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sexta-feira, 12 de abril de 2019

O cego de nascença


“Somente os que assim são libertados e erguidos poderão seguir aquela luz que proclama: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não andará nas trevas. Realmente o Senhor faz os cegos verem. Os nossos olhos, irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para restituir a vista ao cego de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos com sua saliva misturada com terra. Cegos também nós nascemos de Adão, e precisamos de ser iluminados pelo Senhor. Ele misturou sua saliva com a terra: E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Misturou sua saliva com a terra, como fora predito: A verdade brotou da terra (cf. Sl 84,12). E ele próprio disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Dos Tratados sobre o Evangelho de São João,de Santo Agostinho, bispo 


Algo de extraordinário acontece com aquele homem que era cego desde que nasceu. (Cf. Jo 9, 1-41). De forma miraculosa Jesus o cura. Os fariseus não compreendem, interrogam o homem. Os pais ficam temerosos, os vizinhos curiosos. As autoridades teimam em reconhecer o ocorrido, ameaçam expulsar quem diga que Jesus é o Cristo, o Messias. Há divisão entre eles, e Jesus aparece claramente como “sinal de contradição” (Lc 2,34). 

Jesus. Ele vê o homem. Dele se aproxima e de forma miraculosa o cura. Sua ação causa divisão. A leitura tem valor catequético-batismal por isso mesmo o autor faz progredir a compreensão a respeito dele: homem (v.11), um profeta (v.17), procede de Deus (v.33) e Senhor (v. 38). O Filho de Deus quer que nossos olhos se abram, que o reconheçamos. Por isso veio como “luz do mundo” (Jo 8,32), Ele é “a luz verdadeira que ilumina todo homem...mais o mundo não a reconheceu (Cf. Jo 1,9-10). Deus é luz” (1 Jo 1,5), Quando sua luz nos atinge, tudo fica às claras e a sombra do erro, da discórdia, da ira, da exclusão, dos preconceitos, das maldições vão se dissipando. Em sua luz somos chamados a iluminar o mundo (Cf. Mt 5,16) que caminha na escuridão. 

Os discípulos. Eles participam da cena fazendo uma pergunta. “Rabi, quem pecou, para que nascesse cego: ele ou seus pais? A pergunta deles reflete uma crença antiga que considera a doença como um “castigo” pelo pecado cometido (Cf. Ex 20,5). As doenças são sinais manifestos da condição de fraqueza em que o homem se encontra desde o primeiro pecado e da necessidade que tem de salvação. Devemos contemplar toda essa realidade dolorosa pela qual passamos com o mesmo amor que vem do Senhor. “(...) As curas que fazia eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e sobre a morte, mediante a sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre Si todo o peso do mal e tirou ‘o pecado do mundo’” (Jo 1,29) (CIC 1505). 

Os pais. Esses não querem tomar partido. Tem medo. Sabem que podem ser expulsos da comunidade judaica. Quais as conseqüências do seguimento de Cristo? Quero tomar partido? O Evangelho não impõe uma decisão de nossa parte? Estou disposto a correr os riscos dessa decisão? Os pais não quiseram se envolver. Era seu filho, eles sabiam o que tinha acontecido. Mais se calaram por medo. E nós, o que vamos fazer? 

 O cego. Ele é um arquétipo dos que fazem o caminho batismal. Os antigos usavam uma expressão “essa mulher deu a luz”. Enquanto na barriga da mãe a criança vive na “escuridão”, quando nasce vê a luz. Os renascidos pelo Batismo contemplam uma nova luz. Na antiguidade o Batismo se chamou “iluminação” (photismós). O batizado é “filho da luz”, alguém que enxerga com clareza, e que anda na luz. Pois a luz não é só para ser contemplada, mas para caminharmos nela, realizando as obras daquele que nos batizou, Cristo Jesus. “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor… Desperta, tu que estás dormindo, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”. O Papa Francisco em uma de suas homilias disse aos peregrinos: “O cristão deveria ser uma pessoa luminosa, que traz a luz, que sempre dá luz. Uma luz que não é sua, mas é um presente de Deus, o presente de Jesus. E nós levamos em frente esta luz. Se o cristão apaga esta luz, a sua vida não tem sentido: é um cristão somente de nome, que não leva a luz, uma vida sem sentido”. 

Autoridades. O autor salienta a progressiva cegueira deles. Eles só conseguiam enxergar a lei, o delito. Não conseguiam vê o dom do Pai. O pecado nos faz cego. A graça de Deus nos devolve a visão. Eles interrogam o cego mais não ficam satisfeitos com sua persistente resposta. A nossa cegueira espiritual nos impede de reconhecer o Senhor. Ele caminha conosco, está tão perto e nós não o vemos. Enquanto estamos cegos para a graça de Deus, caímos no abismo da iniquidade e afundamos na “desgraça” de uma alma fétida. Devemos receber o banho da regeneração. E como isso acontece? Dizendo: “vem Senhor, salva-me”. Rapidamente saímos do lamaceiro e somos lavados. É isso que acontece quando somos batizados. Esse banho nos faz enxergar novamente. Devemos renovar continuamente a graça batismal para não cairmos na “desgraça” outra vez.

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