E para que se cumprisse as Escrituras Jesus
disse, “tenho sede” (Jo 19,28).
Mais uma vez, o Cristo pregado na cruz traz em
seus lábios as palavras reconfortantes das Escrituras. Um salmo ressoa diante
das poucas testemunhas que estão ali vendo essa cena tão trágica. Uma
lamentação messiânica (Sl 69) de quem suporta insultos e humilhações (v. 8) por
causa do seu zelo (v.10). O salmista diz que sua causa foi transformada em
fábulas na boca dos que se embriagam (v.13), por isso ele dirige a Deus a sua prece
e sabe que no tempo favorável ele irá responde-lo (v.14).
“Respondem-me, Iahweh, pois teu amor é bondade” (v. 17). Não seria essa súplica que o Senhor
respondia quando gritou do alto da cruz “tenho sede?" Diante da dolorosa
agonia, Jesus sente o mesmo que o salmista quando seus algozes querem matar sua
sede com vinagre (v. 22). Mal sabiam eles, que aquele que sacia toda a sede de
justiça estava ali diante deles olhando-os com terna compaixão.
Os mesmos olhos estiveram sobre o povo que
caminhou pelo deserto (Cf. Ex 17). Eles tiveram sede e discutiram mais uma vez
com Moisés. Sentiram falta do Egito, lugar da escravidão, e Deus ordena ao seu
profeta que bata na rocha. Dali sai a água que sacia o povo. Muitos salmos
cantaram essa prodigiosa ação de Deus que não abandonou seu povo a morte (Sl
78,15; 105,41; 114,8).
Outro salmista expressou um desejo que brota do
fundo da alma, “minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42,3). Como
podemos saciar essa sede? através da
oração. Invoca a Deus e ele vem com cântaros cheios de água para te saciar. Será
que não é isso que o Filho de Deus encarnado quer nos dizer, que “tem sede” de
nossas almas, que quer que o invoquemos? Podemos viver sem Deus? O Salmista sabe que não, e é por isso mesmo que, apesar de estar longe de sua terra, cultiva o
pensamento de Deus através da oração (v.9).
No poço de Jacó, Jesus dialoga com a
Samaritana. Ela foi ali apanhar água para saciar a sede da sua casa. Em um
diálogo catequético, o Senhor faz essa mulher entrar na dinâmica do salmista até
ela dizer, “dai-me de beber”.
Existia um distanciamento étnico-religioso entre
Jesus e aquela mulher, que foi rompido através do diálogo. Debaixo do céu aberto,
ao redor do poço a samaritana fez o seu encontro pessoal com Deus, esqueceu por
um instante o que foi fazer ali e bebeu da fonte de água viva que sacia a sede
de eternidade. Apesar da aparente resistência da mulher, Jesus foi calmante
abrindo caminho, sem reprovações, para faze-la olhar para si mesma e ali
encontrar a salvação. O abismo que a impedia foi vencido graças a iniciativa
misericordiosa do Divino Amigo. Esse encontro provocou outros encontros. Ela
sai dali e vai testemunhar junto aos seus o que viveu. Ela quer que os outros
também bebam dessa água.
Santa Teresinha do Menino Jesus, fez uma experiência
com o crucificado. Depois de participar da missa, contemplou o Senhor. Daí, ela
mesma descreve o que vivenciou: “A
vista daquele sangue precioso que rolava para o chão sem que ninguém procurasse
recolhê-lo, partiu-se de dor meu coração, e tomei a resolução de permanecer
continuamente em espírito ao pé da cruz, para receber o divino orvalho da
salvação e derramá-lo depois sobre as almas. Daquele dia em diante o brado
de Jesus moribundo: "Tenho sede!" ecoava incessantemente no meu
coração, para nele despertar um ardor vivíssimo até então desconhecido. Queria
dar de beber ao meu Amado Salvador; senti-me eu também devorada pela sede das
almas, e a preço de qualquer sacrifício ambicionava livrar os pecadores das
chamas eternas”.
Espírito Santo, fonte de água viva, faz criar em
mim, sede pelas almas. Muitas morrem porque não sabem onde apanhar a água da
vida que jorra pra eternidade. Que eu seja samaritano, para que outros venha a
vós, que vivam, se alegrem, se renovem! Que a palavra do Senhor ecoe até sua
volta gloriosa, “tenho sede”.
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