No Ofício da Imaculada Conceição, Maria é
associada ao favo de Sansão. Mas, quem foi Sansão? Quando lemos as
Escrituras, vemos o relato da progressiva ocupação da terra que mana leite e
mel, Canaã. A primeira forma de organização foi em tribos (o livro de Josué
narra a entrada do povo em Canaã e a divisão da terra entre tribos). Cada tribo
era autônoma e possuía um governo próprio. O que unia as tribos era a fé no
mesmo Deus, único, que os tirou com mão forte e poderosa, da escravidão do
Egito. Esse governo por vezes era exercido pelos juízes que procuravam pôr em
prática um sistema igualitário, de acordo com as leis que Deus havia dado
durante a caminhada pelo deserto (De acordo com Ex 20,1-21), ou que se
levantavam para libertar o povo da opressão dos seus inimigos que ameaçavam as
tribos. Sansão foi um desses juízes.
Sansão é filho de Manué, da tribo de Dã. Sua
mãe era estéril e não tinha filhos, mas, o anjo a visitou anunciando que ela ficaria
grávida e que desde o seio materno a criança seria consagrada a Deus. Sansão cresceu
sendo reconhecida por sua força:
“Sansão desceu a Tamna. Chegando perto dos
vinhedos de Tamna, viu um leãozinho que vinha rugindo ao seu encontro. O
espírito de Javé desceu sobre Sansão, e ele, sem ter nada nas mãos, despedaçou
o leãozinho, como se despedaça um cabrito. Sansão, porém, não contou nada a
seus pais (Jz 14,5-6) Algum tempo depois, ele ia a casa da mulher com que ia se
casar, mas antes se desvia do caminho “para ver o leão morto. Encontrou um
enxame de abelhas com mel, na carcaça do leão. Recolheu o mel na mão e foi comendo pelo caminho. Quando
alcançou seus pais, deu-lhes mel, e eles comeram (Cf. Jz 14,8-9).
Quando chega à casa da mulher com quem ia se
casar, ele oferece um banquete. Durante a festa ele propõe uma adivinhação: “do que come saiu comida, e do forte saiu doçura”. No final, todos na festa descobrem que a resposta
é uma pergunta: “O que é mais doce do que o mel, e o que é mais forte do que o
leão?”. Não podemos dizer que essa pergunta encontra uma resposta em
Jesus, o filho de Maria? Aquele que morreu e ressuscitou não é mais doce que o
mel e mais forte que o Leão?
Sansão é a
imagem daquele que vem para nos libertar, Jesus, nosso Salvador, e Maria, a do
favo de Sansão. Deus manifesta a força de um Leão quando envia seu Filho,
nascido de uma mulher (Cf. Gl 4,4) para nos dar o perdão dos pecados. Ele nos
prova como é doce ao paladar sua promessa e mais que o mel na boca, sua lei
(Cf. Sl 119,103).
Maria é o favo de Sansão. Ela traz ao mundo de
amargura, a doçura, de angustia, a paz. Contemplando a vida da Jovem de Nazaré,
poderíamos facilmente dizer, “bem aventurados os que oferecem doçura porque
esses tornarão o mundo mais humano”. O filósofo André Comte-Sponville diz que a “doçura é uma
coragem sem violência, uma força sem dureza, um amor sem cólera”.
Podemos dizer, que Maria é a expressão dessa concepção de doçura. Com coragem, ele acompanha seu Filho até o Calvário.
Diante da violência sofrida por Ele, ela
não amotina os seus a vingar-se, mas, recorda a todos a bem aventurança da paz
que Jesus ensinou. Sua força vem do amor que o Cristo transforma em mandamento:
“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Nas poucas cenas guardadas pelos
autores sagrados, não vemos a mãe de Deus andando com tristeza, desânimo ou inconstância,
mas sim, com uma força profética que vem do seu “faça-se”.
Concluo essa breve reflexão com um aceno da
liturgia que ressalta as virtudes de Maria: “Vossos lábios são como um favo de mel que destila
a suavidade; o leite e o mel estão sobre vossa língua, tanto vossas palavras
são deliciosas”. Rezemos com confiança,
invocando Maria como favo de Sansão.
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