O
nome dos autores dos Evangelhos nos títulos só vai aparecer a partir do século
II. Mais precisamente o título euangelion kata Lourkan (Evangelho segundo
Lucas), encontra-se no papiro 75 datado do ano 175-225, o chamado papiro
Bodmer. Até esta época se conhecia mais “o Evangelho de Jesus Cristo” ou “o
Evangelho de Deus” termos muito presentes nas cartas de Paulo escritas bem
antes dos Evangelhos. Há especulações sobre quem seria o autor deste Terceiro
Evangelho. Alguns o atribuem ao companheiro de viagem de Paulo “aquele Lucas de
quem falam as cartas de Paulo (Cl 4,14; Fm 24; 2Tm4,11). A tradição antiga,
desde Ireneu de Lião (Adv. Haer, III, 1,1; 14,1) até o fim do século II, não
tem dúvidas a este respeito” (FABRI MAGGIONI 1992, p. 20, v.2).
Apesar
de Lucas aparecer como o discípulo anônimo que relata nos Atos alguns episódios
em primeira pessoa, durante a segunda e terceira viagens de Paulo (cf. At
16,10-17; 20—21,18; 27,1—28,16), a pesquisa bíblica atual não está segura de
que Lucas tenha sido companheiro de viagem de Paulo. Pode ser que o autor dos
Atos dos Apóstolos tenha escrito sua obra a partir de algumas informações sobre
a viagem de Paulo (relatos de viagem), mas não necessariamente de um diário
pessoal.
Para
compor o seu escrito, Lucas provavelmente teve acesso a três fontes diferentes.
A primeira é o texto de Marcos. A segunda é outra fonte comum a Mateus,
denominada fonte Q, cuja reconstituição é hipotética, por meio de comparação
entre Mateus e Lucas, eliminando o que é comum com Marcos. A terceira seria as
fontes particulares que provavelmente eram das tradições orais e escritas dos
círculos judeu-cristãos.
A
data de composição do Evangelho de Lucas é estimada pelo ano 80 dC. A queda de
Jerusalém é um dado que serve de referência para a datação. O discurso de Lucas
sobre o fim (cf. Lc 21,20-38) contém indícios sobre o acontecimento da queda de
Jerusalém. Ora, a distinção que Lucas faz entre o fim de Jerusalém e a vinda do
filho do Homem coloca em favor de uma redação do discurso depois da queda da
cidade. Desta forma, considerando o vínculo de Lucas e Marcos (escrito nos anos
70/75), como assim também o seu modo de se referir aos fatos do ano 70, pode
indicar para o evangelho lucano uma data por volta dos anos 80/85.
Pelo
estilo de literatura, percebe-se que Lucas é uma pessoa bem instruída, que
domina muito bem o grego, sua língua materna e, apesar de ser da diáspora,
conhece a Escritura. Não deve ter vivido na Palestina porque nota-se com
nitidez que não conhece bem a sua geografia; por exemplo, confunde a Judéia com
a Galileia (cf. Lc 4,44; 7,17; 23,5).
Destinatário
Tanto
no Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,3) quanto nos Atos dos Apóstolos (At 1,3)
aparece claramente, no prólogo, o destinatário: Teófilo. Quem será esse
Teófilo? Pode ser alguém importante que financiou a obra, como era costume na
época; pode ser também alguma autoridade romana a quem Lucas quer apresentar
Jesus e com isso defender os cristãos, ou pode ser simplesmente um nome
simbólico, pois Teófilo significa amigo de Deus.
No
entanto, lendo o Evangelho e os Atos dos Apóstolos, percebe-se que os
verdadeiros destinatários são as comunidades cristãs espalhadas pelo Império
Romano, ligadas ao mundo gentílico, possivelmente de origem paulina. São
provavelmente comunidades urbanas e lugares no quais é forte o comércio, onde
participam ricos e pobres. Observe que Lucas é o único que narra a conversão de
Zaqueu, que era rico (cf. Lc19, 1-10) e aponta fortemente os perigos da
riqueza.
Estrutura
No
Evangelho de Lucas se encontram oito grandes partes, geralmente aceitas pelos
comentaristas modernos, que são:
Primeira, Lc 1,1-4,
Prólogo, é uma declaração das intensões do autor. Lucas manifesta o que
pretende com sua narração do que Jesus fez e ensinou: um relato fiel com uma
dedicatória a Teófilo. Segunda, Lc
1,5-2,52, Relatos da infância, narração em paralelismo do nascimento e infância
de João Batista e de Jesus.
Terceira, Lc
3,1-4,13: Preparação do ministério público de Jesus, pregação de João Batista,
sua prisão, o batismo e tentação de Jesus como preparação do seu ministério.
Quarta, Lc
4,14-9,50, Ministério de Jesus na Galiléia, vocação e preparação dos discípulos
que serão, mais tarde, os continuadores da obra do mestre; ponto de partida do
grande êxodo de Jesus.
A quinta grande parte
corresponde, por sua vez, Lc 9,51-19,27, Relato da viagem de Jesus para
Jerusalém, típica apresentação lucana do êxodo de Jesus como um grande relato
de viagem; ocupa a parte central do evangelho (cf. Lc 9,51-18,14); alude-se a
narração da viagem a Jerusalém, tomada dos outros sinóticos (cf. Lc 18,15-
19,27).
Sexta, Lc
19,28-21,38, Ministério de Jesus em Jerusalém, a entrada triunfal em Jerusalém
marca o começo do seu ministério no templo. Começa o processo que irá por fim à
vida terrena de Jesus.
Sétima, Lc
22,1-23,56a, Relato da paixão, ponto alto do êxodo de Jesus, na morte coroada
depois pela ressurreição começa a ascenção de Jesus ao Pai. Oitava, Lc 23,56b-24,53, Relatos de
ressurreição, exaltação de Jesus e sua própria glorificação. Envio dos seus
discípulos como testemunhas de sua pessoa como salvador, enquanto Jesus sobe
até o Pai.
A
obra lucana é constituída de dois livros: o Evangelho e os Atos dos Apóstolos.
O propósito de Lucas é escrever sobre a vida de Jesus e o início do cristianismo,
procurando o significado teológico da história. Para ele, a história está
dividida em três partes: o Antigo Testamento, que é o tempo da espera do
cumprimento da promessa; o Evangelho, que é o tempo do cumprimento da promessa,
e os Atos dos Apóstolos, que é o tempo da Igreja.
Para
compreender melhor, visualizamos como Lucas entende a história da salvação a
partir do seguinte quadro:
De
Adão até Jesus |
Do nascimento de Jesus até a ascensão |
Da ascensão de Jesus até a Parusia |
Tempo da Promessa |
Tempo de Jesus |
Tempo da Igreja |
Deus promete a Salvação |
Deus salva em Cristo; ele
cumpre sua promessa em Jesus: “Deus visita o seu povo” |
Deus continua salvando |
AT (a Lei e os Profetas) |
Evangelho de Lucas (A grande
Viagem) |
Atos dos Apóstolos |
A
compreensão da história. Por causa desta compreensão da história, no Evangelho,
Lucas relata a vida e o ministério de Jesus de Nazaré descrevendo desde o seu
nascimento até sua ascensão. O Evangelista conta os acontecimentos da vida de
Jesus, tendo como pano de fundo alguns fatos da história de seu tempo. Lucas
destaca nomes de importantes personagens, como governadores, sumos sacerdotes
etc. O evangelista faz historiografia sagrada; manipula nomes, datas, eventos
em prol de sua teologia.
No
Antigo Testamento, começando por Adão, vem o Tempo da Promessa. Para Lucas,
todo o Antigo Testamento sempre aponta para a aliança de Deus com o seu povo:
Deus promete a salvação. No primeiro momento, Deus deu a Lei a Moisés; no
segundo momento, vêm os Profetas insistindo na justiça e no cumprimento da
aliança. Assim, até João Batista, serviam a Lei e os Profetas. João Batista faz
a passagem do Tempo da Promessa para o Tempo de Jesus. Lucas escreve o
Evangelho e os Atos para completar a Lei e os Profetas.
No
Evangelho, começa o Tempo de Jesus. Em Jesus, se cumpre a Promessa de Deus.
Deus salva em Cristo. O próprio Deus visita o seu povo salvando-o, estendendo a
ele sua mão misericordiosa. Deus entra na história humana por meio de Jesus e,
em Jesus, Deus ama e salva seu povo.
Nos
Atos dos Apóstolos, é o Espírito que acompanha a Igreja. É o Espírito quem
revela a Boa Nova de Jesus. É por meio do Espírito que as pessoas vão aderir a
Jesus, Palavra do Pai, anunciado pelos discípulos. O Espírito Santo aparece em
Atos dos Apóstolos inúmeras vezes. É o protagonista do livro, onde atuam dois
grandes representantes da Igreja: Pedro e Paulo. Pedro anuncia a Palavra entre
os judeus e Paulo anuncia a Palavra entre os gentios.
Enfim,
tendo em consideração toda essa historiografia que narra Lucas podemos concluir
que é o Evangelho do Caminho, constituído por uma grande viagem que Jesus
percorreu até Jerusalém, o lugar onde foi crucificado. Tal relato aponta para
uma intenção teológica do autor acerca do lugar da morte de Jesus. Jerusalém é
o centro religioso do judaísmo, e Jesus vai até lá para morrer. De Jerusalém,
partirá a Palavra que vai chegar até os confins da terra (Roma) e isso será
narrado nos Atos dos Apóstolos.
Fonte:
fajopa.com/contemplacao/index.php/contemplacao/article/download/39/39
vocacionalbarnabita.blogspot.com/2015/02/os-evangelhos-nada-afirmam.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário