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quinta-feira, 28 de março de 2019

A Leitura da Bíblia



 O primeiro passo da Lectio Divina é a leitura. Não é preciso dizer que a Sagrada Escritura deve ser o livro de bolso do discípulo. Circula na internet um texto de autor desconhecido com o titulo a “A Bíblia x celular”. Ele faz algumas perguntas importantes: “Já imaginou o que aconteceria se tratássemos a nossa Bíblia do jeito que tratamos o nosso celular? E se sempre carregássemos a nossa Bíblia no bolso ou na bolsa? E se déssemos uma olhada nela várias vezes ao dia, como fazemos com nosso celular? E se voltássemos para apanhá-la quando a esquecemos em casa, no escritório...?”. Em nossa missão devemos fazer uso da Sagrada Escritura, esse é o nosso instrumento de trabalho. Em cada ofício, o trabalhador deve conhecer bem o seu instrumento de trabalho pra que então realize com eficiência a sua tarefa. Para que o discípulo realize bem sua missão ele precisa conhecer a Sagrada Escritura. E o primeiro passo pra esse conhecimento é a leitura. 
Mas a leitura não pode ser feita de qualquer forma. Devemos ler a Bíblia no mesmo Espírito que a inspirou.
No Evangelho de João, o Paráclito, aparece com aquele que “conduzirá a verdade plena” (Jo 16,13). Em outro lugar o autor sagrado afirma “que toda Escritura é inspirada por Deus” o que nos leva a crer que todo o trabalho dos autores sagrados se dá sob inspiração divina: Cada autor no seu contexto histórico expressou de maneira fundamental a revelação que Deus quis que estivesse ao alcance dos homens e mulheres de todos os tempos, de modo que essa revelação se tornasse “História da Salvação”. Ao afirma que Deus inspirou o autor sagrado não se quer dizer que ele tomou a caneta das mãos do hagiógrafo e escreveu de seu próprio punho. Isso seria uma visão ingênua. Ele inspira o autor a partir da sua própria experiência religiosa e esse por sua vez expressa aquilo que Deus quer manifestar ao povo. Diz um grande exegeta: “O homem escreve no papel e Deus na vida”. Cada um realizou a sua missão a partir do lugar, da cultura, da realidade sócio-política, econômica e religiosa presente no seu tempo, que o influenciou na hora de escrever.
No que diz respeito à leitura esse é o primeiro passo. Se colocar dentro do texto a partir do seu contexto. Vamos entender esse passo a partir de um exemplo. Leia Fl 2, 6-11.
Ao fazer a leitura de um texto, a primeira pergunta deve ser pelo autor. Nesse caso a resposta é fácil: o apóstolo Paulo é o autor.
Logo em seguida você se pergunta? Quem foi São Paulo? Essa pergunta tem importância? Se você conhece o autor, ficará mais fácil saber quais as suas intenções ao escrever. Todo aquele que escreve tem um destinatário. No caso de Paulo, a quem ele destina essa carta? A comunidade de Filipos, essa é a resposta. Como surgiu essa comunidade? Você pode ler nessa hora o livro dos Atos dos Apóstolos quando Lucas (foi companheiro de Paulo!) narra a segunda viagem do Apóstolo (At 15,39-18,22) e relata a fundação dessa comunidade.
Alguns anos depois Paulo destina uma carta a essa comunidade. Aqui está outra informação importante: Ele escreve uma carta. Não é uma poesia, nem narração, saga ou novela. É uma carta. Essa é a pergunta pelo gênero literário do texto sagrado, ou seja, a forma como o autor comunica aquilo que quer dizer. Você ler uma carta da mesma forma que ler uma poesia ou um fato jornalístico? Claro que não. A forma como o autor escreve revela a mensagem, a forma e a situação em que se encontra e essa compreensão é fundamental pra uma boa leitura da Bíblia. 
Quando Paulo escreve essa carta?
A atividade missionária de Paulo acabou por formar um corpo de “cartas”, com endereço certo: as comunidades por onde passou ou por onde pretendia passar (como no caso da Carta aos Romanos). Elas figuram entre os primeiros escritos do Novo Testamento e nos oferecem uma primeira impressão do que foi o “evento Jesus de Nazaré”, e como se desenvolvia a experiência pós-pascal nas comunidades.  Elas são escritos ocasionais, que servem como instrumento de comunicação entre o Apóstolo e as comunidades e procuram responder a situações do cotidiano das “Igrejas” ou dúvidas que permanecem depois de um certo tempo.
É provável que a carta aos Filipenses seja uma coleção de três bilhetes escritos em tempos e lugares diferentes. O primeiro (Fl 4,10-20) agradece a solidariedade dos Filipenses. Sabendo que Paulo estava na cadeia, a comunidade envia por meio de Epafrodito, uma ajuda. Quando escreveu o segundo (Fl 1,1-3,1+4,2-7.21-23) Paulo ainda está na mesma prisão. Mas parece tomar a decisão de usar sua cidadania romana para conseguir a liberdade e rever a sua comunidade. Esses dois bilhetes foram provavelmente escritos em Éfeso entre os anos 52 e 54. O terceiro bilhete (3,2-4,1+4,8-9) vai tratar de conflitos provocados por falsos missionários.
Até o momento não chegamos ao texto propriamente dito. E isso nos leva a considerar a necessidade permanente do estudo bíblico. Afirmamos nesse percurso à importância do discípulo ter familiaridade com a Sagrada Escritura. Ele deve conhecer a Bíblia e essa é uma tarefa árdua, pois são muitos os autores, gêneros literários, situações históricas, condições sociais, políticas e religiosas, que se distanciam dos nossos tempos. Esse é um esforço fundamental em nossa vida, pois esse conhecimento vai resultar em um anúncio cada vez mais eficaz da Palavra de Deus.
O que quero dizer é que devemos conhecer a Sagrada Escritura por dentro e por fora. Uma comparação pode ajudar nesse momento. Quando somos convidados pra conhecer a casa de um amigo, até o caminho nos faz pensar como seja a casa desse amigo. Ao chegar olhamos tudo ao redor. Se alguém lhe perguntasse como era a casa do seu amigo antes mesmo de entrar você já faria uma descrição da casa “por fora”.
É isso que faz o discípulo no estudo bíblico: ele pergunta sobre o autor, destinatário, data, gênero literário, contexto histórico, situação sócio-política e religiosa, influencias, etc. E o que isso ajuda no exercício da leitura orante da Bíblia? passa-los a enxergar melhor, pois quanto mais clarificada for nossa visão melhor vamos saborear a mensagem da salvação.
Mas esse olhar “por fora” cria uma expectativa pelo que tem "dentro da casa". Ao fazer a leitura entramos na casa, e facilmente cria-se um diálogo entre Deus e os homens. Portanto, a pergunta fundamental nessa hora é: “O que o texto diz?”. Mas é preciso “continuar a conversa”, partir da vida, do lugar em que me encontro. É atualizar o conhecimento da Sagrada Escritura na realidade da comunidade que lê, é considerar o que o texto é capaz de dizer hoje. Em nossa vida isso significa fazer a pergunta pela realidade onde pisa para em seguida anunciar como maior eficácia a Boa Nova. Apenas repetir o que se “aprendeu da Bíblia” não é suficiente é preciso dar sentido ao texto em novos contextos. Em uma palavra: “tornar vivo a mensagem da salvação na fé da comunidade orante!”.

Algumas indicações para a leitura da bíblia:

Observar a introdução e as notas de rodapé.
Linha do tempo ou cronologia.
Mapas.
Índice de assuntos e temas.
Vocabulário.
Um pouco de história para ler o texto dentro do contexto.
Atualizar, fazer um exercício de hermenêutica.
Evitar alguns tipos de leitura: fundamentalista, Espiritualista, dogmatista, etc.
Procurar ler livros de Introdução a Bíblia.
“Beber da fonte” que é a Palavra de Deus, fazer a experiência da Lectio Divina.



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