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quinta-feira, 16 de maio de 2019

Percorrendo os Evangelhos para conhecer Jesus - parte I


Para a cristologia segundo a comunidade de Marcos, fica a pergunta: Quem é Jesus? O Evangelho se desenrola com essa dúvida:
Em Mc 1,27, após ensinar na sinagoga de Cafarnaum e expulsar um espírito impuro, surge a pergunta: “O que é isso? Um ensinamento novo, e com autoridade: ele dá ordens até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!”
Em Mc 4,41, quando Jesus acalma a tempestade, seus discípulos espantados se perguntam: “Quem é este, a quem obedecem até o vento e o mar?”
Em Mc 6,1-6, as perguntas se multiplicam e começam as tentativas mais diversas para dar conta dessa personagem. Afinal quem é ele? Nesse trecho, Jesus estava ensinando na sinagoga de Nazaré e os presentes ali questionam: “De onde lhe vem isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres (atos de poder) realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?” Assim, a primeira tentativa o liga à sua origem familiar que não consta de muito prestígio social. Em Nazaré ele não pode realizar nenhum milagre por causa da incredulidade do povo.
Em 6,14-16, as possibilidades de resposta se alargam e a pessoa de Jesus recebe identificações com personagens da tradição profética. Uns dizem que é João Batista que ressuscitou dos mortos; outros dizem que ele é Elias; e ainda outros dizem que é um profeta como um dos antigos profetas. Herodes, após ouvir as opiniões, afirma: “Esse João, que eu mandei decapitar, ressuscitou”.
Em Mc 8,27-30, a última vez que a pergunta sobre a identidade de Jesus aparece no texto marcano, é feita pelo próprio Jesus e é dirigida aos discípulos: “Quem os homens dizem que eu sou?” A resposta é uma repetição quase idêntica à do texto de Herodes: João Batista, Elias ou um dos profetas. Em seguida, Jesus pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?” A resposta agora vem de Pedro: “Tu és o Cristo”.
Desde o início Jesus é uma figura que causa admiração em muitos, mas não se sabia direito quem ele era. O mais incrível é que, na narrativa marcana, de onde menos se espera, sai a “revelação” de quem ele era:
Assim, em Mc 1,24, o espírito impuro antes de ser expulso diz “eu sei quem tu és: o Santo de Deus!” Mais, em Mc 1,34, o texto diz que “ele curou a muitos e expulsou muitos demônios, e não lhes permita falar porque sabiam quem ele era”. Também em Mc 3,11, os espíritos impuros caem aos pés de Jesus gritando: “Tu és o Filho de Deus”.
Sigamos em frente pois a resposta ainda não foi de todo dada, ou ao menos, não de forma satisfatória. Após a confissão de Pedro, “Tu és o Cristo” (8,29), Jesus não diz se ele está certo ou errado, embora saibamos que sim, Pedro acertou. A resposta do apóstolo nos reporta para o começo da narrativa: “Evangelho de Jesus Cristo, filho de Deus” (Mc 1,1). Será que estamos perto de responder as perguntas que são feitas ao longo da narrativa?
Depois da confissão de Pedro, Jesus simplesmente começa a anunciar sua paixão, morte e ressurreição. Um escândalo para os discípulos. Jesus anuncia seu destino trágico três vezes (Mc 8,31; 9,31-32; 10,33-34) e em todas elas aparece o elemento da incompreensão. Era necessário superar a ideia nacionalista de um messias glorioso, vitorioso, conforme a ideia humana.
A glória e a vitória do Cristo se dão pelo caminho da cruz. Assim, para Marcos Jesus é o Messias: Filho do Homem crucificado e Filho de Deus ressuscitado.
O Evangelho de Marcos nasce da necessidade da comunidade de pôr por escrito suas memórias sobre quem é Jesus, reforçando que ele não é o Messias do poder e da glória, pois seu messianismo passa pelo sofrimento e pela cruz. Eis alguns pontos principais desse texto:
Para Mateus vemos desde o início a preocupação em reforçar a identidade de Jesus como único e verdadeiro Messias. Ao abrir o Evangelho de Mateus, lemos: “Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1). Desde as primeiras palavras ouvimos:
“Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,6-7);
“Com efeito, eu vos asseguro que, se a vossa justiça não ultrapassar a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20);
“Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20);
“Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me” (Mt 25,35-36).

O conflito entre os judeus fariseus e os judeus-cristãos era grande. Nesse contexto, algumas perguntas pairavam na cabeça de muitos judeus: Quem falava verdadeiramente pelo Deus de Israel? Quem entendia e interpretava com exatidão a Torá? Quem estava capacitado para interpretar o passado e conduzir o povo de Deus ao futuro?
Segundo a Revista Vida Pastoral, eis alguns pontos importantes do Evangelho de Mateus:
a) As comunidades de Mateus acreditam em Jesus como o Messias, em oposição ao messias rei poderoso e defensor da Lei, esperado pelos fariseus (Mt 1,1-2,18). É o messianismo dos excluídos (Is 42,1-9) contra o messianismo do rei (Ez 37,21-28). Ele é o Messias anunciado pelos profetas, e a sua vida e prática eram cumprimento do plano determinado por Deus.
b) Jesus é o verdadeiro intérprete da Lei: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado” (5,17-18). Jesus é o único e verdadeiro Mestre da Lei (5,1; 23,8). A Lei deve estar a serviço da vida, e não condicionada à lei do puro-impuro (Lv 11-15), que acabou se transformando numa observância mecânica e lucrativa, excluindo muitas pessoas, especialmente os pobres.
c) A prática de Jesus pobre, humilde e misericordioso corresponde à justiça de Deus (11,28-30). Ele vem ao encontro do ser humano, perdoa e salva. A sua prática é baseada no amor e na misericórdia (9,13; 12,7). Uma justiça solidária!
d) A correção fraterna contra o legalismo e o rigorismo da sinagoga (18,23-35). É preciso sair e ir ao encontro da pessoa que errou! Essa comunidade proclama que, em Jesus, Deus está conosco: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (18,20). Sempre: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (28,20b).
e) O Juízo Final e o Reino dos Céus (24-25). O critério de julgamento no Juízo Final é a fidelidade à vontade de Deus. O que o Pai quer é a prática da misericórdia e da solidariedade, oposta à teologia da retribuição. Nesta teologia, a salvação (compreendida como prosperidade, vida longa, saúde e ressurreição) é uma retribuição a quem observa a Lei, visando somente à sua salvação e promoção individual. O Reino dos Céus está presente no meio das pessoas misericordiosas e solidárias e será definitivamente estabelecido por uma intervenção de Deus e do seu Messias. O Reino é fruto da gratuidade de Deus (Mt 13)!

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