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sexta-feira, 26 de abril de 2019

Jesus, homem de oração




“O Filho de Deus, feito Filho da Virgem, aprendeu a orar segundo o seu coração de homem. Aprendeu as fórmulas de oração com a sua Mãe, que conservava e meditava no seu coração todas as «maravilhas» feitas pelo Omnipotente (41). Ele ora com as palavras e nos ritmos da oração do seu povo, na sinagoga de Nazaré e no Templo. Mas a sua oração brotava duma fonte muito mais secreta, como deixa pressentir quando diz, aos doze anos: «Eu devo ocupar-me das coisas do meu Pai» (Lc 2, 49). Aqui começa a revelar-se a novidade da oração na plenitude dos tempos: a oração filial, que o Pai esperava dos seus filhos, vai finalmente ser vivida pelo próprio Filho Único na sua humanidade, com e para os homens” (CIC 2599).
É justamente no Evangelho de Lucas que vemos Jesus como “homem de oração”. No começo de sua vida pública, por ocasião do batismo, ele “se achava em oração” (3,21). Quando ele precisou escolher seus discípulos “passou a noite inteira em oração a Deus” (6,12). Sua fama ia crescendo e multidões queriam ouvi-lo. Ele poderia ter se aproveitado dessa situação para adquirir prestígio social, privilégios e obter vantagens, mais não, preferia “os lugares deserto para orar” (Cf. 5,16). Foi justamente em uma dessas vezes que Jesus orava que um dos seus discípulos lhe pediu: “ensina-nos a orar” (11,1).
“Não é, porventura, ao contemplar primeiro o seu Mestre em oração, que o discípulo de Cristo sente o desejo de orar? Pode então aprendê-la com o mestre da oração. É contemplando e escutando o Filho que os filhos aprendem a orar ao Pai” (CIC 2601).
Jesus ensina o seu jeito de se relacionar com Deus, expõe seu segredo. O Pai Nosso é a síntese de seu projeto “Depois de o Senhor nos ter legado esta fórmula de oração, acrescentou ‘Pedi e recebereis’ (Jo 16, 24). Cada um pode, portanto, dirigir ao céu diversas orações segundo as suas necessidades, mas começando sempre pela oração do Senhor, que continua a ser a oração fundamental” (CIC 2761) 
O teólogo Bohn Goss nos diz que os dois primeiros pedidos, Jesus nos propõe acolher o Pai com o seu projeto, expresso por seu nome e pela justiça do reino. Nos três pedidos seguintes, Jesus nos pede que, da mesma forma como ele, também nós respondamos ao Pai, vivendo novas relações entre nós[1].
A oração que Jesus ensina começa com uma palavra que parece sair da boca de uma criança: Abbá quer dizer paizinho, papai querido. Não foi o Mestre mesmo que disse que devemos nos parecer como uma criança para herdar o Reino dos céus? (Cf. Mt 18,3). Temos a certeza que esse pai acolhe, abraça e perdoa. Ao lado dele aprendemos a agir como filhos, cheio de confiança, entrega e segurança. Chamando a Deus de paizinho vamos sendo curados de tantas doenças da alma que adquirimos por causa da ausência, da falta de amor.
Devemos lembrar-nos de que, quando chamamos a Deus «Pai nosso», temos de nos comportar como filhos de Deus” (...) Pai nosso – que haverá de mais querido para os filhos do que o pai? – Este nome suscita em nós ao mesmo tempo o amor, o afeto na oração, [...] e também a esperança de obter o que vamos pedir [...]. De fato, que pode Ele recusar à súplica dos seus filhos, quando já previamente lhes permitiu que fossem filhos seus?” (CIC 2785)
Que através de nós seus filhos “seja santificado o seu nome”. Como filho desse Pai, trazemos seu nome como uma marca identitária. Sou Robson de Jesus, o crucificado que venceu a morte, fui registrado com a tinta do seu sangue que jorrou do lado aberto na cruz. Portanto, devo ser santo para santificar o seu nome. Devo agir manifestando a glória daquele que me chamou a ser filho. E como sua glória passa pela cruz, devo me identificar com esse caminho atualizando sua mensagem salvadora. Não podemos esquecer dos muitos irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai, principalmente os pobres, a quem devo servir no amor e na alegria, tornando santa nossa caminhada. 
Venha o teu Reino é assim que oramos. Diante das autoridades Jesus disse que o seu Reino não era deste mundo, por isso devemos saber de onde ele é para ajudar a implantá-lo. Quando ele diz que não é deste mundo devemos entender que não são as categorias de poder dos reinos deste mundo que devemos buscar. Não é aí que vamos encontrar o Senhor e Rei. Se o Reino é de Jesus, então devemos procurar a ele, que é rei, não como os outros reis, para fazermos parte do seu reino de alegria, paz e justiça (cf. Rm 14,17). Olhando para a atuação de Jesus nos evangelhos descobrimos facilmente que o reino de Deus não está aqui nem acolá mais sim na relação de amor que estabelecemos. É amando a Deus e ao próximo que antecipamos a chegada do Reino diminuindo a tensão que existe entre o agora e o ainda não.
“Só um coração puro pode dizer com confiança: ‘Venha a nós o vosso Reino’. É preciso ter passado pela escola de Paulo para dizer: ‘Que o pecado deixe de reinar no vosso corpo mortal’ (Rm 6, 12). Quem se conserva puro nos seus atos, pensamentos e palavras é que pode dizer a Deus: ‘Venha a nós o vosso Reino!’” (CIC 2819).
O pedido central do Pai-nosso é o pão nosso de cada dia. A economia do Reino está no centro dessa oração, pois não podemos nos conformar com a ausência das condições mínimas para que o ser humano viva com dignidade. Devemos trabalhar pelo pão partido e repartido, em uma nova lógica que supere toda o egoísmo que produz fome. Não podemos esquecer que a Eucaristia é o nosso pão de cada dia [...]. A virtude própria deste alimento é a de realizar a unidade a fim de que, reunidos no corpo de Cristo, tornados seus membros, sejamos o que recebemos. [...] E também são pão de cada dia as leituras que em cada dia ouvis na igreja; e os hinos que escutais e cantais, são pão de cada dia. Estes são os mantimentos necessários para a nossa peregrinação” (CIC 2837)
            Perdoar é remir, cancelar uma dívida. A boa nova do Evangelho é que Jesus veio pagar essa dívida por meio do seu sangue. Sendo todo pecador um devedor, Nosso Senhor nos ensina através do Pai Nosso que o perdão de nossas dívidas depende do perdão que damos aos nossos devedores (cf. Mt 6,12). O Perdão gera em nós uma relação de confiança, abandono nas mãos daquele que pode nos amparar, abraçar e levantar. Essa confiança nos encoraja a continuar o longo processo de conversão que depende do nosso arrependimento.
Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto. Lá ele foi tentado. A partir do seu exemplo oramos dizendo “não nos deixeis cair em tentação”. Não queremos ceder ao poder que oprime e marginaliza nem mesmo sucumbir ao perigo das riquezas que se levanta como um ídolo moderno. Não queremos soluções mágicas para resolver os problemas porque são ilusórias. Queremos assumir o caminho da partilha, do reconhecimento do senhoril de Jesus, do serviço doado e da humildade.
Amém, assim seja!




[1] https://cebi.org.br/biblia/senhor-ensina-nos-a-orar-lucas-111-13-ildo-bohn-gass-2/

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