Páginahttps://www.vaticannews.va/pt.htmls

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Tenho sede!


E para que se cumprisse as Escrituras Jesus disse, “tenho sede” (Jo 19,28).

Mais uma vez, o Cristo pregado na cruz traz em seus lábios as palavras reconfortantes das Escrituras. Um salmo ressoa diante das poucas testemunhas que estão ali vendo essa cena tão trágica. Uma lamentação messiânica (Sl 69) de quem suporta insultos e humilhações (v. 8) por causa do seu zelo (v.10). O salmista diz que sua causa foi transformada em fábulas na boca dos que se embriagam (v.13), por isso ele dirige a Deus a sua prece e sabe que no tempo favorável ele irá responde-lo (v.14).
“Respondem-me, Iahweh, pois teu amor é bondade” (v. 17). Não seria essa súplica que o Senhor respondia quando gritou do alto da cruz “tenho sede?" Diante da dolorosa agonia, Jesus sente o mesmo que o salmista quando seus algozes querem matar sua sede com vinagre (v. 22). Mal sabiam eles, que aquele que sacia toda a sede de justiça estava ali diante deles olhando-os com terna compaixão.
Os mesmos olhos estiveram sobre o povo que caminhou pelo deserto (Cf. Ex 17). Eles tiveram sede e discutiram mais uma vez com Moisés. Sentiram falta do Egito, lugar da escravidão, e Deus ordena ao seu profeta que bata na rocha. Dali sai a água que sacia o povo. Muitos salmos cantaram essa prodigiosa ação de Deus que não abandonou seu povo a morte (Sl 78,15; 105,41; 114,8).
Outro salmista expressou um desejo que brota do fundo da alma, “minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42,3). Como podemos saciar essa sede? através da oração. Invoca a Deus e ele vem com cântaros cheios de água para te saciar. Será que não é isso que o Filho de Deus encarnado quer nos dizer, que “tem sede” de nossas almas,  que quer que o invoquemos? Podemos viver sem Deus? O Salmista sabe que não, e é por isso mesmo que,  apesar de estar longe de sua terra, cultiva o pensamento de Deus através da oração (v.9).
No poço de Jacó, Jesus dialoga com a Samaritana. Ela foi ali apanhar água para saciar a sede da sua casa. Em um diálogo catequético, o Senhor faz essa mulher entrar na dinâmica do salmista até ela dizer, “dai-me de beber”.
Existia um distanciamento étnico-religioso entre Jesus e aquela mulher, que foi rompido através do diálogo. Debaixo do céu aberto, ao redor do poço a samaritana fez o seu encontro pessoal com Deus, esqueceu por um instante o que foi fazer ali e bebeu da fonte de água viva que sacia a sede de eternidade. Apesar da aparente resistência da mulher, Jesus foi calmante abrindo caminho, sem reprovações, para faze-la olhar para si mesma e ali encontrar a salvação. O abismo que a impedia foi vencido graças a iniciativa misericordiosa do Divino Amigo. Esse encontro provocou outros encontros. Ela sai dali e vai testemunhar junto aos seus o que viveu. Ela quer que os outros também bebam dessa água.
Santa Teresinha do Menino Jesus, fez uma experiência com o crucificado. Depois de participar da missa, contemplou o Senhor. Daí, ela mesma descreve o que vivenciou: “A vista daquele sangue precioso que rolava para o chão sem que ninguém procurasse recolhê-lo, partiu-se de dor meu coração, e tomei a resolução de permanecer continuamente em espírito ao pé da cruz, para receber o divino orvalho da salvação e derramá-lo depois sobre as almas. Daquele dia em diante o brado de Jesus moribundo: "Tenho sede!" ecoava incessantemente no meu coração, para nele despertar um ardor vivíssimo até então desconhecido. Queria dar de beber ao meu Amado Salvador; senti-me eu também devorada pela sede das almas, e a preço de qualquer sacrifício ambicionava livrar os pecadores das chamas eternas”.
Espírito Santo, fonte de água viva, faz criar em mim, sede pelas almas. Muitas morrem porque não sabem onde apanhar a água da vida que jorra pra eternidade. Que eu seja samaritano, para que outros venha a vós, que vivam, se alegrem, se renovem! Que a palavra do Senhor ecoe até sua volta gloriosa, “tenho sede”.



Nenhum comentário: