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quinta-feira, 16 de julho de 2020

O Evangelho de Lucas - parte I


O nome dos autores dos Evangelhos nos títulos só vai aparecer a partir do século II. Mais precisamente o título euangelion kata Lourkan (Evangelho segundo Lucas), encontra-se no papiro 75 datado do ano 175-225, o chamado papiro Bodmer. Até esta época se conhecia mais “o Evangelho de Jesus Cristo” ou “o Evangelho de Deus” termos muito presentes nas cartas de Paulo escritas bem antes dos Evangelhos. Há especulações sobre quem seria o autor deste Terceiro Evangelho. Alguns o atribuem ao companheiro de viagem de Paulo “aquele Lucas de quem falam as cartas de Paulo (Cl 4,14; Fm 24; 2Tm4,11). A tradição antiga, desde Ireneu de Lião (Adv. Haer, III, 1,1; 14,1) até o fim do século II, não tem dúvidas a este respeito” (FABRI MAGGIONI 1992, p. 20, v.2).

Apesar de Lucas aparecer como o discípulo anônimo que relata nos Atos alguns episódios em primeira pessoa, durante a segunda e terceira viagens de Paulo (cf. At 16,10-17; 20—21,18; 27,1—28,16), a pesquisa bíblica atual não está segura de que Lucas tenha sido companheiro de viagem de Paulo. Pode ser que o autor dos Atos dos Apóstolos tenha escrito sua obra a partir de algumas informações sobre a viagem de Paulo (relatos de viagem), mas não necessariamente de um diário pessoal.

Para compor o seu escrito, Lucas provavelmente teve acesso a três fontes diferentes. A primeira é o texto de Marcos. A segunda é outra fonte comum a Mateus, denominada fonte Q, cuja reconstituição é hipotética, por meio de comparação entre Mateus e Lucas, eliminando o que é comum com Marcos. A terceira seria as fontes particulares que provavelmente eram das tradições orais e escritas dos círculos judeu-cristãos.

A data de composição do Evangelho de Lucas é estimada pelo ano 80 dC. A queda de Jerusalém é um dado que serve de referência para a datação. O discurso de Lucas sobre o fim (cf. Lc 21,20-38) contém indícios sobre o acontecimento da queda de Jerusalém. Ora, a distinção que Lucas faz entre o fim de Jerusalém e a vinda do filho do Homem coloca em favor de uma redação do discurso depois da queda da cidade. Desta forma, considerando o vínculo de Lucas e Marcos (escrito nos anos 70/75), como assim também o seu modo de se referir aos fatos do ano 70, pode indicar para o evangelho lucano uma data por volta dos anos 80/85.

Pelo estilo de literatura, percebe-se que Lucas é uma pessoa bem instruída, que domina muito bem o grego, sua língua materna e, apesar de ser da diáspora, conhece a Escritura. Não deve ter vivido na Palestina porque nota-se com nitidez que não conhece bem a sua geografia; por exemplo, confunde a Judéia com a Galileia (cf. Lc 4,44; 7,17; 23,5).

Destinatário

Tanto no Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,3) quanto nos Atos dos Apóstolos (At 1,3) aparece claramente, no prólogo, o destinatário: Teófilo. Quem será esse Teófilo? Pode ser alguém importante que financiou a obra, como era costume na época; pode ser também alguma autoridade romana a quem Lucas quer apresentar Jesus e com isso defender os cristãos, ou pode ser simplesmente um nome simbólico, pois Teófilo significa amigo de Deus.

No entanto, lendo o Evangelho e os Atos dos Apóstolos, percebe-se que os verdadeiros destinatários são as comunidades cristãs espalhadas pelo Império Romano, ligadas ao mundo gentílico, possivelmente de origem paulina. São provavelmente comunidades urbanas e lugares no quais é forte o comércio, onde participam ricos e pobres. Observe que Lucas é o único que narra a conversão de Zaqueu, que era rico (cf. Lc19, 1-10) e aponta fortemente os perigos da riqueza.

Estrutura

No Evangelho de Lucas se encontram oito grandes partes, geralmente aceitas pelos comentaristas modernos, que são:

Primeira, Lc 1,1-4, Prólogo, é uma declaração das intensões do autor. Lucas manifesta o que pretende com sua narração do que Jesus fez e ensinou: um relato fiel com uma dedicatória a Teófilo. Segunda, Lc 1,5-2,52, Relatos da infância, narração em paralelismo do nascimento e infância de João Batista e de Jesus.

Terceira, Lc 3,1-4,13: Preparação do ministério público de Jesus, pregação de João Batista, sua prisão, o batismo e tentação de Jesus como preparação do seu ministério.

Quarta, Lc 4,14-9,50, Ministério de Jesus na Galiléia, vocação e preparação dos discípulos que serão, mais tarde, os continuadores da obra do mestre; ponto de partida do grande êxodo de Jesus.

A quinta grande parte corresponde, por sua vez, Lc 9,51-19,27, Relato da viagem de Jesus para Jerusalém, típica apresentação lucana do êxodo de Jesus como um grande relato de viagem; ocupa a parte central do evangelho (cf. Lc 9,51-18,14); alude-se a narração da viagem a Jerusalém, tomada dos outros sinóticos (cf. Lc 18,15- 19,27).

Sexta, Lc 19,28-21,38, Ministério de Jesus em Jerusalém, a entrada triunfal em Jerusalém marca o começo do seu ministério no templo. Começa o processo que irá por fim à vida terrena de Jesus.

Sétima, Lc 22,1-23,56a, Relato da paixão, ponto alto do êxodo de Jesus, na morte coroada depois pela ressurreição começa a ascenção de Jesus ao Pai. Oitava, Lc 23,56b-24,53, Relatos de ressurreição, exaltação de Jesus e sua própria glorificação. Envio dos seus discípulos como testemunhas de sua pessoa como salvador, enquanto Jesus sobe até o Pai.

A obra lucana é constituída de dois livros: o Evangelho e os Atos dos Apóstolos. O propósito de Lucas é escrever sobre a vida de Jesus e o início do cristianismo, procurando o significado teológico da história. Para ele, a história está dividida em três partes: o Antigo Testamento, que é o tempo da espera do cumprimento da promessa; o Evangelho, que é o tempo do cumprimento da promessa, e os Atos dos Apóstolos, que é o tempo da Igreja.

Para compreender melhor, visualizamos como Lucas entende a história da salvação a partir do seguinte quadro:

De Adão até Jesus

Do nascimento de Jesus até a ascensão

Da ascensão de Jesus até a Parusia

Tempo da Promessa

Tempo de Jesus

Tempo da Igreja

Deus promete a Salvação

Deus salva em Cristo; ele cumpre sua promessa em Jesus: “Deus visita o seu povo”

Deus continua salvando

AT (a Lei e os Profetas)

Evangelho de Lucas (A grande Viagem)

Atos dos Apóstolos

 

A compreensão da história. Por causa desta compreensão da história, no Evangelho, Lucas relata a vida e o ministério de Jesus de Nazaré descrevendo desde o seu nascimento até sua ascensão. O Evangelista conta os acontecimentos da vida de Jesus, tendo como pano de fundo alguns fatos da história de seu tempo. Lucas destaca nomes de importantes personagens, como governadores, sumos sacerdotes etc. O evangelista faz historiografia sagrada; manipula nomes, datas, eventos em prol de sua teologia.

No Antigo Testamento, começando por Adão, vem o Tempo da Promessa. Para Lucas, todo o Antigo Testamento sempre aponta para a aliança de Deus com o seu povo: Deus promete a salvação. No primeiro momento, Deus deu a Lei a Moisés; no segundo momento, vêm os Profetas insistindo na justiça e no cumprimento da aliança. Assim, até João Batista, serviam a Lei e os Profetas. João Batista faz a passagem do Tempo da Promessa para o Tempo de Jesus. Lucas escreve o Evangelho e os Atos para completar a Lei e os Profetas.

No Evangelho, começa o Tempo de Jesus. Em Jesus, se cumpre a Promessa de Deus. Deus salva em Cristo. O próprio Deus visita o seu povo salvando-o, estendendo a ele sua mão misericordiosa. Deus entra na história humana por meio de Jesus e, em Jesus, Deus ama e salva seu povo.

Nos Atos dos Apóstolos, é o Espírito que acompanha a Igreja. É o Espírito quem revela a Boa Nova de Jesus. É por meio do Espírito que as pessoas vão aderir a Jesus, Palavra do Pai, anunciado pelos discípulos. O Espírito Santo aparece em Atos dos Apóstolos inúmeras vezes. É o protagonista do livro, onde atuam dois grandes representantes da Igreja: Pedro e Paulo. Pedro anuncia a Palavra entre os judeus e Paulo anuncia a Palavra entre os gentios.

Enfim, tendo em consideração toda essa historiografia que narra Lucas podemos concluir que é o Evangelho do Caminho, constituído por uma grande viagem que Jesus percorreu até Jerusalém, o lugar onde foi crucificado. Tal relato aponta para uma intenção teológica do autor acerca do lugar da morte de Jesus. Jerusalém é o centro religioso do judaísmo, e Jesus vai até lá para morrer. De Jerusalém, partirá a Palavra que vai chegar até os confins da terra (Roma) e isso será narrado nos Atos dos Apóstolos.

Fonte:

fajopa.com/contemplacao/index.php/contemplacao/article/download/39/39

https://www.vidapastoral.com.br/artigos/temas-biblicos/caminho-aberto-para-o-proximo-introducao-ao-evangelho-de-lucas/

vocacionalbarnabita.blogspot.com/2015/02/os-evangelhos-nada-afirmam.html

 


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