Esse
é um grito de desespero que ecoa da voz do salmista. O povo ao seu redor ri,
zomba, fere e o ridiculariza. O que fazer? O socorro vem de Deus, por isso
mesmo ele sabe que vai cantar com alegria “no meio da assembléia hei de
louvar-vos, vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhes louvores, glorificai-o,
descendentes de Jacó, e respeitai-o toda a raça de Israel (Cf. v. 4).
Esse
grito poderia muito bem está na boca de José (Gn 37). Ele foi vendido como
escravo por seus irmãos. Eles cheios de ciúme e inveja acabaram causando grande
dor ao pequeno José, que acabou sendo socorrido por Deus. Quem esperava que sua
sorte mudaria e que ele ampararia a todos da sua casa. O mais surpreendente foi
a belíssima cena de perdão que todos protagonizaram.
Esse
grito poderia muito bem está na boca de
Jeremias que foi várias vezes ameaçado de morte por profetas e sacerdotes (Jr
26-29). Diante da eminente invasão do poder estrangeiro, os reis queriam ouvir
algum oraculo que lhes garantisse a continuação do seu reinado. Porem, Jeremias
dizia a verdade. O povo não aceitava e por isso mesmo o profeta sofreu. Sob duras
penas descobriram que o profeta estava certo. Sentindo-se ameaçado de morte Jeremias bem que poderia ter rezado essa salmo pois aquele que o mandou
profetizar (Jr 1-3) não o abandonou nessa hora de terror.
Esse
grito poderia muito bem está na boca de João Batista. Ele, a voz que clama, se
viu sozinho na cadeia por causa da sua profecia. Sozinho? não! Quem reza esse
salmo sabe que não está sozinho. Deus o ampara, socorre, auxilia. Poderia o
profeta voltar atrás? poderia ele abandonar sua profecia para salvar sua vida? poderia se calar diante dos desmandos das autoridades que ele denunciava? Ele
perdeu sua cabeça, mas não perdeu sua força. Foi calado pela força do poder
opressor, mas não deixado de ser ouvido. Para ele, importava Cristo crescer e
isso foi o motivo do seu louvor.
Esse
grito esteve na boca dos apóstolos. Este salmo poderia muito bem ter inspirado
Pedro e João a cantar os louvores do Senhor no cárcere mesmo sob ameaças de
castigos atrozes. Por que não se calaram? como eles podiam deixar de falar das
coisas que viram e ouviram? (Cf. At 4,20). Quando voltaram a comunidade relataram
tudo o que ouviram das autoridades. Para surpresa, todos unanimes rezaram assim
"Agora,
pois, Senhor, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos servos que com
todo o desassombro anunciem a vossa palavra. Estendei a vossa mão para que se
realizem curas, milagres e prodígios pelo nome de Jesus, vosso santo servo! Mal
acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram
cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a Palavra de Deus” (At 4,29-31).
Paulo poderia ter
cantado inúmeras vezes esse salmo. Ele, escrevendo aos cristãos de Corinto testemunhou as inúmeras vezes que sofreu
por causa de Cristo: "Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites
menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes
naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a
perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus
concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no
deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas,
repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de
outras coisas, a minha preocupação cotidiana, a solicitude por todas as
igrejas!” (2 Cor 11,24-28).
Não tinha o apóstolo motivos
suficientes para gritar como o salmista? Sim, como o salmista o apóstolo
poderia gritar, mas não com desesperança, e sim cheio de confiança porque sabe
em quem pôs a sua fé (Cf. 2 Tm 1,12). Por isso, a mesma comunidade ele diz "em tudo somos oprimidos, mas não
sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos
perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos
destruídos" (2 Cor 4,
8-9).
Esse salmo que o Senhor reza no alto da cruz
está no peito de tantos outros homens e mulheres que carregam sua cruz a cada dia,
cheios de confiança no socorro que vem do Senhor, no auxilio que não tarda jamais.
Assim, que o louvor nunca sai de nossos lábios.
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