Moisés
recebe esse nome porque foi tirado das águas. Águas manchadas com as lágrimas
de tantas mulheres que choraram a morte de seus filhos ou que amargavam a
opressão que sofriam todos os dias.
Águas que tornavam a terra fértil, boa para o plantio, mas que não
alimentavam a todos da mesma forma. Águas que recordavam ao povo hebreu,
histórias de dilúvios que mesmo trazendo lembranças de destruição, carregavam
também, sinais de esperança, porque alguns poucos sobreviveram, aqueles que
entraram na Arca construída por Noé.
Muito tempo depois, outras águas banham o Filho de Deus, o novo Moisés,
e agora passa a ser sinal de regeneração dos filhos de Deus (Cf. Rm 8, 15; Gal 4,
5-7; Tt 3,5). Das
águas do Nilo vem a salvação do povo cativo no Egito, das águas do Jordão, que
Cristo santificou, vem a salvação de todo o gênero humano!
Das
águas vem aquele que vai guiar o povo por entre as águas em uma caminhada para
a liberdade. Moisés cresceu e tomou partido pelo povo que ele não conhecia tão
bem. Sabia que eles eram explorados, tomou partido e teve que partir porque já
não era mais bem vindo. Foi a beira de um poço (Cf. Ex 2,15-16) que um novo
momento de sua história se deu. Mais uma vez ele toma partido e dessa vez é bem-vindo
na casa de Raguel, pai daquela que viria a se tornar sua esposa.
Aos poucos, aquela criança tirada das águas vai
descobrindo sua vocação. No meio de uma teofania, Deus se revela a Moisés
dizendo: "Eu vi, ouvi...desci para libertar o meu povo...". Esses
verbos demonstram a ação de Deus que se preocupa com o destino do seu povo. A sua
vocação está relacionada a missão a qual Deus o chama. E que missão! Ele
reluta, sabe das enormes dificuldades que vai enfrentar. Acontece uma espécie
de negociação e Deus vence. Moisés aceita a missão.
Não podemos deixar de dizer que todos temos um
chamado, uma missão que cresce no chão da vida, lugar sagrado, que Deus rega
através do Espírito Santo. Assim como Moisés, vamos descobrindo ao longo do
tempo o que significa “vocação” e quanto mais amigos de Deus nos tornamos,
percebemos a força irresistível do seu chamado. Não somos tirados das águas,
mas sim, mergulhados pelo nosso Batismo que faz jorrar em nosso interior “rios
de água viva” (Cf. Jo 7,37).
Vejam que essa última imagem nos lembra, algo
abundante, “rios de água viva’, isso porque aquilo que Deus quer fazer é salvar
o seu povo. De mim, de você, jorra uma água. Somos apenas um poço. Já bebemos
da água de tantos que deram a vida por causa do Evangelho, Pedro e Paulo,
Barnabé, Inácio, Agostinho, Antônio, Francisco, Teresa, Teresinha... deles
ainda jorram água, porque suas vidas se transformaram em um exemplo. Com eles,
a quem chamamos de santos, aprendemos a ir sempre ao encontro de poços que
jorram água da vida, ou seja, a beber do testemunho deles que doaram suas vidas
pelo Reino de Deus.
Deus precisa de mim e de você, Ele precisa de nós
para que sua missão salvadora se realiza no aqui e agora da história. Não
podemos nos tornar uma cisterna rachada (Cf. Jr 2,9-13) que não retêm água!
Para que isso não aconteça devemos ser "amigos de Deus" como Moisés foi
deixando que a água jorre abundantemente. Devemos reter essa água viva como um
poço. O poço era um lugar de encontro porque ali se apanhava água. Jesus se encontrou
com a Samaritana a beira de um poço (Cf. Jo 4) e esse diálogo revela a necessidade
de “pedir a água da vida”. Hoje é você e Jesus. O poço é o seu coração. Ore, e
deixe esse poço cheio de água. Depois vai ser você e o próximo, dois poços, uma
só água. Bebam!
3 comentários:
Preciso aprofundar meu poço para que nunca me falte a água que jorra.
Muito profunda e maravilhosa essa reflexão!
Excelente reflexão e, entre outros, demonstra que nem sempre as travessias são serenas, mas Deus está nos observando, guiando nossos passos e saciando a nossa sede. As provações também trazem ensinamentos, pois, assim como Jesus explicou à samaritana de uma forma acessível, Ele também nos mostra o verdadeiro caminho da salvação e como podemos, através de nosso testemunho, cuidar bem do nosso poço para ofertar água viva aos nossos irmãos.
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