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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A Parábola do Filho Pródigo


A Parábola do Filho Pródigo nos aponta o itinerário para o encontro com aquele que é rico em misericórdia.
            O filho mais novo pede ao pai a parte da herança que lhe cabia. Abandona a casa do pai e gasta tudo...absolutamente tudo! Não tendo mais nada, vai atrás de emprego, e acaba indo cuidar de porcos. A parábola ilustra bem o que o pecado é capaz de fazer com uma pessoa. E isso é importante que você compreenda: o pecado é uma desgraça. Conheci um jovem que morava próximo a nossa comunidade e quis levá-lo para participar, conosco, do grupo de oração. Ele riu, e disse que não tinha tempo para isso. Um dia saindo da missa, esse mesmo jovem me abordou. Fiquei surpreso, pois ele lembrava o meu nome. Pediu-me dinheiro. Sabia que era para usar droga. Sua face apresentava os primeiros traços de desfiguração. Passado um tempo, um jovem aproximou-se do carro que estava dirigindo e me pediu dinheiro. Custei a reconhecer: era aquele jovem que riu do convite que lhe fiz para ir ao grupo de oração. Me deu uma tristeza imensa. Ele já não me conhecia mais. O pecado mudou quem ele era, transformando sua alegria em tristeza. Muitas vezes, o nosso corpo denuncia o que o pecado faz; às vezes, não. Mas, quando abandonamos a casa do Pai, lugar do amor e da misericórdia, nossa alma fica assim, atingida por um sono mortal, perturbador.
            Então o filho cai em si “Pai, pequei contra o céu e contra ti”. Ele faz o seu exame de consciência.  Reconhece o mal que foi ter saído da casa do Pai. Esse passo é muito importante em nosso processo de cura interior, pois examinamos o que fazemos à luz dos preceitos divinos e percebemos a distância que se estabeleceu entre nós e Deus. O que somos e o que devemos nos tornar depende do encontro com o Deus misericordioso, revelado por Cristo, que sempre nos recebe de braços abertos. Em meio ao nosso sono, somos despertados e, diante de nós, aparece um espelho que, à luz do Espírito Santo, faz-nos ver quanto mal o pecado nos faz e o quanto precisamos do perdão de Deus.
            “Na casa do meu pai há pão com abundância... vou voltar e dizer: Pai, pequei contra o céu e contra ti...". Ele admite o erro e toma a firme decisão de voltar à casa do Pai. Esse passo é, sem dúvida, o mais doloroso, pois envolve a aceitação de si mesmoe a dúvida sobre a aceitação por parte dos outros. Uma vez, fazendo um trabalho assistencial com os moradores de rua da minha cidade, perguntei a um deles se ele não tinha casa. Ele me respondeu que sim. Então perguntei porque ele não voltava, e ele disse: “eles não me aceitariam depois do que fiz”. Esse exemplo ilustra a dura decisão que precisamos tomar. Além de reconhecer o erro, precisamos ter coragem de admiti-lo. Devemos estar certos da imensa misericórdia de Deus, “que não leva em conta nossas faltas. Se o fizesse, o que seria de nós? Nele se encontra o perdão” (Cf.Sl 129). Tudo pode ser perdoado desde que haja arrependimento. Um bom exemplo disso é o caso do ladrão ao lado da cruz. Ele admitiu o erro que o levou àquela condenação e reconheceu que Jesus não merecia isso, pois era inocente do crime que lhe havia sido imputado. A sua consciência o acusou diante do juiz que julga com amor, por isso, ouviu o que não esperava: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. O ladrão encontrou a salvação, sendo recebido na eternidade por aquele que espera nosso arrependimento.
            “Pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado seu filho”. Diante do mal que o filho fez a si mesmo, ele decide-se voltar à casa do pai. Quer ser recebido pelo menos como um empregado. A condição em que se encontrava gerou uma mudança de consciência com relação a si mesmo e ao mundo que o cercava. As bebedeiras, orgias, comilanças, orgulho e avareza passaram a causar nele uma tristeza que produziu arrependimento (cf. 2 Cor 7,10). Às vezes, por não querermos enfrentar a realidade, enganamo-nos considerando que tudo vai bem. Criamos desculpas que amenizam nossa culpa e continuamos vivendo como se não tivéssemos feito nada de errado. Mas, chega uma hora, que não suportamos mais essa situação. Do fundo de nossa alma, gritamos: “pequei”.
            O arrependimento exige da pessoa uma relação de confiança na bondade e misericórdia divina. Confessar os pecados é humilhar-se diante da mão poderosa de Deus que não nos pune, mas perdoa. No aspecto jurídico, toda a acusação da qual eu sou culpado, deve ser punida conforme a lei. A experiência com o Cristo ressuscitado, coloca-nos diante de outra lei, imutável, que transcende nossa compreensão, lei que não pune, mas salva, que não condena, mas perdoa,lei do amor, a mesma que fez com que houvesse festa na casa do pai. O anel do dedo, as sandálias e a veste nova são sinais da dignidade que foi restaurada. É importante levar em conta, nesse itinerário, a força dessa palavra: RESTAURAÇÃO. Esse é um ofício do artista que quer fazer com que a obra se assemelhe ao que era antes. Com todo o cuidado, trabalha incansavelmente para que a obra seja contemplada da forma como foi concebida pelo criador. O divino artista trabalha assim, para fazer com que a deformidade causada pelo pecado dê lugar ao “homem novo”, transformado pela força do perdão.
            Um costume antigo, o Mea Culpa, demonstra o reconhecimento da falta e o desejo de ser perdoado por Deus. Eu assumo a culpa diante de quem me julga com misericórdia. O nosso caminho para a conversão depende dessa condição, pois de outra forma, permaneceremos os mesmos. Existe um apelo interior que nos põe nesse caminho, por vezes doloroso, mas fundamental em nossa busca da santidade:
“A conversão interior impele à expressão exterior, com gestos e sinais visíveis, com gestos e sinais de penitência (...) A penitência interior é a reorientação de toda a vida, um retorno, uma conversão a Deus, de todo o coração, a ruptura com o pecado, a aversão ao mal, juntamente com a reprovação das más ações cometidas” (CIC 1421; 1430)
            A boa nova que a Igreja anuncia é essa: Deus vem perdoar os pecados! Aos seus apóstolos ele diz “o que ligares na terra será ligado no céu, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19; 18,18; Jo 20,22s). Esse poder é exercido em nome de Cristo, e o sacerdote quando nos recebe no confessionário faz às vezes do Pai da parábola que celebra com alegria nossa reconciliação. A sentença que se repete constantemente é essa: “esse meu filho estava morto e voltou a viver, estava perdido e foi reencontrado”. Nesse encontro, somos julgados pelo amor, e essa dinâmica do encontro nos traz de volta para a comunhão da qual nos afastamos por causa do pecado.


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