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domingo, 29 de novembro de 2020

Vamos ser julgados!

 

    “Ficai atentos porque não sabeis quando chegará o momento”. Como não sabemos quando chegará o momento, devemos nos preparar. Nossa preparação é para a chegada desse momento, que pode ser de glória ou fracasso, alegria ou tristeza, festa ou desolação.  

    Que momento é esse que Jesus fala no Evangelho? O momento do juízo. O juízo de Deus vai se estabelecer, por isso seremos julgados. Vamos ser julgados no amor e pelo amor. Mas, devemos compreender o “momento”. O momento é o fim. Se é o fim, ele primeiro vai se dá através da nossa morte. A cada novo dia se anuncia esse mistério. Ele envia o seu aviso e isso causa alegria a uns e tristeza a outros. A morte é o fim do começo. Eis um paradoxo difícil de ser aceito: a vida atinge sua plenitude na morte. Ela se desenvolve no tempo e espaço e nossa história leva sua marca indelével. Teologicamente, cada dia traz consigo a vida e a morte de mãos dadas. Nós, criaturas débeis, queremos separa-las, mas elas insistem em andar juntas. Deus é Senhor da vida e da morte, o começo e o fim. Nós somos finitude, brevidade, sopro. Cristo, o Filho bendito do Pai venceu a morte, abriu para nós o caminho da eternidade. Com eles cantamos, "o morte, onde está tua vitória?" e proclamamos nossa suprema alegria.

    Esse momento é também anuncio de outro fim, onde o Reino de Deus será estabelecido definitivamente. No aqui e agora vamos fazendo com que o Reino aconteça, mas o que vivemos é apenas um vislumbre. Cantamos o Maranathá, “vem Senhor Jesus”, para então vermos “face a face, tal como ele é”.

    Até lá devemos nos preparar através de uma atenta vigilância. Devemos estar atentos ao que acontece, os sinais do tempos. Precisamos nos preparar porque o que se enfrenta é uma luta constante. Podemos ganhar ou perder. Por isso, devemos estar atentos para não sermos surpreendidos.

    Alguns acham que esse tempo nunca vai chegar, por isso se descuidam, se entregam desmedidamente aos prazeres. Outros chegam a achar que não há nada para esperar por isso agem como se tivessem que aproveitar ao máximo o que esse mundo pode oferecer. Dessa forma acabam se tornando frívolos, indolentes, perversos. Cabe a nós gritar de cima dos telhados que esse dia vai chegar. O Dono da Casa que deixou sua casa sob os nossos cuidados vai chegar. E quando ele chegar, ele vai querer saber se cuidamos da sua casa.

    Devemos viver cada dia como se a qualquer momento o dono da casa pudesse chegar. Nossa espera, portanto, deve ser cuidadosa. Foi a nós que o Dono Da Casa confiou sua casa. A nós ele confiou os seus bens. Como estamos cuidando do que nos foi confiado?

Olhe para você. Tens cuidado de você? Você é uma casa, comprada por um alto preço! Tens cuidado de você? Tens zelado pelo teu corpo e pela tua alma? Tens limpado, adornado a tua vida? Tens cuidado dos que vivem com você? Tens se importado com os que cruzam o teu caminho? Não se enganem, no fim, seremos julgados pelo cuidado que tivemos.

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Maria, a cheia de graça!

 

A graça é o contrário da desgraça. A graça é aproximação de Deus. A desgraça é a distância de Deus. A graça é alegria, contentamento por viver com Deus, a desgraça é a tristeza, o desgosto por viver longe de Deus.

O Autor do Livro do Deuteronômio diz que nós podemos escolher o caminho das bençãos ou das maldições (Cf. Dt 28). O salmista reza para que o povo escolha o caminho da justiça e não o da injustiça (Cf. Sl 1). Jesus fala para a multidão da porta estreita e da porta larga (Cf. Mt 7,13) e ensina qual porta devemos escolher. Por isso podemos dizer que graça ou desgraça, benção ou maldição, justiça ou injustiça, estreito ou largo estão relacionados com a escolhas que fazemos.

 “Ave cheia de graça”, foi assim que o anjo saudou Maria, “cheia de graça”. O que isso significa? Ela recebeu o favor de Deus,  isso porque escolheu a Deus, fez sua vontade. A saudação do anjo nos leva a crer que a filha de Joaquim e Ana foi cumulada de uma grande riqueza que a fez “cheia de graça”. Riqueza que vem da participação na vida divina, graças a intimidade que nasce da amizade com o Criador a quem Maria saúda todos os dias através da Shemonê Esrê.

Somos chamados por Deus para participar da vida trinitária, isso nos coloca em estado de graça, que é uma disposição sobrenatural para aperfeiçoar, aprimorar a alma através da amizade divina nos dando a condição de pôr em prática o duplo mandamento do amor. O que impede a cada uma de nós é o pecado. Santo Agostinho na Cidade de Deus diz “O pecado é o grande mal desta vida; custou a vida de Deus morto na cruz para podermos ficar livres dele. Ele é a raiz mais profunda de todos os males. São Paulo diz que ‘o salário do pecado é a morte’ (Rom 6,23); quer dizer, toda lágrima, toda dor e a morte, têm a sua causa primeira no pecado, desde o pecado original até os nossos pecados pessoais. O pecado é ‘amor de si mesmo até ao desprezo de Deus’”.

Podemos facilmente perder o estado de graça. Foi o que aconteceu com o filho mais novo da Parábola do filho pródigo (Cf. Lc 15,11s). Ele abandona a casa do Pai, se distância. Cai em desgraça. Isso acontece também com os Discípulos de Emaús (Cf. Lc 24). Eles voltam para sua cidade, se afastam de Jerusalém, sentem uma enorme tristeza por causa da morte de Jesus. Eles estão se afastando do mistério pascal de Cristo. Em ambos os casos eles voltam. É isso que faz toda a diferença,  voltar sempre para Deus, não ficar longe. É O arrependimento que nos abre a porta novamente para entramos na “casa do Pai”, onde abundantes graças são dadas gratuitamente.

            Maria tem continuamente nos ensinado a permanecer junto do seu Filho Jesus. Na França, no século XIX Maria apareceu a uma jovem noviça chamada Catarina de Labouré. A religiosa foi chamada até a capela onde a Mãe do Nosso Salvador a aguardava. Guiada por uma luz radiante, a Filha da Caridade chega até a capela. Ali ela vê a Santa Maria, mãe de Deus, mostrar o altar onde estava o presbitério e dizer: “Venha aos pés deste altar. Aqui, as graças serão dadas a todos que pedirem com confiança e fervor”.

Do altar, do mistério eucarístico, nosso Deus dispensa graças abundantes sobre todos nós. Nessa sagrada refeição somos chamados a “comer” e a “beber”. Isso significa que somos chamados a participar da vida do Cristo morto e ressuscitado que nos alimenta. Como podemos enfrentar as provações e tentações se estivermos fracos? Cristo é nosso alimento, nossa força! .

            Na segunda aparição da Mãe de Deus a Catarina ela vê dois quadros vivos, juntos um do outro, nos quais Maria estava de pé sobre um globo terrestre, esmagando uma serpente com seus pés. No primeiro quadro, a jovem Filha de Sião tinha consigo um pequeno globo dourado em suas mãos, com uma cruz que subia aos céus. Catarina ouve: “Esta esfera representa o mundo inteiro e cada pessoa em particular”. No segundo quadro, Catarina vê as mãos de Maria abertas, cheias de anéis com pedras preciosas. Desses anéis saem uns raios de brilho belíssimo. Ao mesmo tempo ela ouve uma voz que diz: “Estes raios são o símbolo das graças que eu consigo para a humanidade”. Em uma terceira aparição Maria diz a Catarina: “Estes raios são o símbolo das graças que a Virgem Santíssima consegue para as pessoas que lhe pedem… Já não me verás mais”

            A cheia de Graça poderia fazer outra coisa se não interceder por um grande “derramamento de graças?”. Por isso, devemos orar com insistência pedindo a intercessão da Santa Maria, Mãe de Deus para que graças abundantes sejam derramadas sobre o mundo inteiro.

Graça é um favor. Dessa forma, Maria ora para que o favor de Deus não nos falte em momento algum. Ela ora para que nos aproximemos do “Pai das misericórdias”, que estejamos sempre a mesa para celebrar “a festa dos redimidos”. Maria, a mãe do Nosso Salvador não se cansa de rogar para que a graça da conversão seja abundante em nosso meio. Seu Filho Jesus já dizia: convertam-se! Essa é sem dúvida a grande graça para os nossos tempos.

Oração de Nossa Senhora das Graças:

Ó Imaculada Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe,
ao contemplar-vos de braços abertos
derramando graças sobre os que vo-las pedem,
cheios de confiança na vossa poderosa intercessão,
inúmeras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa,
embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas inúmeras culpas,
acercamo-nos de vossos pés para vos expor, durante esta oração,
as nossas mais prementes necessidades.

Concedei, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa,
este favor que confiantes vos solicitamos,
para maior Glória de Deus, engrandecimento do vosso nome, e o bem de nossas almas.
E para melhor servirmos ao vosso Divino Filho,
inspirai-nos profunda aversão ao pecado e dai-nos
coragem de nos afirmar sempre como verdadeiros cristãos. Amém – (Rezar 3 Ave Marias). Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós.

domingo, 13 de setembro de 2020

Perdoar sempre!


“Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?’ Jesus respondeu: ‘Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete’”.

Qualquer criança é capaz de fazer esse cálculo: 70x7=490. Acredito que essa resposta não agradou a Pedro. Imagino o Apóstolo dizendo:

 - O que ele quer dizer com isso? 70x7?! Ele dever achar que eu não sei fazer contas?!

A questão não é tão simples, até porque algumas coisas na religião são bem diferentes da matemática! Quando uma pessoa nos ofende, e se arrepende do que fez, acabamos perdoando. E quando essa mesma pessoa nos ofende de novo? “Ele se arrependeu”, diz um amigo, e você querendo fazer a coisa certa, perdoa. Foi difícil! Mais se isso se repetir pela terceira vez? E se agora ele fez a mesma coisa? Nem pensar! Isso é demais! Tudo tem um limite. Pedro pensava dessa forma. Tanto que sua pergunta já é bem generosa: “Até 7 vezes? ”. Há um valor simbólico atribuído ao sete: plenitude, perfeição. Chegado a isso, basta! O que então significa 70x7? De uma forma bem simples: PERDOAR SEMPRE.

No Antigo Testamento, encontramos uma sentença semelhante: “Se Caim será vingado sete vezes, Lamec o será setenta e sete vezes”. Essa expressão se refere a um tempo onde a vingança parece ser a medida. A vingança é um ato de retribuir o mal com uma medida ainda maior a quem supostamente nos tenha causado uma dor. É como um castigo pelo sofrimento causado. Ela pode assumir um caráter cruel e desproporcional ao ato causado. Veja os exemplos:

“Um homem foi assassinado e teve o corpo queimado, na noite desta segunda-feira (10), em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Segundo a polícia, o motivo do crime foi VINGANÇA. O corpo carbonizado da vítima foi encontrado em um terreno no bairro Vila Sônia. Ele tinha 32 anos e foi preso em 2005 por roubo. Além disso, o rapaz se envolveu em um crime recentemente”. (http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/03/homem-e-assassinado-e-carbonizado-por-vinganca-em-praia-grande-sp.html)

“O chefe da polícia local, Mohammad Ali Gandapur, disse à BBC que um dos acusados fez uma reclamação aos anciãos do vilarejo alegando que dois homens tiveram relações sexuais com sua mulher. Ele foi aconselhado a se separar da esposa, mas, em vez disso, resolveu se VINGAR. Juntamente com quatro homens, ele invadiu a casa de um dos homens que teria se relacionado com a mulher para matá-lo”.

(http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/06/110614_paquistao_mulher_mdb.shtml)

 

“O soldado da Polícia Militar que foi baleado em um bar do bairro Anchieta, na região centro-sul de Belo Horizonte. Ele pode ter sido vítima de VINGANÇA”.

.(http://noticias.r7.com/minas-gerais/policial-militar-baleado-em-bar-pode-ter-sido-vitima-de-vinganca-16042014)

Essas notícias nos levam a crer que alguns continuam vivendo sob a lei de Lamec. Até onde pode chegar à vingança, o ódio e a morte? Com toda certeza, a um abismo sem fim, revelando o que há de pior no ser humano. Você já deve ter ouvido a expressão: “a vingança é um prato que se come frio”. E o que isso pode significar? Que quem quer se vingar, deve observar o seu inimigo para saber exatamente como prejudicá-lo. Dessa forma, a pessoa perde tempo, planejando o mal, isso mesmo, planejando o mal. E isso passa a ser a única coisa que ocupa a sua cabeça. Vi isso acontecer com minha mãe. Depois que descobriu que meu pai tinha outra mulher, se sentiu traída, humilhada, ofendida. Seu maior desejo era vê-lo sofrer. Era só o que ela alimentava em seu coração, chegando algumas vezes a sair de casa armada e, caso o encontrasse pelo caminho, dizia ser capaz de pôr fim a vida dele. Graças a Deus, isso mudou devido o perdão!

O desejo de vingança nos faz forte. Isso porque somos movidos por uma força irascível alimentado pelo ódio, ira, rancor, raiva e por ressentimentos. Sobre Isso, Evágrio Pôntico (346-399 d. C.), monge originário da Capadócia nos alerta dizendo:

A difusão da neblina condensa o ar e o movimento da ira torna nublada a mente do irado. A nuvem que avança ofusca o sol e, assim, o pensamento rancoroso entorpece a mente. O leão na jaula sacode continuamente a porta tal como o violento, em sua cela, quando é acometido pelo pensamento da ira.

E por que algumas pessoas se transformam em nossas inimigas? Porque existe oposição, animosidade, intolerância, o outro se torna meu adversário, opositor. Desse modo, enquanto não se por fim a essa laço diabólico, o que podemos esperar é uma luta com consequências desastrosas.

No sermão da montanha, Jesus nos aponta o caminho para transformar essa dura realidade:

"Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!'.Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês! Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos.

       Se continuarmos pagando o mal com o mal, alimentando ódio com mais ódio, tornaremos nossa existência insuportável e esse veneno se espalhará fazendo com que toda a sociedade sofra com essa doença. Posso afirmar que estamos diante de uma grande epidemia espiritual causado pela falta de amor e perdão. Jesus sabia dos males que se espalham quando alimentamos isso. O que Ele nos ensina é uma receita para por fim a essa epidemia. Não deseje o mal e sim o bem. Uma vez estava em uma avenida na cidade de Fortaleza. Eram três faixas. Eu deveria ter ficado na faixa da esquerda para virar, mas acabei em uma faixa que impedia que os carros seguissem. Quando o motorista que estava atrás de mim conseguiu emparelhar com o meu, começou a me dirigir palavras ofensivas. Baixei o vidro do carro e disse: “me perdoe meu amigo, espero da próxima vez não cometer o mesmo erro”. Ele fechou o seu vidro e seguiu em frente. Dessa forma, o mal que poderia ganhar força, se enfraqueceu. Semelhante aconteceu com outra pessoa. Ele avançou a preferencial e quase provocou uma colisão. Em vez de se desculpar, fez um gesto obsceno. O motociclista envolvido na questão voltou pela contramão e quando o alcançou proferiu vários golpes contra ele e o carro. Vários outros casos semelhantes chegam a terminar em morte.

           Outro exemplo é o do pastor batista Luther King Jr. Ele lutou pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos em uma época em que era forte a política segregacionista. Sofreu várias ameaças, atentados e por fim foi assassinado em 1968. Em 17 de Novembro de 1957, em um dos seus discursos ele nos ensinou:

"Infelizmente, a História transforma algumas pessoas em oprimidas e outras em opressoras. E há três formas pelas quais os indivíduos oprimidos podem lidar com a opressão. Uma delas é se levantar contra os opressores com violência física e ódio corrosivo. Mas este não é o caminho. Pois o perigo e a fragilidade deste método são sua futilidade. A violência cria mais problemas sociais do que soluções. Como disse várias vezes, se o negro sucumbir à tentação de usar a violência em sua batalha, as gerações que ainda não nasceram receberão uma longa e desoladora noite de amargura, e nosso principal legado ao futuro será um eterno reinado de caos sem sentido. A violência não é o caminho (...). Então nesta manhã, enquanto olho em seus olhos e nos olhos de todos os meus irmãos do Alabama e de toda a América e do mundo, digo a vocês: 'Eu te amo. Prefiro morrer a odiá-lo'. Sou tolo o bastante para crer que, através do poder deste amor, até os homens mais inflexíveis serão transformados. E aí estaremos no reino de Deus. Poderemos nos matricular na universidade da vida eterna, pois teremos o poder de amar nossos inimigos, abençoar as pessoas que praguejaram contra nós, até decidirmos ser bons com as pessoas que nos odiavam, até rezarmos pelas pessoas que nos usaram."

             A partir desses exemplos, podemos concluir que o perdão tem a ver com decisão. Decido se quero amar, se quero odiar uma pessoa, se quero continuar escravo do que sinto, ou se quero ser livre. É evidente que essa escolha depende da graça de Deus, pois o perdão é dom de Deus. Constantemente, deixamos que as coisas fiquem da mesma forma, preferimos nos afastar quando não conseguimos lidar com a situação, mas interiormente permanecemos da mesma forma, machucado, ferido, desejando ao outro dor semelhante, e por vezes, querendo que se cumpra a lei de Lamec ou de Talião. Devemos compreender isso urgentemente para que a vida seja devolvida.

 

Oração para cura dos ressentimentos:

 

Senhor Deus de infinita misericórdia, que conheces bem o meu interior, que sabes dos males que atormentam a minha alma, de tudo o que se transformou em ressentimento, ódio, vingança ou indiferença. Vem agir em mim, curar o meu interior, devolve-me a saúde espiritual e concede esses mesmos benefícios ao meu corpo, que tem sofrido por causa dessa minha doença. Concede-me Senhor, o dom do perdão, pois reconheço que somente através do perdão, voltarei a gozar da alegria e liberdade que foram perdidos.

Eu lhe entrego Senhor, os meus ressentimentos, minha amargura e frustrações, que não me deixam viver. Põe tua mão sobre minhas dores e sofrimentos e ilumina com tua luz a minha casa, às relações existentes e aqueles que foram quebradas, por causa das brigas, rejeições, disputas, doenças ou morte. Trazei de volta a concórdia, a paz, o amor e a alegria que são frutos do sacrifício redentor do Senhor Jesus.

Que todas às outras relações sejam restabelecidas...aquelas que foram rompidas em outros ambientes e com outras pessoas: na escola, n trabalho, na vizinhança e na sociedade. Vem Espírito Santo, eu trago a imagem de todos aqueles e aquelas que me fazem sofrer, cuja lembrança do ocorrido me atormenta e maltrata. Quero por tua graça romper com essa realidade infernal. Vem Espírito Santo e transforma minha mente, age em minhas emoções, pois quero ser restaurado, renovado, marcado pelo amor e o perdão.  

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Tarde te amei

 

Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

1. Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.

2. Tu estavas dentro de mim e eu fora… “Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior”. Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo…

3. Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez… “Fizeste-me entrar em mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava”. Em meio à luta, recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse: “Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós, com toda a nossa ciência, nos debatemos em nossa carne”. Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha… Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.

4. Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.

5. Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus… de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus… de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus… a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e me dei conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.

6. Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. “Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo”. Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!

7. E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!…

8. Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Todo dia é dia de recomeço

 

 

Quando o Senhor reconduzia os cativos de Sião, estávamos como sonhando. Em nossa boca só havia expressões de alegria, e em nossos lábios canto de triunfo. Entre os pagãos se dizia: ‘O Senhor fez por eles grandes coisas’. Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas; ficamos exultantes de alegria! Mudai, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes nos desertos do sul. Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria” Sl 125 (124).

 

Durante toda a história dos reis, Israel e Judá tiveram que lutar contra outros povos para manter a própria terra. Em 722, porém, os assírios invadiram o reino do Norte e destruíram a capital, Samaria. Acaba, assim, o reino do Norte, e os hebreus que habitavam o reino do Norte são deportados para a Assíria.

           Em 586, 150 depois, é a vez do reino do Sul. A Babilônia havia se tornado um forte império e tinha conquistado a Assíria. Em dois duros golpes conquista a capital do reino do Sul, Jerusalém, e põe fim ao reino. Boa parte da população é levada para a Babilônia, onde fica por 50 anos. É o tempo conhecido como “exílio”.

           Em 539 a Pérsia vence a Babilônia, e o rei persa Ciro permite que o povo judeu volte à sua terra. Começa então a reconstrução do templo de Jerusalém, e se renova a esperança de um novo tempo na vida do povo.

A esperança é uma virtude do Espírito Santo. Ela não decepciona (Cf. Rm 5,5). O que realmente esperamos? Vida nova em Cristo Jesus, como diz o apóstolo “aquele que está em Cristo é uma nova criatura, passou-se  o que era velho eis que tudo se fez novo” (2 Cor 5,17). Não será essa a maior obra que deveríamos esperar? Não somos mais os mesmos quando o Espírito Santo desce sobre nós, e isso cria uma realidade nova no lugar em que vivemos. Posso dizer que o lugar que vivemos também vai mudando graças a transformação que o Espírito Santo vai realizando em nós.

O exílio criou no povo um sentimento de “vale de lágrimas”, de abandono, solidão e tristeza. O Edito de Ciro fez a alegria se renovar. O povo da aliança viu que as lágrimas que semearam produziram uma colheita cheia de alegria. O povo redescobriu um novo sentido para a vida fazendo uma releitura dos principais acontecimentos da sua história associando-os a um novo ritmo celebrativo, porque crer, que Deus caminha na história e nela se dá a conhecer.

Quando falamos de ritmos, nos lembramos logo do tempo. Sabemos que o tempo é recortado: dias, meses e anos. Com isso sentimos o ritmo que nos impõe os recomeços. Se você está lendo esse texto é porque começou ou terminou mais um dia. Cada dia que começa vem acompanhado de um novo respiro de vida. É um novo milagre que surge em cada manhã. Não importa se faz sol ou chuva, se é verão ou inverno, abre-se nesse instante um caminho cheio de possibilidades.

Entre o começo e o fim do dia existe um intervalo marcado pelas escolhas que fazemos. Desde as simples as mais complexas, vemos uma seta que aponta sempre para o fim. Não temos como fugir disso, tudo caminha para o fim. Alguns nessa hora podem está cantando o samba “deixa a vida me levar, vida leva eu” sem qualquer preocupação com o amanhã, apenas de olho no hoje. Porém, eu preciso avisar que apesar de tudo tender para o fim, o importante é como vamos chegar lá. Estaremos felizes com o que fizemos? que rastro teremos deixado para trás? Quem vem depois poderá seguir esses rastros?

Quem sabe algumas pessoas estejam acordando nesse momento a espera de um resultado de exame, de uma prova ou seleção. Outros estejam se preparando para o casamento ou iniciando suas tão esperadas férias. De uma forma ou de outra, como começamos o dia de hoje depende de como terminamos o dia de ontem. Como vivemos o dia de hoje, vai ser importante para dizer como vamos viver o dia de amanhã.

Nesse sentido, dias, meses e anos não são apenas uma fita métrica para indicar que o tempo está passando. Eles são indicadores de como estamos vivendo. Em um outro lugar, o salmista reza expressando o seu desejo de aprender “a contar os dias” (Cf. Sl 90,12). Ele quer a sabedoria de quem aprendeu a viver. A vida passa e quando nos damos conta, já estamos contando histórias de um tempo que passou. Nos transformamos em um baú das memorias que guardamos. Assim, vão surgindo lições que nos ajudam a cruzar o tempo no ritmo da ação de festa.

O mesmo salmista deseja sentir o tempo que passa. Por isso, podemos dizer que o mais importante não é quanto tempo vivemos, se 20, 40, 60 ou 100 anos, e sim como chegamos. A força da nossa vida vai ser medida pelo sentido que torna eterno o tempo. Contamos histórias, celebramos memórias, para transformar o fim em recomeços.

O jovem Filho de Maria viveu pouco, muito pouco, mas ainda hoje se fala dele. Não são poucos que vivem n’Ele e por Ele. Contasse sua história em todos os cantos, seguem seu caminho, testemunham sua força. A forma como ele viveu cruzou o tempo, deu novo sentido ao viver de muitos. Ele vive!

Sua vida vai ser medida pela forma como você vive. Por isso, disse no começo, que cada dia se abre como uma nova possibilidade de fazer e refazer, começar e recomeçar. O dia se fecha como uma chance de recordar como se chegou até aqui. Nesse momento devemos avaliar. E com isso sentir o dia. Noite e dia, e tudo então começa de novo. Como você está hoje?

 

 

sábado, 22 de agosto de 2020

Aprenda a ser como uma montanha

"Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, eternamente firme. Como Jerusalém está toda cercada de montanhas, assim o Senhor envolve seu povo, agora e sempre” Sl 124 (123), 1-2.


A montanha permanece imóvel diante da eternidade, nada é capaz de lhe abalar. Essa imagem é um convite a adquirirmos raiz, solidez, firmeza diante das adversidades. As adversidades surgirão, tentações, dificuldades, dores  e sofrimentos. É inevitável. Mas se a nossa vida estiver enraizada, nossa  experiência com Deus ficará cada vez mais sólida, e nada vai nos abalar. Jesus, através de uma parábola, fala da importância desse enraizamento: “assim todo aquele que ouve estas minhas palavras e as põe em prática será comparado a um homem sensato que construiu a sua casa, sobre a  rocha .caiu a chuva, vieram as enxurradas , sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu pois estava alicerçada da rocha” ( Mt 724-25). 

Uma forma de criar enraizamento é através da vida em comunidade.  A comunidade é formada pelos que seguem e professam a mesma fé em Cristo Jesus. O seguimento vem do encontro com o Cristo crucificado e ressuscitado. Foi esse encontro que fez o apóstolo Paulo deixar tudo para trás para correr atrás do conhecimento de Cristo, seu bem supremo (Cf. Fl 3,8). Esse encontro nasce da proclamação dos crentes que pregam com ou sem palavras despertando a fé nos que vêem e ouvem. Depois essa fé se torna testemunho no lugar em que vivem, esse “Jesus que chama é o mesmo que envia. Ele chama para estar consigo e para sair em missão. Por isso não se pode separar a vida em comunidade da ação missionária, como se uma só dessas dimensões bastasse” (DGAE 18).

Não podemos abdicar de nosso status missionário. O Espírito Santo continua interpelando as comunidades a permanecer ligada à sua raiz fundante. Do seu jeito próprio, no lugar em que foram enraizadas devemos proclamar que Cristo está vivo. Mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos devemos permanecer com ouvidos bem abertos para escutar o Senhor que diz: “IDE”.

Para responder a esse IDE devemos dizer antes “VINDE”. Por isso vamos aprender a orar como uma montanha. Entrar em comunhão com Deus, conhecer a si mesmo, ou seja, sair do mundo para encontrar-se com Deus e depois voltar a ele para melhor servi-lo. Isso é o esforço diário para viver no “ritmo da montanha”. É a vida oração que cria esse ritmo, assim saímos cotidianamente do mundo, acompanhado de Jesus, e para ele voltamos animados pela força do Espírito Santo que é vida e gera vida.

Esse movimento nos transforma em retirantes, homens e mulheres que se retiram todos os dias para criar firmeza, estabilidade, solidez. A própria imagem da montanha nos convida a permanecer constante e inabalável.

Só ir sem vir em vez de nos aproximar, pode nos afastar de Deus. Sem esse caminho de retirantes seremos vencidos pelo cansaço, pelas distrações e pela dureza. Ao longo do dia, precisamos estar a sós, com Jesus. É dele que vem a firmeza que precisamos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Mostra-me tua glória Senhor!

"Moisés disse: ‘Mostrai-me vossa glória’. E Deus respondeu: ‘Vou fazer passar diante de ti todo o meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o nome de Javé. Dou a minha graça a quem quero, e uso de misericórdia com quem me apraz’”. 


Moisés  queria ver a glória de Deus e é atendido. Enquanto Moisés permanece na brecha da rocha Deus passa e diz: “sou o Deus de piedade e compaixão...”. Contemplar a glória de Deus é a expectativa de todo o povo de Israel que espera ansiosamente que Deus se manifeste na história os libertando de toda opressão, marginalização e injustiça social. Para Simeão esse  sonho se realiza quando ele toma o filho de Maria, Jesus de Nazaré nos braços: “Agora soberano senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra: porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste em face de todos os povos, luz para iluminar as nações, e glória de teu povo Israel” (Lc 2,29-32). 

O Espírito Santo faz a escolha dos “pobres de Javé”, os anawin. Sobre eles Deus quer manifestar a sua glória! Esses reconhecem que dependem do Senhor, que devem confiar sua vida a Ele. Zacarias e Isabel, Maria, Simeão, Ana e João Batista façam parte desse povo, que vão até Deus de mãos vazias e voltam de lá enriquecidos pelos dons que recebem do próprio Deus. 

O Espírito Santo se manifesta na vida desses “pobres de Javé”, porque eles não guardam no coração nada que os separe de Deus, sua maior riqueza é a próprio Deus. Essa é uma condição para contemplar a glória de Deus. 

Hoje em dia quando falamos de glória associamos a status, prestígio, fama. Muitas vezes tenho tanta consideração por mim mesmo que quero fazer uma estátua para a glória do meu nome. Dessa forma, ajunto tesouros que a ladrão rouba ou que o tempo estraga (Cf. Mt 6,19s) ou o que ainda é pior, ficamos cheios das riquezas que nosso orgulho quis guardar. Dessa forma, teremos dificuldades de caminhar até Deus. 

A mãe de todos os anawin, a cheia de graça, é nosso maior exemplo. Como resposta ao anjo, Maria responde, “eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra”. Como parte dos “pobres de Javé” Maria canta no Magnificat "saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos”. 

O Senhor não se revela por meio dos mecanismos de poder, isso pode ser comprovado através da encarnação do Filho que se deu na condição de pobreza crescendo na simplicidade da vila de Nazaré, “Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por vós para vós enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8,9).

           



quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Vencendo as provações

 "Se o Senhor não tivesse estado conosco, sim, diga-o Israel, se o Senhor não tivesse estado conosco, os homens que se insurgiram contra nós teriam então nos devorado vivos. Quando seu furor se desencadeou contra nós, as águas nos teriam submergido. Uma torrente teria passado sobre nós. Então, nos teriam recoberto as ondas intumescidas. Bendito seja o Senhor, que não nos entregou como presa aos seus dentes. Nossa alma escapou como um pássaro, dos laços do caçador. Rompeu-se a armadilha, e nos achamos livres. Nosso socorro está no nome do Senhor, criador do céu e da terra" Sl 124 (123).

Este salmo é de ação de graças pela superação das provações, que são descritas sob imagens  tradicionais: feras,  inundações  e ciladas.

Quando decidimos fazer o caminho na direção de Deus devemos nos preparar para a provação. De forma bem simples podemos dizer que toda a provação é uma “prova”. Quando somos submetidos a uma prova devemos nos preparar. A preparação por vezes é muito exigente, requer sacrifícios. Quantos sacrifícios temos que fazer ao longo da vida? Estamos dispostos a fazer sacrifícios? 

Em nosso cotidiano, ouvimos muitas vezes o uso da palavra sacrifício. Por exemplo, muitos pais gastam horas do seu dia trabalhando por seus filhos. Os filhos, por sua vez, gastam horas do seu dia estudando. Tanto os pais quanto os filhos, sacrificam-se pelo que consideram importantes. Existem pessoas que renunciam a um bem ou direito seu por algo que consideram mais valioso. Pode ser uma privação, seja voluntária seja involuntária, por uma coisa digna de apreço e estima. Muitos gastam fortunas por sua saúde, fazem dietas por sua qualidade de vida.

Quantos atletas se privam, voluntariamente, para alcançar um melhor resultado. São Paulo usa essa imagem para falar das exigências de anunciar o Evangelho: "Nas corridas de um estádio, todos correm, mas bem sabeis que um só recebe o prêmio. Correi, pois, de tal maneira que o consigais. Todos os atletas se impõem a si muitas privações; e o fazem para alcançar uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma coroa incorruptível. Assim, eu corro, mas não sem rumo certo. Dou golpes, mas não no ar".

Com isso devemos nos perguntar: quanto sacrifício estou fazendo para continuar seguindo a Deus pelo caminho? A verdade é que sabemos que não é fácil seguir a Deus. Muitas dificuldades vão surgir pelo caminho, mas sabemos que a vida é feita de sacrifícios, por isso, devemos nos preparar. Devemos invocar o Espírito Santo e pedir o dom da fortaleza para sermos capazes de "encarar" os desafios, dificuldades e lutas que vamos enfrentar. Assim começa nossa preparação!

O Espírito Santo faz crescer em nós o dom da fortaleza para suportarmos as provações. Esse é dom dos corajosos, que enfrentam as dificuldades do dia-a-dia de forma sobrenatural. É um impulso do Espírito Santo que nos permite agir de forma heroica na busca da santidade. 

Toda criança cresce alimentando seus sonhos com super-heróis que lutam contra o mal: Homem-Aranha, Super-Man, Thor, Homem de Ferro...é imensa a lista desses personagens que ocupam nossa imaginação. As vezes, pensamos que seria bom termos super poderes para lutar contra os nosso inimigos, colocar os criminosos na cadeia, enfrentar os muitos desafios que se levantam cotidianamente. Mas não é disso que estamos falando quando pensamos em virtudes heroicas. Estamos na verdade, pensando nos santos e santos, mártires, homens e mulheres que se agigantaram diante dos muitos desafios que se levantaram. Se encheram do Espírito Santo é enfrentaram com força o mal. O que seria dos jovens de Turim, se São João Bosco não tivesse doado sua vida por eles? O que seria daquela criança no Campo de Concentração se São Maximiliano Kolbe não tivesse sido fuzilado no lugar de seu pai? Uma multidão de homens e mulheres, ontem e hoje não se edificam com seu exemplo? Esses são nossos heróis. 

Existe um heroísmo que nem sempre percebemos e que é vivido no dia a dia. É o heroísmo dos pais e mães, dos educadores, trabalhadores e trabalhadoras. Daqueles que às vezes precisam suporta os vícios daqueles que amam, que perdoam uma traição, que lutam por aqueles que são explorados, marginalizados e excluídos. Nossos heróis da vida real!

Pode nos ajudar aquilo que São Tiago nos diz: "Meus irmãos, tende  por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que  a vossa fé,  bem provada, leva a perseverança; mas é preciso que a perseverança produza uma obra perfeita, a fim de serdes perfeitos e íntegros sem nenhuma deficiência (...)  Bem aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque uma vez provado receberá a coroa da vida, que o senhor prometeu aos que o amam “(Tg 1,2-4.12).


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Sigo cantando...

            

 "Sobe até Deus". Não esqueça de olhar para as setas, se não você pode se perder no caminho. Leia o que está em cada placa para não ser enganado, iludido e se desviar do caminho.

Começo meu caminho. Passo pela primeira placa e paro para construir um altar: ali adoro a Deus! Preciso destruir os altares que construí através da idolatria, deixando para trás os “outro deuses”, tudo que se coloca no lugar do verdadeiro Deus. Olhando para a placa vejo a pergunta: você crê? Prontamente eu respondo, “Eu creio Senhor!”. Se sou capaz de responder a essa pergunta posso continuar caminhando, seguindo as setas. Cada passo que se segue devo respirar. O respiro dos que creem é chamado oração. A oração nos traz sempre para o altar construído no começo da caminhada. e ali vamos nos encontrando com Deus em cada palavra ou gesto: rosto no chão ou elevado para o alto, de mãos postas e joelhos dobrados, no silêncio ou através de palavras repetidas. De pé, sentado, com braços abaixados ou erguidos. Com música, dança, silêncio ou vibração. A oração é sempre encontro. 

Sigo pelo caminho. Encontro uma segunda seta e nela vejo uma pergunta: qual o seu nome? respondo sem muito trabalho. Com simplicidade escrevo meu nome na placa. De repente vejo que o nome de Deus por toda a placa. Repito esse nome, faço isso muitas vezes. Daí percebo que esse nome não deve sair da minha boca e que não posso  usá-lo em vão. 

Vi que muitos já tinham passado por essa placa. Eles escreveram muitas vezes na placa: cuidado com a mentira! O proveito que se tira da mentira causa sempre um prejuízo. Por exemplo, quando se faz um juramento falso “se invoca Deus como testemunha de uma mentira” (CIC 2151). Dessa forma, se passa a questionar os que invocam a Deus, é até mesmo o próprio Deus. O que atesta a força de um testemunho  não é a verdade?  O próprio Senhor disse, “eu sou a verdade ” (Jo 14,6). Por isso, a verdade é uma pessoa, é Cristo Jesus, Senhor e Salvador, daí quando nosso testemunho é verdadeiro demonstramos a estreita relação entre palavra humana e palavra divina.

Para não falsificar a verdade devemos ter humildade. Aprendi cedo que a humildade é a verdade. Por isso mesmo devemos encontrar a verdade sobre Deus, nós mesmos e o nosso próximo.

Quando me pergunto sobre a verdade a respeito do ser humano me vem à cabeça o que o salmista diz: “Que é o homem – digo-me então –, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo. Rebanhos e gados, e até os animais bravios, pássaros do céu e peixes do mar, tudo o que se move nas águas do oceano” (Sl 8).

Quando me pergunto sobre a verdade a respeito do meu próximo me vem a cabeça a Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-32). A pergunta que se faz ao Divino Mestre é essa, “quem é o meu próximo?”. A parábola não só diz quem é o próximo mais ilustra como devemos agir com o nosso próximo.

É qual a verdade sobre Deus? São João nos diz de forma bem simples: “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Essa é a grande verdade que cura toda mentira.

Cheio de alegria contínuo caminhando. O cansaço chega. Leio o que está escrito na terceira placa e vejo o convite: descanse para renovar suas forças. Depois siga! De repente me dou conta, “é domingo” momento de fazer memória do mistério pascal de Cristo. 

“O repouso assume, assim, um típico valor sagrado: o fiel é convidado a repousar não só como Deus repousou, mas a repousar no Senhor, devolvendo-Lhe toda a criação, no louvor, na ação de graças, na intimidade filial e na amizade esponsal” (DD 16). Me convenço que preciso repousar. Enquanto faço isso recordo o eterno primeiro dia da semana. Minha alegria se transforma em canção: 

Vida ou morte

ou vida de morte?

Parto de dor,

vida sem amor, campo sem flor.

Em vez da abundância das águas, a seca da nascente.

Vento frio, escuridão ao meio dia.

Jovens sem esperança, crianças sem brincar.

Ausência de lar, paz,

cor e calor.

Vida ou morte

ou morte de vida?

Espera-se um novo dia, onde a vida escondida

se torne conhecida.

Onde se abrirão os olhos dos cegos,

o ouvido dos surdos,

a boca dos mudos.

Com mãos fortalecidas e joelhos revigorados

soltaremos de cima dos telhados

o grito de vitória na madrugada

daquele eterno primeiro dia da semana.

É hora de continuar o caminho. 


terça-feira, 18 de agosto de 2020

Siga as setas!


"O Senhor disse a Moisés: “Sobe para mim ao monte. Ficarás ali para que eu te dê as tábuas de pedra, a lei e as ordenações que escrevi para sua instrução. Moisés levantou-se com Josué, seu auxiliar, e subiu ao monte de Deus. E disse aos anciãos: Esperai-nos aqui até que voltemos.Tendes convosco Aarão e Hur. Se alguém tiver um litígio, se dirigirá a eles. Moisés subiu ao monte. A nuvem cobriu o monte e a glória do Senhor repousou sobre o monte Sinai, que ficou envolvido na nuvem durante seis dias. No sétimo dia, o Senhor chamou Moisés do seio da nuvem. Aos olhos dos israelitas a glória do Senhor tinha o aspecto de um fogo consumidor sobre o cume do monte. Moisés penetrou na nuvem e subiu a montanha. Ficou ali quarenta dias e quarenta noites”.

Esse texto se desenvolve com traços das grandes teofanias, ou seja, como manifestação da presença divina. Moisés sobe para encontrar-se com Deus e dessa vez, Deus quer dá ao povo suas instruções “os mandamentos”.

    Os mandamentos são orientações para o bem do povo, um código, uma norma de conduta que favorecem o aperfeiçoamento da relação do povo com Deus e o próximo. A atitude fundamental é a da observância desses mandamentos.

         Uma vez Jesus foi perguntado sobre o que deveria ser feito para herdar a vida eterna, o que prontamente ele responde dizendo: observem os mandamentos (Cf. Mc 10, 17-18). Em outra ocasião, Jesus respondendo a uma pergunta do escriba sobre qual seria o primeiro mandamento ele diz: “O primeiro é: ouve ó Israel, o senhor nosso Deus é o único senhor, e amarás o senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força. O segundo é este: amarás o teu   próximo como a ti mesmo” (Mc 12,29-31). Durante o discurso da montanha ele diz às multidões que  não veio para abolir a lei e os mandamentos, mas sim  levá-los  ao pleno cumprimento (Cf. Mt 5,20).    

  A experiência dos mandamentos é a experiência de um povo que decidiu se encontrar com Deus e permanecer na sua presença cumprindo suas “instruções”. Muitas vezes temos dificuldade de manusear algum objeto e recorremos ao manual de instrução, procuramos na internet para assim usar corretamente aquele objeto. Quando temos dúvida quanto aos direitos e deveres vamos a nossa Constituição para saber como devemos nos comportar diante de tal situação. Assim, Deus não poderia deixar o seu povo caminhando sem suas “instruções”. Daí se quisermos ser o “povo de Deus”, agir corretamente no mundo como povo que pertence a Deus devemos obedecer o que ele nos pede em seus mandamentos. 

Os mandamentos revelam a pedagogia de um Deus que caminha com seu povo, que o educa através dos acontecimentos da vida. Esse povo faz o caminho da libertação. O eixo fundamental de todo o Antigo Testamento é a experiência do Êxodo. Eles começam a caminhar pelo deserto e são muitos os desafios para que cheguem a ser reconhecido como um povo, consagrado para amar só a Iahweh: “Eu serei o seu Deus e vós sereis o meu povo”. A saída do Egito foi só o começo da libertação. Você já se perguntou como foi esse caminho pelo deserto para tantas famílias que saíram do Egito?

         Esse caminho foi feito de alegrias e tristezas, dores, sofrimentos, conquistas, fracassos, decepções, sonhos, derrotas e vitórias. Esse é o caminho de todos nós, seja no deserto de ontem seja no deserto de hoje. 

Nem um caminho se faz sem que se tenha uma indicação, seta ou orientação para se chegar. Para o povo que caminhou ontem e que caminha hoje essa indicação vem dos mandamentos. As dez palavras da lei deviam ser postas em prática por todos, crianças, jovens e adultos. É um imperativo categórico, ou seja, uma ordem que se impõe ao povo para que ele seja o povo da aliança. 

Se você está caminhando veja as setas, elas vão lhe dizer se você está caminhando na direção certa. Siga os mandamentos!