“O
Filho de Deus, feito Filho da Virgem, aprendeu a orar segundo o seu coração de
homem. Aprendeu as fórmulas de oração com a sua Mãe, que conservava e meditava
no seu coração todas as «maravilhas» feitas pelo Omnipotente (41). Ele ora com
as palavras e nos ritmos da oração do seu povo, na sinagoga de Nazaré e no
Templo. Mas a sua oração brotava duma fonte muito mais secreta, como deixa
pressentir quando diz, aos doze anos: «Eu devo ocupar-me das coisas do meu
Pai» (Lc 2, 49). Aqui começa a revelar-se a novidade da oração na
plenitude dos tempos: a oração filial, que o Pai esperava dos seus
filhos, vai finalmente ser vivida pelo próprio Filho Único na sua humanidade,
com e para os homens”
(CIC 2599).
É justamente no Evangelho de Lucas que vemos
Jesus como “homem de oração”. No começo de sua vida pública, por ocasião do
batismo, ele “se achava em oração” (3,21). Quando ele precisou escolher seus
discípulos “passou a noite inteira em oração a Deus” (6,12). Sua fama ia
crescendo e multidões queriam ouvi-lo. Ele poderia ter se aproveitado dessa
situação para adquirir prestígio social, privilégios e obter vantagens, mais
não, preferia “os lugares deserto para orar” (Cf. 5,16). Foi justamente em uma
dessas vezes que Jesus orava que um dos seus discípulos lhe pediu: “ensina-nos
a orar” (11,1).
“Não é, porventura, ao contemplar
primeiro o seu Mestre em oração, que o discípulo de Cristo sente o desejo de
orar? Pode então aprendê-la com o mestre da oração. É contemplando e
escutando o Filho que os filhos aprendem a orar ao Pai” (CIC 2601).
Jesus ensina o seu jeito de se
relacionar com Deus, expõe seu segredo. O Pai Nosso é a síntese de seu projeto “Depois de o Senhor nos ter legado
esta fórmula de oração, acrescentou ‘Pedi e recebereis’ (Jo 16, 24).
Cada um pode, portanto, dirigir ao céu diversas orações segundo as suas
necessidades, mas começando sempre pela oração do Senhor, que continua a ser a
oração fundamental” (CIC
2761)
O teólogo Bohn Goss nos diz que os
dois primeiros pedidos, Jesus nos propõe acolher o Pai com o seu projeto,
expresso por seu nome e pela justiça do reino. Nos três pedidos seguintes,
Jesus nos pede que, da mesma forma como ele, também nós respondamos ao Pai,
vivendo novas relações entre nós[1].
A oração que Jesus ensina começa
com uma palavra que parece sair da boca de uma criança: Abbá quer dizer paizinho, papai querido. Não foi o Mestre mesmo que
disse que devemos nos parecer como uma criança para herdar o Reino dos céus?
(Cf. Mt 18,3). Temos a certeza que esse pai acolhe, abraça e perdoa. Ao lado
dele aprendemos a agir como filhos, cheio de confiança, entrega e segurança.
Chamando a Deus de paizinho vamos sendo curados de tantas doenças da alma que
adquirimos por causa da ausência, da falta de amor.
“Devemos lembrar-nos
de que, quando chamamos a Deus «Pai nosso», temos de nos comportar como filhos
de Deus” (...) Pai nosso – que haverá
de mais querido para os filhos do que o pai? – Este nome suscita em nós ao
mesmo tempo o amor, o afeto na oração, [...] e também a esperança de obter o
que vamos pedir [...]. De fato, que pode Ele recusar à súplica dos seus filhos,
quando já previamente lhes permitiu que fossem filhos seus?” (CIC 2785)
Que através de nós seus filhos “seja
santificado o seu nome”. Como filho desse Pai, trazemos seu nome como
uma marca identitária. Sou Robson de Jesus, o crucificado que venceu a morte,
fui registrado com a tinta do seu sangue que jorrou do lado aberto na cruz.
Portanto, devo ser santo para santificar o seu nome. Devo agir manifestando a
glória daquele que me chamou a ser filho. E como sua glória passa pela cruz,
devo me identificar com esse caminho atualizando sua mensagem salvadora. Não
podemos esquecer dos muitos irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai,
principalmente os pobres, a quem devo servir no amor e na alegria, tornando
santa nossa caminhada.
Venha o teu Reino é assim que oramos. Diante das
autoridades Jesus disse que o seu Reino não era deste mundo, por isso devemos
saber de onde ele é para ajudar a implantá-lo. Quando ele diz que não é deste
mundo devemos entender que não são as categorias de poder dos reinos deste
mundo que devemos buscar. Não é aí que vamos encontrar o Senhor e Rei. Se o
Reino é de Jesus, então devemos procurar a ele, que é rei, não como os outros
reis, para fazermos parte do seu reino de alegria, paz e justiça (cf. Rm
14,17). Olhando para a atuação de Jesus nos evangelhos descobrimos facilmente
que o reino de Deus não está aqui nem acolá mais sim na relação de amor que
estabelecemos. É amando a Deus e ao próximo que antecipamos a chegada do Reino
diminuindo a tensão que existe entre o agora e o ainda não.
“Só um coração puro pode dizer
com confiança: ‘Venha a nós o vosso Reino’. É preciso ter passado pela escola
de Paulo para dizer: ‘Que o pecado deixe de reinar no vosso corpo mortal’ (Rm 6, 12). Quem se conserva puro nos seus atos, pensamentos e
palavras é que pode dizer a Deus: ‘Venha a nós o vosso Reino!’” (CIC 2819).
O pedido central do Pai-nosso é o pão nosso de cada dia. A economia do
Reino está no centro dessa oração, pois não podemos nos conformar com a
ausência das condições mínimas para que o ser humano viva com dignidade. Devemos
trabalhar pelo pão partido e repartido, em uma nova lógica que supere toda o
egoísmo que produz fome. Não podemos esquecer que “a Eucaristia é o nosso pão
de cada dia [...]. A virtude própria deste alimento é a de realizar a unidade a
fim de que, reunidos no corpo de Cristo, tornados seus membros, sejamos o que
recebemos. [...] E também são pão de cada dia as leituras que em cada dia ouvis
na igreja; e os hinos que escutais e cantais, são pão de cada dia. Estes são os
mantimentos necessários para a nossa peregrinação” (CIC 2837)
Perdoar é remir, cancelar uma
dívida. A boa nova do Evangelho é que Jesus veio pagar essa dívida por meio do
seu sangue. Sendo todo pecador um devedor, Nosso Senhor nos ensina através do
Pai Nosso que o perdão de nossas dívidas depende do perdão que damos aos nossos
devedores (cf. Mt 6,12). O
Perdão gera em nós uma relação de confiança, abandono nas mãos daquele que pode
nos amparar, abraçar e levantar. Essa confiança nos encoraja a continuar o
longo processo de conversão que depende do nosso arrependimento.
Jesus foi conduzido pelo Espírito
Santo ao deserto. Lá ele foi tentado. A partir do seu exemplo oramos dizendo “não nos deixeis cair em tentação”. Não
queremos ceder ao poder que oprime e marginaliza nem mesmo sucumbir ao perigo
das riquezas que se levanta como um ídolo moderno. Não queremos soluções mágicas
para resolver os problemas porque são ilusórias. Queremos assumir o caminho da
partilha, do reconhecimento do senhoril de Jesus, do serviço doado e da
humildade.
Amém,
assim seja!
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