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segunda-feira, 20 de maio de 2019

Uma pequena Introdução a Bíblia - parte III


O bloco do Pentateuco

            Durante o exílio da Babilônia, a reflexão religiosa, social e política foram elaboradas a partir dos sacerdotes ligados ao templo de Jerusalém (um exemplo é o profeta Ezequiel). O objetivo dessa reflexão é manter viva a identidade nacional como povo da aliança. O resultado foi: um conjunto de leis rituais e a composição da história das origens (de Israel!) conhecida como Lei, ou Pentateuco.
            O primeiro passo é reconhecer que o Pentateuco, como todos os outros livros da Bíblia, é o resultado de uma experiência vivencial do povo que caminha. Só depois de um tempo, é que toda essa experiência vivencial se transformava em Livro. Há toda uma tradição oral, ou seja, uma transmissão de geração em geração dos costumes, das leis, das poesias, do culto e da cultura... Seja por ocasião das festas ou de alguma iniciação ritual.
            Em torno da figura de Moisés surge um elemento novo, um código que estabelece regras fundamentais para o povo. São os dez mandamentos, ou decálogo, que se encontram em Ex 20 = Dt 5.
            Outras tradições antigas como as canções de Débora (Jz 5) e de Josué (Js 10,13), Miriam (Ex 15,21), os oráculos de Balaão (Nm 22-24). “O livro das guerras de Javé”, do tempo dos Juízes (Nm 21,14) e o “livro do justo” (cf. Js 10,13; 2 Sm 1,18), fazem parte do corpo do Pentateuco.
            O Pentateuco é formado de tradições que logo após o exílio recebem a forma de Livro transmitindo uma mensagem sobre a origem do mundo, do homem e do povo.
            Antes de David e Salomão existia uma tradição oral e alguns textos escritos: o código da Aliança e o Decálogo (Ex 20-23), por exemplo. Segundo alguns estudiosos o texto dos primeiros livros da Bíblia (Toráh) seria o resultado de 4 “fontes” ou “documentos” conhecidos com o nome de Javista (J), Eloista (E), Sacerdotal (P) e Deuteronomista (D).
Durante o reinado de David-Salomão (séc IX-X) aparece a fonte “Javista”, assim chamada porque chama a Deus com o nome de “Javé”. Os Livros de Samuel surgem neste tempo, com o objetivo de legitimar a monarquia.
Neste tempo começam a ser escritas algumas partes do Livro do Gênesis, do Êxodo, alguns Salmos e nasce a literatura sapiencial.
            Com a morte de Salomão o reino divide-se, Israel (ou Reino do Norte) e Judá (ou Reino do Sul). No reino do Norte nasce a tradição “Eloista” (séc IX-VIII), assim chamada porque chama a Deus com o nome de “Eloim”. (Livros dos Reis, Amós, Oseias, Miqueias, Isaías).
 Em 722 o Reino do Norte caiu sob o poder da Assíria. Muitos dos habitantes fugiram levando consigo os escritos e as tradições sagrados para o Reino de Judá. Foi assim que as duas tradições, Javista e a Eloista, se uniram. (Jeremias, 2º Isaías).
O Livro do Deuteronômio começou a ser escrito (uma primeira redação) no Reino do Norte, antes da ocupação Assíria (722). Tem como base a renovação litúrgica da Aliança em Siquém (Js 24).
Um século mais tarde foi encontrado no Templo e chamado o «Livro da Aliança» (2Rei 23,3-20). O Rei Josias (640-609), contemporâneo do profeta Jeremias, tentou por em pratica este livro iniciando uma reforma religiosa. A redação final pode ser datada nos séc. V-IV a.C. 
Em 587 Nabucodonosor, rei de Babilônia, tomou a cidade santa e deportou muitos dos seus habitantes. Em terra estrangeira os sacerdotes voltaram às antigas tradições, insistindo sobre as celebrações litúrgicas (P).

Conteúdo teológico do Pentateuco

A criação do mundo e do homem (Gn 1-11);
A origem do povo: os patriarcas (Gn 12-50);
Êxodo-Aliança-Lei (Ex-Dt).

Bloco dos Profetas anteriores

            A Bíblia Hebraica chama assim, os livros de Js, Jz, Sm e Rs (nós conhecemos esses livros como históricos). É a primeira coleção de profetas:
Séc. XII-XI: Js e Jz;
Séc. XI-X: 1/2 Sm;
Séc. X-VI: 1/2 Reis.
            O primeiro período importante para compreender o nascimento da Bíblia estende-se de 1250 até 550 a.C. aproximadamente. É o período do Israel antigo. Essa literatura pressupõe um fato inicial: a libertação das tribos do Egito ou Êxodo.
            Esse bloco foi composto por um grupo de escribas que pertenciam a escola teológica que redigiu o livro do Deuteronômio. 

Bloco dos profetas posteriores

            No que diz respeito à produção literário-profética, podemos dividir os profetas em aqueles que escreveram livros (os escritores) e os que nada deixaram escrito (não-escritores). Os escritores são os quatro maiores e os doze menores. Os não escritores são aqueles que fizeram profecia, mas não escreveram seus oráculos, denuncias e discursos. São eles os mais conhecidos: Samuel, Elias, Eliseu e Natã.
Séc. VIII: Am, Os, Is, Mq;
Séc. VII -VI: Jr, Sf, Na, Hab, Ez, 2º Is, Ab, 3º Is, Ag, 1º Zc;
Séc. V- IV: Ml, Jl, Jn, 2º Zc.
            A mensagem de cada um desses profetas varia de acordo com o momento histórico em que viveram e de acordo com os ouvintes de sua pregação.
            Embora cada um deles tenha a sua forma própria de anunciar e denunciar (a dupla função do profeta) podemos encontrar duas mensagens fundamentais nesses escritos. A primeira é aquela que exige conversão, onde a exigência principal é que toda a realidade (social, política, econômica, religiosa, etc) seja mudada, a luz da Palavra de Javé, a fim de que não recaia sobre todo o povo o julgamento de Deus. Essa é mensagem central dos profetas que vieram antes do exílio.
            A segunda mensagem fundamental é a dos profetas que viveram durante o exílio, na terra da Babilônia, e depois que o povo voltou para a sua pátria. Eles transmitem palavras de esperança, de animo, de encorajamento; incentivam o povo, que tinha perdido sua terra e seus ideais, para que retomem a caminhada da reconstrução e da luta, e recuperem a fé em Deus e a própria cultura. São os profetas da consolação. Os livros proféticos mostram como homens de uma fé profunda e vigorosa em Deus procuram levar o seu povo a um relacionamento renovado e responsável com o Deus que julga e salva.

 Bloco do Cronista

            Chama-se “historiografia cronista” os livros 1/2 Crônicas e Esdras e Neemias pois possuem as mesmas características teológicas e literárias. A sua redação final situa-se no final do séc. IV aC. os grandes temas teológicos são: o templo, o culto e a raça. Essa historiografia pode ser conhecida como a história do primeiro e segundo templo.
            Existe toda uma idealização do rei Davi, de onde se espera uma dinastia duradoura (2 Sm 7,8-13). A releitura cronista se dá no tempo em que toda a vida do povo é dirigida pelos sacerdotes do templo, na observância da lei e na prática do culto.

O bloco da sabedoria de Israel

            Recolhe-se uma coleção de textos para uso litúrgico ou para o culto do templo, como também sentenças populares que vai do judaísmo antigo até a época do judeu-helenismo. São eles: Jó, Provérbios, Eclesiastes, Eclesiástico, Sabedoria, Cântico dos Cânticos e os Salmos.
O bloco das novelas

            Os dois primeiros (Tobias e Ester) são romances relacionados à diáspora, ou seja, as comunidades judaicas espalhadas pelo mundo grego. Já o livro de Judite é uma narração alegórica exaltando a resistência do povo judeu na figura de uma mulher.

O bloco da resistência

            Esse bloco se refere aos dois livros dos Macabeus. Esses livros exaltam a resistência até o martírio dos judeus piedosos tendo seu maior expoente Judas Macabeu. É também uma historiografia da dinastia dos Macabeus. É também um livro da época helenística.
Por causa da invasão da Palestina a dinastia dos Macabeus assume o comando na cidade organizando a resistência armada. Eles resistem ao domínio dos Selêucidas que querem impor pela força a cultura e religião helenística, instalam no templo um altar a Zeus. Começa por esta época em Israel os martírios. Os irmãos de Judas e a seguir seus descendentes, restabelecem por um momento o reino de Israel.
Na época pós-exílica, nasce um conjunto de textos com o objetivo de atualizar certos temas da Lei e dos Profetas. Esses textos chamamos de Midraxes. O livro de Rute é um exemplo desse gênero literário.

A «economia» do Antigo Testamento destinava-se, sobretudo a preparar, a anunciar profeticamente (cfr. Lc. 24,44; Jo. 5,39; 1 Ped. 1,10) e a simbolizar com várias figuras (cfr. 1 Cor. 10,11) o advento de Cristo, redentor universal, e o do reino messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do gênero humano antes do tempo da salvação estabelecida por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo com que Deus justo e misericordioso trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias, revelam, contudo, a verdadeira pedagogia divina. Por isso, os fieis devem receber com devoção estes livros que exprimem o vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o mistério da nossa salvação” (DV 15).

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