4,4), o Verbo fez-se carne e habitou entre nós cheio de graça e verdade
(cfr. Jo. 1,14). Cristo estabeleceu o reino de Deus na terra, manifestou com
obras e palavras o Pai e a Si mesmo, e levou a cabo a Sua obra com a Sua morte,
ressurreição, e gloriosa ascensão, e com o envio do Espírito Santo. Sendo
levantado da terra, atrai todos a si (cfr. Jo. 12,32 gr.), Ele que é o único
que tem palavras de vida eterna (cfr. Jo. 6,68). Este mistério, porém, não foi
descoberto a outras gerações como foi agora revelado aos seus santos Apóstolos
e aos profetas no Espírito Santo (cfr. Ef. 3, 46 gr.) para que pregassem o
Evangelho, e despertassem a fé em Jesus Cristo e Senhor, e congregassem a
Igreja. Os escritos do Novo Testamento são um testemunho perene e divino de
todas estas coisas” (DV 17).
A história do Novo Testamento gira em torno da
pessoa de Jesus de Nazaré. Ele é uma figura de importância singular em toda a
história. Os judeus nesse período estão sob a dominação do império romano.
Novo Testamento é uma expressão
que vem do latim: indica os livros da Bíblia escritos depois de Cristo e
contrapõe-se ao Antigo Testamento, ou seja, aos livros da Bíblia escritos antes
de Cristo. Para designar os dois “Testamentos”, melhor seria a expressão “Antiga
Aliança” e “Nova Aliança”. De fato, a idéia teológica de aliança é fundamental na
dinâmica interna da Bíblia, como Palavra de Deus para todos os crentes, e
percorre-a do primeiro ao último livro. O Antigo Testamento resume-a nesta
expressão: «Vós sereis o meu povo e Eu serei o vosso Deus.» (Lv 26,12; Jr 7,23;
Ez 37,27). Mas esta Aliança era provisória, apontava para a Nova Aliança (Jr
31,31-34) que foi selada com o sangue de Jesus Cristo (Mt 26,27; Mc 14,24; Lc
22,20), ou aquilo que chamamos Novo Testamento.
A formação do Novo Testamento
Escritos
entre os séc. I-II d.C., no contexto da civilização greco-romana, os livros do
Novo Testamento foram escritos na língua “comum” desse povo (o grego, koiné) e tem
como centro a mensagem de Jesus. Por isso, os Evangelhos são o eixo fundamental
de todo o Novo Testamento.
Jesus
anunciou a Boa Nova de forma oral, em aramaico, a língua falada então na
Palestina. Os seus discípulos também se preocuparam mais com o anúncio oral dessa
boa nova, que passa a ter na paixão, morte e ressurreição de Jesus o conteúdo
principal dessa mensagem. Por isso mesmo o Cristianismo, não é uma “Religião do
Livro”, mas da relação viva com uma pessoa, Jesus Cristo. Depois de terem
ouvido a mensagem oral, durante a “primeira geração” cristã, é que os
discípulos da “segunda geração” registraram por escrito as palavras e os fatos
da vida de Jesus para imprimir nos cristãos maior fidelidade à mensagem e os
conduzir à fé e à salvação em Cristo (Lc 1,1-4; Jo 20,30-31). Os Evangelhos não
são unicamente a “História de Jesus”; são sobretudo, a narração escrita das
palavras e dos fatos de Jesus de Nazaré, mas já iluminados pelo Cristo
ressuscitado, presente na sua Igreja ao longo de muitos anos.
A
Constituição Dei Verbum (n.° 19) diz que os Evangelhos não são História escrita
à maneira do nosso tempo. Os evangelistas fazem uma História em função da fé,
da teologia: resumem, interpretam, explicam e redigem fatos da vida de Jesus
para apresentar uma determinada idéia teológica a uma determinada classe de
ouvintes.
A
dominação romana acontece a partir de 63 a.C -135 d.C. Em 63 a.C Roma, através
do general Pompeu chega ao Oriente Médio. É o começo duma influência que não
cessou senão com as invasões partas e árabes no séc. VII. Assim a Palestina
passa a fazer parte do Império Romano. Herodes, o Grande (40-4 a.C) obtém de
Roma o título de rei. É no seu reinado por volta do ano 6 a.C que Jesus nasceu.
O nascimento de Jesus sucedeu durante o governo do imperador romano Augusto:
“Naquele tempo foi publicado um edito de César Augusto ordenando o
recenseamento de todo império”. (Lc 2,1), e a época do seu julgamento o procurador
romano era Pôncio Pilatos.
Morto
Herodes, seu reino é dividido em três partes e confiado aos seus filhos. A
Galiléia e a Pérsia fica sob o reinado de Herodes Antipas (4 a.C - 39d.C).
Arquelau, que reina sobre a Judéia e Samaria, não demora a se fazer odiar; é
exilado na Gália. É então substituído por funcionários romanos, os
procuradores, dos quais o mais conhecido é Pôncio Pilatos ( 26-36 d.C).
Politicamente, as
autoridades da Palestina reis ou procuradores romanos dependem do Imperador de
Roma. A partir de 66 d.C., começou a revolta contra o poder romano, que foi
severamente punida com a destruição de Jerusalém e do Templo, inaugurado poucos
anos antes. Com a destruição do Templo, desaparece a classe politicamente mais
forte, a classe sacerdotal ou dos Saduceus. Na fuga geral, também a pequena
comunidade cristã de Jerusalém, segundo algumas tradições, se refugiou em Péla,
na Decápole e noutros locais próximos. A partir de 70 d.C. desaparecem todos os
principados da Palestina e o território é governado por administração direta de
Roma.
Economicamente, a
Palestina, pequeno território junto do deserto, contava pouco na economia do
Império. Interessa, no entanto, saber como nela se vivia para compreender a
linguagem utilizada por Jesus nos Evangelhos, sobretudo nas parábolas. Trata-se
de um território de agricultura mediterrânica (trigo, cevada, figueira,
oliveira, videira) e de pastoreio de gado miúdo (ovelhas e cabras). O comércio
também ocupa um lugar de importância na vida quotidiana do povo.
Religiosamente,
fervilhavam pelo império muitas religiões e cultos pagãos, que gozavam de uma
relativa liberdade de culto e de proselitismo. Na Palestina, o templo de
Jerusalém concentrava as principais instituições judaicas. Era o centro
religioso, o lugar de Deus, do sacerdócio, das festas nacionais; mas também
onde as pessoas ligadas ao culto exerciam o poder político. Todo o varão judeu
adulto pagava uma didracma por ano de imposto ao Templo. Isso transformava o
Templo no centro econômico do povo de Deus.
O
primeiro Templo tinha sido construído por Salomão no séc. X e destruído pelos Babilônios
em 587 a.C.. O segundo, mais modesto, foi construído em 515, depois do exílio.
Um terceiro Templo foi construído por Herodes, o Grande; inaugurado no ano 60
d.C, foi destruído pelos Romanos no ano 70. Em forma de cubo de uns cinqüenta
metros e rodeado de vários átrios e portas, era uma obra digna da admiração de
qualquer visitante (ver Mt 24,1; Mc 13,1; Jo 2,20). No tempo de Jesus estava na
fase de acabamento.
A
Sinagoga era a instituição religiosa mais importante depois do
Templo, aonde todo o bom judeu acudia cada sábado. O próprio Jesus freqüentava
a Sinagoga (Lc 4,16-38). Era o lugar onde se proclamava e comentava a Palavra
de Deus e se fazia a oração da comunidade; também servia de escola e centro de
cultura. Teve especial importância sobretudo na Diáspora. Era chefiada pelos
Doutores da Lei e fariseus; e, como não havia sacrifícios, os sacerdotes não
tinham nela importância maior.
Os
grupos religiosos de então:
Os
Fariseus. Pessoas da classe média e baixa eram especialmente
devotos e cumpridores de todas as normas da Lei de Moisés. A sua origem, sendo
embora duvidosa, deve remontar à revolução de Judas Macabeu (séc. II a.C.: 1
Mac 2,42). Considerando Deus como o único Rei de Israel, opunham-se ao poder
político instalado: os Romanos e a dinastia de Herodes. Como dominavam na
Sinagoga, mediante a sua pregação, levavam o povo a pensar do mesmo modo. Por
isso, constituíam o grupo mais numeroso de todos. Jesus denunciou muitas vezes
a sua rigidez legalista, que não respeitava o mais importante, o amor, e
juntava muitas outras tradições a chamada Lei oral ou “tradição dos antigos” às
prescrições escritas na Bíblia. Admitiam como canônicos todos os livros da
atual Bíblia Hebraica, ou seja, a Lei, os Profetas e outros Escritos (os do AT
que estão nas Bíblias católicas, exceto os Dêuterocanônicos). Sendo rígidos na
observância da Lei, eram progressistas nas idéias religiosas, pois admitiam, ao
contrário dos Saduceus, a ressurreição final e a existência de anjos. Destruído
o Templo, no ano 70, com ele desapareceu também a sua organização cultual: os
sacerdotes e os sacrifícios. Restava a Lei, a Palavra de Deus que estava na mão
dos Fariseus da Sinagoga. E foi a Sinagoga que perpetuou o judaísmo até aos
nossos dias.
Os
Doutores da Lei ou Escribas. Eram o grupo mais ligado ao dos
Fariseus. O Novo Testamento se refere freqüentemente a estes rabinos copistas
que se tornaram também intérpretes da Lei. Eram os “teólogos” do farisaísmo,
embora também houvesse Doutores da Lei entre os Saduceus.
Os
Saduceus (nome que deriva do Sumo Sacerdote Sadoc) existiam, como
partido político, desde o séc. II a.C.. Eram a classe mais ligada ao Templo,
por constituírem a classe sacerdotal. Além do sacerdócio, detinham ainda grande
parte do poder político, pois, ao contrário dos fariseus, presidiam o Sinédrio,
por meio do Sumo Sacerdote. Politicamente abertos à autoridade romana, eram
conservadores em matéria de religião, pois, ao contrário dos fariseus, admitiam
como canônicos apenas os cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco) e
negavam a existência dos anjos e a ressurreição. Esta classe sacerdotal, no
exercício das suas funções, era assistida pelos Levitas, que tinham especial
missão no canto litúrgico e nos sacrifícios.
Os
Samaritanos. Como o nome indica, eram os habitantes da
Samaria, descendentes da população mista israelita e pagã que ocupou aquele
território depois do exílio dos Samaritanos para Nínive (711 a.C.). Como livros
canônicos, só admitiam o Pentateuco (tal como os Saduceus) e tinham um templo
no monte Garizim (2 Rs 17,24-28; Esd 4,1-4). Por este motivo, os Judeus
(habitantes da Judéia, ao sul) rejeitavam-nos, como se fossem pagãos (Lc
10,25-37; Jo 4,19-22).
Os
Zelotas. Como o próprio nome indica, zelavam pela independência
nacional de Israel contra o poder político estrangeiro. Mas a sua luta era
violenta, provocando sucessivos confrontos e atentados contra o exército
ocupante.
Os
Herodianos. Eram os partidários da dinastia de Herodes, o Grande, que
governou os diversos territórios da Palestina a partir do ano 37 a.C. sob a
suprema autoridade dos Imperadores de Roma (ver Lc 13,31-32).
Livros
do Novo Testamento
O Novo
Testamento possui 27 livros, agrupados da seguinte forma: Quatro Evangelhos
e Atos dos Apóstolos, Cartas de Paulo, Carta aos Hebreus, Cartas Católicas
(Tiago, 1 e 2 de Pedro, 1, 2 e 3 de João, Judas) e Apocalipse de
João.
A
ordem acima referida é temática e pouco tem a ver com a cronologia. De fato, o
escrito mais antigo do Novo Testamento é a Primeira Carta de Paulo aos
Tessalonicenses; e o Evangelho de João foi um dos últimos escritos a aparecer.
Tais coleções, portanto, estão organizadas segundo a temática e o gênero
literário.
“O
alimento espiritual alimenta a alma tornando o corpo vigoroso para todo tipo de
luta. A Palavra de Deus é esse alimento. Portanto, toma e come!”
Bibliografia:
Curso de iniciação bíblica -
Instituto Religioso Nova Jerusalém
A Bíblia nas suas origens e
hoje – Johan Konings. Editora Vozes, 1998.
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