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quarta-feira, 1 de maio de 2019

Uma pequena Introdução a Bíblia


Pra começo de conversa...

A Bíblia é uma grande biblioteca (o termo Bíblia é o plural da palavra grega bíblion (= livro) e significa originalmente “os livros”). Algumas pessoas chegam a pensar que a Bíblia seja resultado do trabalho de um único autor. Na verdade, são muitos livros, muitos autores e épocas diferentes. Por isso, para ler a Bíblia é preciso ter um olhar no passado (por onde passa a chamada antiga aliança), no presente (onde se atualiza a nova aliança) e no futuro (na esperança do tempo escatológico que corta tanto a antiga como a nova aliança).
A partir daí surge uma pergunta: quem é o autor da Bíblia?

Deus é o autor da Sagrada Escritura: por meio do documento conciliar chamado Dei Verbum[1] a Igreja afirma que tudo o que está escrito em toda a Sagrada Escritura é de inspiração divina, portanto, tem Deus como autor, “Na redação dos Livros Sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo Ele próprio neles e por meio deles, escrevessem como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio queria” (Dv 11).

O homem é também autor na medida em que escreve sob inspiração divina: Cada pessoa no seu contexto histórico expressou de maneira fundamental a revelação que Deus quis que estivesse ao alcance dos homens e mulheres de todos os tempos, de modo que essa revelação se torna “História da Salvação”. Cada pessoa escreve a partir do lugar, da cultura, da realidade sócio-política, econômica e religiosa presente no seu tempo e que o influencia na hora em que esse autor vai escrever o seu livro. Mas como tudo o que os autores sagrados afirmam é de inspiração do Espírito Santo “deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus em vista da nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras” (DV 11). E é bom dizer que por causa dessa influencia contextual, em alguns lugares da Escritura encontramos informações principalmente de caráter histórico e geográfico que apresentam erros. Por exemplo: o Evangelho de Marcos começa atribuindo ao profeta Isaías uma citação do profeta Malaquias (Mc 1,2)! A diferença do número de exilados de Judá, 4.600 conforme Jr 52,30, em vez de 18.000 conforme a contagem de 2Rs 24,14-16. E isso quer dizer o que? Que a Bíblia não diz a verdade? Claro que não! O importante é a verdade religiosa que se abre em todo Livro Sagrado. Quando se afirma que Deus inspirou o autor sagrado não quer dizer que ele tomou a caneta das mãos do hagiógrafo e escreveu de seu próprio punho. Isso seria uma visão ingênua. Ele inspira o autor a partir da sua própria experiência religiosa e esse por sua vez expressa aquilo que Deus quer manifestar ao povo. Ouvi uma vez um grande exegeta dizer: “O homem escreve no papel e Deus na vida”.

A tradução da Bíblia

A Bíblia foi escrita originalmente em três línguas. O AT em hebraico e alguns textos em aramaico. Os últimos textos do AT foram escritos em grego, que era a língua usada nas comunidades da diáspora, onde se encontrava comunidades de judeus, fora da terra de Israel. O NT foi todo escrito em grego.
Das antigas traduções temos dois grandes grupos: as de origem judaica (Pentateuco samaritano e a tradução dos Setenta) e de origem cristãs (vulgata).
Septuaginta: quando, no Séc. IV a.C, Alexandre Magno conquistou o antigo império Persa (inclusive a Palestina), a língua oficial tornou-se o grego. Muitos judeus, não apenas na diáspora, como também na própria Palestina, passaram a falar o grego. Foi, sobretudo, na importante cidade de Alexandria, no Egito, que a colônia judaica mais assimilou a cultura helenística. No Séc. III a.C, os judeus de Alexandria, incentivados pelo rei egípcio Ptolomeu II, começaram a traduzir a bíblia para o grego. Costuma-se dizer, que isso ficou na responsabilidade de 70 sábios, de onde seu nome: Septuaginta ou Setenta (sigla LXX).
Vulgata: No Séc. IV d.C, o imperador Constantino se converteu ao Cristianismo, e em 390 d.C, o imperador Teodósio proclamou o Cristianismo religião oficial do Império Romano. Com isso, tornou-se religião das massas populares, também na Europa Ocidental (Itália, Espanha, Gália/França) e na África setentrional onde a língua popular era o latim. Impo-se a necessidade de traduzir a Bíblia para o latim. A pedido do Papa, o teólogo romano São Jerônimo fez uma tradução integral da Bíblia para o latim chamada Vulgata. Depois do Concílio Vaticano II a Igreja Católica publicou a Nova Vulgata, que é o texto oficial da Igreja.
As grandes traduções da atualidade: Bíblia Matos Soares, Bíblia do Pontifício Instituto Bíblico, a Bíblia de Jerusalém, Bíblia Sagrada – Edição Pastoral e Bíblia do Peregrino.
A pergunta é: qual a melhor tradução? É aquela que atende a necessidade do leitor. Por exemplo: para uma leitura popular da Bíblia, em grupos de reflexão, círculos bíblicos, grupos de oração pode-se usar a Bíblia Sagrada – Edição pastoral, a tradução da CNBB ou até mesmo a tradução da Ave Maria. Já o leitor que quer aprofundar o seu conhecimento da Palavra de Deus, pode ler a Bíblia de Jerusalém, a TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia) ou a Bíblia do Peregrino, porque além de se traduzidas do texto original nos oferecem mais recursos de pesquisa.

O Cânon da Bíblia

Dá-se o nome de Cânon (do grego Kanón = regra, medida) a lista ou catálogo dos livros sagrados que são considerados pelos judeus e cristãos como inspirados por Deus.
- Canônico = livro catalogado – o que implica que seja inspirado.
- Protocanônico = livro catalogado em 1º lugar ou aceito no 1º cânon.
 - Deuterocanônico = livro catalogado posteriormente.
- Apócrifos = livro não lido nas assembléias públicas de culto por não terem sido aceitos na relação dos livros sagrados, reservado a leitura particular. Durante muito tempo foram rejeitados, mas agora se vê como são valiosos para a história do Cristianismo. Neles podem conter proposições verdadeiras que não foram acolhidas pelos autores sagrados. Através dessas obras se vê o modo de pensar de judeus e cristãos daquela época.

Capítulos e versículos

Durante muito tempo não houve qualquer divisão em capítulo ou versículo. O próprio Jesus quando encontra-se na sinagoga (Lc 4,16-28) toma o rolo em suas mãos e ao abrir encontra o texto do profeta Isaías. Continuava-se o texto em cada encontro sinagogal até se concluir toda a leitura da Lei, e a única divisão era a dos livros conforme o costume. A divisão em capítulos só se deu em 1228 e em versículos em 1559, no início da modernidade. Dependendo da tradução podemos encontrar diferenças quanto aos capítulos e versículos, sendo que a nossa principal preocupação deve ser com o sentido do texto. Essa divisão colabora na leitura litúrgica nas igrejas e pode ajuda o leitor a encontrar sem maiores dificuldades o texto que está procurando. Vamos ver um exemplo:
            Mt 5,1. Mt é a abreviatura do Evangelho de Mateus. O que vem antes da vírgula é o capítulo e depois da vírgula o versículo. A vírgula separa o capítulo do versículo.
            Às vezes você encontra a citação dessa forma: Mt 5,1-12 ou Mt 5-7. O hífen indica a seqüência de capítulos ou versículos. Esse exemplo você lê assim: Evangelho de Mateus capítulo 5, dos versículos 1 ao 12 e Evangelho de Mateus capítulo 5 ao 7.
            O ponto e vírgula é outro sinal usado. Ele pode separar tanto livros da Bíblia como capítulos. Exemplo: Mt 5,1-12; Lc 6,12-16. O ponto e vírgula separam uma citação do Evangelho de Mateus de uma do Evangelho de Lucas. Pode ser também assim: Mt 5,1-12; 10,1-11. Nesse exemplo, o capítulo 5, versículo do 1 ao 12 está separado do capítulo 10, versículo do 1 ao 11. Quando vamos ler já se sabe que a leitura se refere só aos capítulos e versículos a qual alude à citação.
            O ponto separa versículo de versículo. Por exemplo: Mt 5,1-12.16. Isso significa que além de ler os versículos de 1-12, eu também vou ler o versículo 16.
            Como devemos ler essa citação? Mt 5,1-12.16-48; 7,21-22. Evangelho de Mateus capítulo 5, versículo de 1 ao 12, depois os versículos de 16-48. Em seguida ler o capítulo 7, do versículo 21 ao 22.
            Quando encontramos uma letra (a ou b) depois de um versículo, isso significa que estamos citando apenas a primeira parte (a) ou a segunda parte (b) desse versículo.
Às vezes depois da citação de um versículo você pode encontrar um “s” ou “ss”. Isso significa que são citados um ou mais versículos logo depois. Por exemplo: Mt 5,1s. Você vai ler só o versículo 1 e 2.



[1] Esse documento trata do tema da Revelação divina e se tornou um importante instrumento da chamada renovação bíblica. É um dos documentos do Concílio Vaticano II (1962-1965).

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