O que José, Jeremias e João da Cruz tem em comum?
José foi o profeta dos sonhos. Atraiu
o ódio dos seus irmãos de tal forma que eles tentaram se livrar dele. O
venderam como escravo. Logo depois, foi parar na prisão por causa de uma trama
que quase o leva a morte. O que o levou a essa situação foi também o que o
salvou. Os seus sonhos lhe trouxeram dor, mas também muita alegria.
José se transformou no José do Egito
e por uma conspiração divina se viu diante daqueles que o haviam feito passar
por todo esse drama. Os seus algozes provaram a força do perdão que é capaz de transformar
ódio em amor.
Jeremias que viveu muito tempo
depois, foi chamado ainda na sua juventude a profetizar. Deus toca em sua boca.
Ele é seduzido e por isso, não deixa de levar Palavra apesar de toda a
inimizade que se criou. O profeta se sente uma criança, mas mesmo assim, se coloca
de prontidão. Ele aprendeu a lidar com as dificuldades para exercer sua vocação,
e é a voz de Deus que ecoa nos dias mais difíceis dizendo: “não tenhas medo, eu
estou contigo”.
A tarefa do profeta não era fácil, assim
sendo, ele encontrou muitos opositores que se colocaram no seu caminho. Acusado
de traidor foi preso e ali amargou o desprezo. Jeremias poderia facilmente ser
reconhecido como profeta da desgraça. Sua voz devia ser calada, por isso
quiseram mata-lo para emudecer aquele que gritava nas ruas, praças e palácios, sem medo
do que pudesse acontecer com ele. Ele pagou o preço por causa do amor que o
seduziu (Cf. Jr 20,7).
João da Cruz, desde cedo, quis seguir
Jesus pelo caminho do recolhimento. Convencido por Teresa foi ser carmelita. Já
havia sofrido grandes dificuldades ao longo de sua vida. Essas dificuldades não
se tornaram menores quando ele entrou para o Carmelo. Seguindo o caminho de sua
mestra, quis reformar o Carmelo o que não foi aceito pelos seus irmãos.
Sequestrado, foi lançado em uma prisão onde teve que enfrentar muitos tormentos.
Deus o visitou fazendo o santo declarar o seu amor pelo Amado em forma de
poesia. Foi na prisão, que João da Cruz compôs boa parte dos poemas do seu Cântico Espiritual.
Creio, que podemos dizer, que a
prisão une José, Jeremias e João da Cruz. O lugar que os aprisionou parecia não
ter grades de tal modo que puderam percorrer o mistério do Deus escondido. Esse
mesmo Deus, não mais desconhecido, desceu para gritar na solidão do cárcere seu
amor sem medida. Quis ser companhia fazendo-os crer que a prisão que causa medo
é a da alma.
Podemos imaginar que no meio da solidão
pavorosa do cárcere possam emergir tão doces gemidos do amor entre o Criador e sua
criatura? Que no meio da escuridão a luz
fulgurante do amor insondável possa refulgir com tanto esplendor na alma
humana? É isso que vemos transparecer com tanta limpidez nesses três
personagens que transformaram esse espaço de sombras e penúrias em um lugar reconfortante
graças a presença do Amado. Isso bastou a eles.
Os três sabiam que haviam sido vítimas
de tramas desprezíveis. Isso demonstrava que existia uma prisão que acorrentava
seus opositores. O ódio fez com que pesadas correntes se arrastassem na direção
deles. Suas angústias encontraram alívio nos braços de quem os achou sozinhos. Antes,
jamais podiam imaginar, que a injustiça pudesse lhes trazer o gozo da alma
enamorada.
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