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segunda-feira, 25 de março de 2019

Lectio Divina – Parte II




Quando aquela rainha Etíope viajava no seu carro ela lia as Escrituras. Felipe ao se aproximar percebe que aquela mulher não compreendia o que estava lendo. Ela mesma confessa que não havia encontrado quem lhe explicasse (Cf. At. 8,1ss). Esse é um exemplo de que nessa caminhada de leitura orante da Bíblia, precisamos de um companheiro de viagem: a Igreja.
O Concílio Vaticano II abriu as portas para o redescobrimento das Escrituras. No Documento Conciliar Dei Verbum, que trata da Revelação Divina, todo o povo de Deus é chamado a aprender “‘a sublime ciência de Jesus Cristo’ (Fil. 3,8) com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque ‘a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo’” (DV 25). Essa leitura deve ser acompanhada da oração, é o que afirma o mesmo texto, porque não há conhecimento da Escritura sem oração, pois a Bíblia é diálogo, entre Deus e o homem, e é esse o simples itinerário de leitura orante porque “a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos” (DV 25).
A Pontifícia Comissão Bíblica, por meio do Documento A interpretação da Bíblia na Igreja nos traz um conceito do que seja Lectio Divina:
“A lectio divina é uma leitura individual ou comunitária de uma passagem mais ou menos longa da Escritura, acolhida como Palavra de Deus e, que se desenvolve sob a moção do Espírito em forma de meditação, oração e contemplação”.
O Papa João Paulo II recomenda esse encontro vital com as Escrituras, para colher “no texto bíblico a Palavra viva que interpela, orienta e plasma a existência”. Já o Papa Bento XVI, por ocasião de uma Jornada Mundial da Juventude, recorda essa rica tradição aos jovens:
“Gostava, sobretudo, de lembrar e recomendar a antiga tradição da Lectio Divina: a leitura assídua das Santas Escrituras, acompanhada da oração, realiza o colóquio íntimo com Deus, que escutamos quando lemos e a quem respondemos na oração com um coração aberto e confiante (cf. DV 25). Esta prática, se eficazmente promovida, levará a Igreja – estou convencido disso – a uma nova primavera espiritual. A pastoral bíblica deve, portanto, insistir de modo especial sobre a Lectio Divina e encorajá-la com métodos novos, cuidadosamente elaborados e de acordo com os nossos tempos. Nunca devemos esquecer que “a tua Palavra é lâmpada para os meus passos e luz para os meus caminhos” (Sal 118, 105)”.
A última Conferência Episcopal Latino Americana e Caribenha faz referência a essa forma de oração como caminho de encontro pessoal com Jesus Cristo, encontro esse de fundamental importância na vida do cristão:
Entre as muitas formas de se aproximar da Sagrada Escritura existe uma privilegiada à qual todos estamos convidados: a Lectio Divina ou exercício de leitura orante da Sagrada Escritura. Esta leitura orante, bem praticada, conduz ao encontro com Jesus - Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus-Messias, à comunhão com Jesus-Filho de Deus e ao testemunho de Jesus-Senhor do universo. Com seus quatro momentos (leitura, meditação, oração, contemplação), a leitura orante favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo semelhante ao modo de tantos personagens do evangelho: Nicodemos e sua ânsia de vida eterna (cf. Jo 3,1-21), a Samaritana e seu desejo de culto verdadeiro (cf. Jo 4,1-12), o cego de nascimento e seu desejo de luz interior (cf. Jo 9), Zaqueu e sua vontade de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)... Todos eles, graças a este encontro, foram iluminados e recriados porque se abriram à experiência da misericórdia do Pai que se oferece por sua Palavra de verdade e vida. Não abriram seu coração para algo do Messias, mas ao próprio Messias, caminho de crescimento na ‘maturidade conforme a sua plenitude’ (Ef 4,13), processo de discipulado, de comunhão com os irmãos e de compromisso com a sociedade.
Portanto, esse é um tempo novo, onde a Igreja que sempre se nutriu da Palavra de Deus, procura abrir esse rico tesouro a todos que queiram conhecer o plano salvífico de Cristo Jesus, o Senhor, centro de toda Sagrada Escritura.                   
Inclusive, o Santo Padre Bento XVI, ao convocar um Sínodo sobre a Palavra de Deus tinha como um dos seus objetivos “acender a estima e o amor profundo pela Sagrada Escritura, fazendo com que ‘os fiéis tenham amplo acesso’ a ela; renovar a escuta da Palavra de Deus, no momento litúrgico e catequético, nomeadamente com o exercício da Lectio Divina, devidamente adaptada às várias circunstâncias; oferecer ao mundo dos pobres uma Palavra de consolação e de esperança”.
Todos os autores que se referem à leitura orante da Sagrada Escritura põe em evidência os quatro degraus, ou quatro passos dessa antiga tradição espiritual: Leitura, meditação, oração e contemplação.
No site jovensconectados.org.br podemos ler uma explicação dos passos da Lectio Divina:
Leitura (Lectio)
A leitura é um exercício externo, e o grau dos principiantes. Tenhamos, portanto, a humildade de ler a Sagrada Escritura, mesmo se, às vezes, nós temos a pretensão de já conhecê-la. A leitura deve ser desinteressada, gratuita, amorosa e na fé, e requer dedicação de tempo para não ser realizada de maneira superficial.
Para uma boa leitura, é necessário primeiro lançar sobre o texto bíblico um olhar impessoal, analisando a cena descrita, a linguagem utilizada e o contexto histórico e sociocultural. A partir disso podemos inferir o sentido literal da Palavra. Mas a riqueza dos textos bíblicos, no Antigo e no Novo Testamento, de forma implícita ou explícita, sempre permitem-nos um encontro com Jesus, o Verbo do Pai. É o que tradicionalmente se conhece por sentido alegórico (ou cristológico) da Escritura. A Palavra de Deus carrega sempre ainda um sentido moral (ou antropológico), uma lição prática que nos podem conduzir a um comportamento justo. Por fim, toda a Escritura faz-nos entrar, já aqui na terra, na visão do Céu e do Eterno. Podemos assim ler a Palavra de Deus em seu sentido escatológico.
Meditação (Meditatio)
É o ato da inteligência que nos coloca acima dos sentidos. É o grau daqueles que progridem e o dos que já podem meditar a Palavra de Deus. Para que a Palavra possa penetrar e produzir os seus efeitos em nós, é necessário constância e perseverança no exercício de meditação.
É importante ressaltar que a meditação do texto bíblico não se deve limitar ao tempo do exercício da Lectio Divina, mas somos chamados a continuar a meditar a Palavra durante o nosso dia, e mesmo no decorrer de nossos trabalhos e atividades, permitindo à Escritura de realizar um trabalho de frutificação interior em nossa alma.
Oração (Oratio). Prece, oração, que faz entrar no mistério. É o grau dos fervorosos.
A oração é a minha resposta pessoal à leitura da Boa Nova. Depois de ter lido, penetrado, meditado o texto, podemos sentir o desejo de fechar a nossa Bíblia para louvar o Senhor. Agora, a fim de não mais escutar o que o Senhor me diz, mas simplesmente amá -Lo, contemplá –Lo e responder -Lhe. A partir da Palavra viva, nossa oração pode tomar múltiplos aspectos, como o louvor, a ação de graças e o reconhecimento, mas também a contrição do coração, o pedido, a intercessão e a súplica.
Contemplação (Contemplatio). Oração de quietude. É o grau dos bem aventurados, que corresponde à vida mística.
A Contemplação é o que fica nos olhos e no coração, quando acabou a Oração. É fundamentalmente, a concentração da minha atenção, não em sentimentos ou em orações, mas em Jesus Cristo e na minha relação pessoal com Ele. É importante durante a etapa da Contemplação guardar um pequeno trecho da Escritura (um versículo) que mais lhe tenha falado ao coração, para ser levado durante todo o dia.
Ação (Actio): A Palavra de Deus apropriada passa depois para a vida prática, torna-se vida em minha vida e transforma meus atos.
A partir do que li, do que ouvi, meditei, ruminei, contemplei, me deixei penetrar pelo poder da Palavra. Começa a brotar no meu mais profundo, o desejo de seguir as Palavras da Virgem Maria: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 1,5). A ação movida pela Palavra, consiste em fazer da mensagem a própria vida. É válido traçar propósitos claros e realistas dentro de intervalos de tempo razoáveis. A Palavra vivenciada dia após dia, a começar dos pequenos gestos, configura-nos a Jesus e faz-nos avançar no caminho da santidade.



3 comentários:

Renata disse...

☺ Muito bom! #Gratidão

Unknown disse...

Naquele tempo não existia redes sociais,mais hj é muito fácil,então e muito gratificante ter irmãos como vc que se interessa em ajudar as pessoas nessa relação íntima com o senhor, atraves desse meio social.muito bom mesmo👣👣

Maryluce disse...

Foi gratificante conhecer um pouco mais da história da lectio divina.